BIOGRAFIA


DADOS PESSOAIS - Padre Cícero Romão Batista nasceu em Crato (Ceará) no dia 24 de março de 1844. Era filho de Joaquim Romão Batista e Joaquina Vicência Romana, conhecida como dona Quinô.


Aos seis anos de idade, começou a estudar com o professor Rufino de Alcântara Montezuma. Um fato importante marcou a sua infância: o voto de castidade, feito aos 12 anos, influenciado pela leitura da vida de São Francisco de Sales.
Em 1860, foi matriculado no Colégio do renomado padre Inácio de Sousa Rolim, em Cajazeiras-Paraíba. Aí pouco demorou, pois a inesperada morte de seu pai, vítima de cólera-morbo, em 1862, o obrigou a interromper os estudos e voltar para junto da mãe e das duas irmãs solteiras (Angélica Vicência Romana e Maria Angélica Romana, sendo esta mais conhecida como Mariquinha).
A morte do pai, que era pequeno comerciante no Crato, trouxe sérios aperreios financeiros à família, de tal sorte que, mais tarde, em 1865, quando Cícero Romão Batista precisou ingressar no Seminário da Praínha, em Fortaleza, só o fez graças à ajuda de seu padrinho de crisma, o coronel Antônio Luiz Alves Pequeno, nome proeminente no município de Crato.
ORDENAÇÃO - Padre Cícero foi ordenado no dia 30 de novembro de 1870, em Fortaleza. Após sua ordenação retornou ao Crato, onde no dia 8 de janeiro de 1871 celebrou sua primeira missa na terra natal. Enquanto o Bispo não lhe dava paróquia para administrar, ficou ensinando Latim no Colégio Padre Ibiapina, em Crato, fundado e dirigido pelo professor José Joaquim Teles Marrocos, seu primo e grande amigo.
CHEGADA A JUAZEIRO - No Natal de 1871, convidado pelo professor Semeão Correia de Macêdo, Padre Cícero visitou pela primeira vez o povoado de Juazeiro (então pertencente a Crato), e aí celebrou a tradicional Missa do Galo.
O padre visitante, de 28 anos de idade, estatura baixa, pele branca, cabelos louros, olhos azuis penetrantes e voz modulada, causou boa impressão aos habitantes do lugar. E a recíproca foi verdadeira. Por isso, decorridos alguns meses, exatamente no dia 11 de abril de 1872, lá estava de volta, com bagagem e família (a mãe, as duas irmãs e uma criada conhecida como Tereza do Padre), para fixar residência definitiva no Juazeiro.
Muitos livros afirmam que Padre Cícero resolveu fixar morada em Juazeiro devido a um sonho (ou visão) que teve, segundo o qual, certa vez, ao anoitecer de um dia exaustivo, após ter passado horas a fio no confessionário do arraial, ele procurou descansar no quarto contíguo à sala de aulas da escolinha onde improvisaram seu alojamento, quando caiu no sono e a visão que mudaria seu destino se revelou. Ele viu, conforme relatou aos amigos íntimos, Jesus Cristo e os doze apóstolos sentados à mesa, numa disposição que lembra a Última Ceia, de Leonardo da Vinci. De repente, adentra ao local uma multidão de pessoas carregando seus parcos pertences em pequenas trouxas, a exemplo dos retirantes nordestinos. Cristo, virando-se para os famintos, falou da sua decepção com a humanidade, mas disse estar disposto ainda a fazer um último sacrifício para salvar o mundo. Porém, se os homens não se arrependessem depressa, Ele acabaria com tudo de uma vez. Naquele momento, Ele apontou para os pobres e, voltando-se inesperadamente ordenou: E você, Padre Cícero, tome conta deles!
APOSTOLADO - Uma vez instalado no lugarejo, formado por um pequeno aglomerado de casas de taipa e uma capelinha erigida pelo primeiro Capelão, padre Pedro Ribeiro de Carvalho, em honra de Nossa Senhora das Dores, Padroeira do lugar, ele tratou inicialmente de melhorar o aspecto do pequenino templo, adquirindo várias imagens com as esmolas dadas pelos fiéis.
Depois, tocado pelo ardente desejo de conquistar o povo que lhe fora confiado por Deus, desenvolveu intenso trabalho pastoral com pregação, conselhos e visitas domiciliares, como nunca se tinha visto na Região. Dessa maneira, rapidamente ganhou a simpatia dos habitantes, passando a exercer grande liderança na comunidade.
Paralelamente, agindo com muita austeridade, cuidou de moralizar os costumes da população, acabando pessoalmente com os excessos de bebedeira e a prostituição. Restaurada a harmonia, o povoado experimentou, então, os primeiros passos de crescimento, atraindo gente da vizinhança curiosa por conhecer o novo Capelão. Para auxiliá-lo no trabalho pastoral, Padre Cícero resolveu, a exemplo do que fizera Padre Ibiapina, famoso missionário nordestino, falecido em 1883, recrutar mulheres solteiras e viúvas para a organização de uma irmandade leiga, formada por beatas, sob sua inteira autoridade.
MILAGRE - Um fato incomum, acontecido em 1º de março de 1889, transformou a rotina do lugarejo e a vida de Padre Cícero para sempre.
Naquela data, ao participar de uma comunhão geral, oficiada por ele na Capela de Nossa Senhora das Dores, a beata Maria de Araújo ao receber a hóstia consagrada, não pôde degluti-la, pois a mesma se transformou em sangue.
O fato se repetiu outras vezes, e o povo achou que se tratava de um novo derramamento do sangue de Jesus Cristo e, portanto, era um milagre autêntico.
As toalhas com as quais se limpavam a boca da beata ficaram manchadas de sangue e passaram a ser alvo da veneração de todos.
REAÇÃO DA IGREJA - De início, Padre Cícero tratou o caso com cautela, guardando inclusive sigilo por algum tempo. Os médicos Marcos Madeira e Idelfonso Correia Lima, e o farmacêutico Joaquim Secundo Chaves foram convidados para testemunhar as transformações, e depois assinaram atestados afirmando que o fato era inexplicável à luz da ciência. Isto contribuiu para fortalecer no povo, no Padre Cícero e em outros sacerdotes a crença no milagre.
O povoado passou a ser alvo de peregrinação: as pessoas queriam ver a beata e adorar os panos tintos de sangue. O professor e jornalista José Marrocos, desde o começo um ardoroso defensor do milagre, cuidou de divulgá-lo pela imprensa.
A notícia chegou ao conhecimento do bispo D. Joaquim José Vieira, irritando-o profundamente. Padre Cícero foi chamado ao Palácio Episcopal, em Fortaleza, a fim de prestar esclarecimentos sobre os acontecimentos que todo mundo comentava.
Inicialmente, o bispo ficou admirado com o relato feito por Padre Cícero, porém depois, pressionado por alguns colegas de batina que não aceitavam a idéia do milagre, mandou investigar oficialmente os fatos, nomeando uma Comissão de Inquérito composta por dois sacerdotes de reconhecida competência: os padres Clicério da Costa Lobo e Francisco Ferreira Antero.
Os padres comissários vieram, passaram 15 dias investigando os fatos, assistiram às transformações, examinaram a beata, ouviram testemunhas, conversaram com os médicos, e depois concluíram que o fato era mesmo divino. Mas o bispo não gostou desse resultado, e nomeou outra Comissão, constituída pelos padres Antônio Alexandrino de Alencar e Manoel Cândido.
A nova Comissão agiu rapidamente. Em apenas dois dias convocou a beata, submeteu-a a pressões psicológicas, deu-lhe a comunhão e como nada de extraordinário aconteceu, concluiu: Não houve milagre!
Este novo resultado foi do inteiro agrado do bispo, mas o povo, professor José Marrocos, Padre Cícero e todos os outros padres que acreditavam no milagre protestaram.
Com a posição contrária do bispo, criou-se um tumulto, agravado quando o Relatório do Inquérito foi enviado à Santa Sé, em Roma, e esta confirmou a decisão tomada pelo bispo.
Todos os padres que acreditavam no milagre foram obrigados a se retratar publicamente, ficando reservada ao Padre Cícero uma punição maior: a suspensão de ordem.
Durante toda sua vida ele tentou revogar essa pena, todavia foi em vão. Aliás, ele até que conseguiu uma vitória em Roma, quando lá esteve em 1898. Entretanto, o bispo, por intransigência, manteve-se irredutível na decisão tomada inicialmente.
Cem anos depois o milagre de Juazeiro passou a ser exaustivamente estudado por cientistas, historiadores, parapsicólogos e até mesmo muitos padres, e as conclusões apontam para a inexistência de fraude ou embuste, como muitos segmentos da Igreja até então supunham. Há quem considere o fenômeno (inclusive padres) como sendo um milagre eucarístico.
No momento encontra-se em curso um processo visando à reabilitação histórica e eclesiástica de Padre Cícero, solicitado pelo próprio Vaticano e conduzido pelo bispo D. Fernando Panico, da Diocese do Crato.
VIDA POLÍTICA - Proibido de celebrar, Padre Cícero ingressou na vida política. Como explicou no seu Testamento, o fez para atender aos insistentes apelos dos amigos e no momento histórico em que os juazeirenses esboçavam um movimento de emancipação política.
Conseguida a independência de Juazeiro, em 22 de julho de 1911, Padre Cícero foi nomeado Prefeito do recém-criado município. Além de Prefeito, também ocupou a Vice-Presidência do Ceará.
Sobre sua participação na Revolução de 1914 ele afirmou categoricamente que a chefia do movimento coube ao Dr. Floro Bartolomeu da Costa, seu grande amigo. A Revolução de 1914 foi apoiada pelo Governo Federal e tinha o objetivo de depor o Presidente do Ceará, Cel. Franco Rabelo. Com a vitória da Revolução, Padre Cícero reassumiu o cargo de Prefeito, do qual havia sido retirado pelo governo deposto, e seu prestígio cresceu. Sua casa, antes visitada apenas por romeiros, passou a ser procurada também por políticos e autoridades diversas.
Era muito grande o volume de correspondências que Padre Cícero recebia e mandava. Não deixava nenhuma carta, mesmo pequenos bilhetes, sem resposta, e de tudo guardava cópia. O grande acervo de cartas e documentos do Padre Cícero constitui hoje excelente fonte de estudos desenvolvidos por muitas universidades do Brasil e do Exterior. Boa parte dessa documentação passou muito tempo trancada a sete chaves no Palácio Episcopal da Diocese do Crato e somente a partir de 2001, com a nomeação do bispo D. Fernando Panico o acesso foi franqueado aos pesquisadores.
ENCONTRO COM LAMPIÃO - Com respeito a Lampião, Padre Cícero encontrou-se com ele em 1926. Aconselhou-o a deixar o cangaço, e nunca lhe deu a patente de Capitão, como foi dito em alguns livros. Na verdade, Lampião veio a Juazeiro a convite do deputado Floro Bartolomeu para ingressar no Batalhão Patriótico e combater a Coluna Prestes. É possível que ele tenha usado o nome do Padre Cícero para tal, pois Lampião jamais recusaria um pedido de Padre Cícero. Dr. Floro não pôde receber Lampião e seu bando, pois já se encontrava no Rio de Janeiro para onde fora doente, chegando a falecer, coincidentemente, na época em que o famoso cangaceiro estava em Juazeiro. Como insistia em receber a patente de Capitão prometida por Dr. Floro, um dos secretários de Padre Cícero (Benjamim Abraão), convenceu o agrônomo Pedro de Albuquerque Uchoa, único funcionário público federal residente em Juazeiro, a assinar um documento por eles mesmos forjado, concedendo a famigerada patente que tantos aborrecimentos trouxe ao Padre Cícero, a quem muitos escritores atribuem a autoria.
A verdade é que mais tarde Dr. Uchoa foi chamado a Recife para se explicar junto às forças armadas sobre a concessão da patente, e ele, naturalmente temendo ser punido, não encontrou outra solução senão atribuir tudo ao Padre Cícero, certo de que ninguém seria capaz de repreender aquele virtuoso e respeitado sacerdote. Quem conhece a índole do Padre Cícero sabe perfeitamente que ele seria incapaz de praticar ato tão abjeto.
IMPORTÂNCIA - Padre Cícero é o maior benfeitor de Juazeiro e a figura mais importante de sua história. Foi ele quem trouxe para Juazeiro a Ordem dos Salesianos; doou os terrenos para construção do primeiro campo de futebol e do aeroporto; construiu as capelas do Socorro, de São Vicente, e a Igreja de Nossa Senhora das Dores (atualmente Basílica Menor); incentivou a fundação do primeiro jornal local (O Rebate); fundou a Associação dos Empregados do Comércio e o Apostolado da Oração; realizou a primeira exposição da arte juazeirense no Rio de Janeiro; incentivou e dinamizou o artesanato artístico e utilitário, como fonte de renda; incentivou a instalação do ramo de ourivesaria; estimulou a expansão da agricultura, introduzindo o plantio de novas culturas; contribuiu para instalação de muitas escolas, inclusive a famosa Escola Normal Rural, Colégio Salesiano e o Orfanato Jesus Maria José; socorreu a população durante as secas e epidemias, prestando-lhe toda assistência e, finalmente, projetou Juazeiro no cenário político nacional, transformando o pequeno lugarejo numa das mais importantes cidade do interior nordestino.
Os bens que recebeu por doação, durante sua quase secular existência, foram doados à Igreja, sendo os Salesianos e a Diocese do Crato seus maiores herdeiros.
Ao morrer, no dia 20 de julho de 1934, aos 90 anos, seus inimigos gratuitos apregoaram que morto o ídolo, a cidade que ele fundou e a devoção a sua pessoa acabariam logo. Enganaram-se. A cidade prosperou e a devoção aumentou. Até hoje, todo ano, religiosamente, no Dia de Finados, uma grande multidão de romeiros, vinda dos mais distantes lugares do Brasil, chega a Juazeiro para uma visita ao seu túmulo, na Capela do Socorro.
Padre Cícero é uma das figuras mais biografadas do mundo. Sobre ele já foram editados mais de trezentos livros, sem se falar nas matérias que são publicadas freqüentemente na imprensa. Ultimamente sua vida vem sendo estudada por cientistas sociais do Brasil e do Exterior, sendo tema frequente de trabalhos acadêmicos.
Não foi ainda canonizado pela Igreja, porém é tido como santo por sua imensa legião de fiéis espalhados pelo Brasil.
O binômio “oração e trabalho” era o seu lema. E Juazeiro é o seu grande e incontestável milagre. Em março de 2001, em eleição promovida pelo Sistema Verdes Mares de Televisão, Padre Cícero foi escolhido O CEARENSE DO SÉCULO.

BIBLIOGRAFIA
DELLA CAVA, Ralph. Milagre em Joaseiro. 2ª ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1985.
FORTI, Maria do Carmo P. Maria de Araújo, a beata do Juazeiro. São Paulo: Edições Paulinas, 1991.
GUEIROS, Optato. Lampeão. 2 ed. São Paulo, 1953.
MENEZES, Fátima. Lampião e o Padre Cícero. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 1985.
OLIVEIRA, Amália Xavier de. O Padre Cícero que eu conheci. 3 ed. Recife: Editora Massangana, 1981.
SOBREIRA, Azarias. O Patriarca de Juazeiro. Petrópolis: 1968.


ENTREVISTA BIOGRÁFICA COM PADRE CÍCERO


Entrevista-montagem organizada por Daniel Walker mediante pesquisa feita em cartas, documentos e livros

01. Qual o seu nome completo e de quem o senhor é filho?
- Cícero Romão Batista, filho legítimo dos falecidos Joaquim Romão Batista e dona Joaquina Vicência Romana.

02. Onde e quando nasceu?
- Nasci na cidade de Crato, Estado do Ceará, no dia 24 de março de 1844.

03. Onde, quando e por quem foi ordenado?
- No Seminário da Praínha, em Fortaleza, no dia 30 de novembro de 1870, por Dom Luís Antônio dos Santos, primeiro bispo do Ceará.

04. Qual o motivo de sua castidade perpétua?
- Em virtude de um voto por mim feito, aos 12 anos de idade, pela leitura nesse tempo que eu fiz, da vida imaculada de São Francisco de Sales.
05. Qual o seu conceito de Deus?
- Deus está sobre tudo e é providência até das folhas que caem das árvores. E é certo: o bem que Ele não nos der, não o teremos; e o mal de que não nos livrar, virá sobre nós. Deus é dono de todas as coisas e dirige o homem por caminhos que só Ele sabe. Deus nunca deixou trabalho sem recompensa, nem lágrimas sem consolação. Deus é o Criador de todas as coisas, ainda as mínimas, é Autor absoluto de todo o bem e de toda graça. Só Deus nos basta.

06. Dê a sua opinião sobre o demônio.
- O demônio nunca deixou de procurar destruir toda obra de Deus.

07. Qual é a melhor religião?
- Não há mais dúvida de que a religião boa é a nossa, a Católica Apostólica Romana.

08. O senhor já fez mal a alguém?
- Nunca fiz mal a ninguém, nem a ninguém votei ódio ou rancor.

09. O senhor cobrava algum dinheiro pelos atos religiosos praticados?
- Desde minha ordenação, mesmo durante o pouco tempo que fui vigário de São Pedro do Crato, nunca percebi um real sequer pelos atos religiosos que tenho praticado como Sacerdote Católico.

10. E o que fazia com o dinheiro dado espontaneamente?
- Todos os dinheiros que me foram dados como oferta a mim unicamente, os tenho distribuído em atos de caridade que estão no conhecimento de todos, bem como em grandes e vantajosas obras de agricultura, cujo resultado tenho aplicado em bens que deixo na maior parte para a Benemérita e Santa Congregação dos Salesianos, a fim de que ela funde aqui no Juazeiro os seus colégios de educação para as crianças de ambos os sexos.

11. Por que, dentre tantas instituições religiosas, o senhor escolheu a Ordem Salesiana como herdeira maior dos seus bens?
- Porque dentre as existentes nenhuma se me afigura mais benemérita e de ação mais eficaz e de caridade mais acentuada do que a dos bons e santos discípulos de Dom Bosco.

12. Qual a razão de sua predileção por Dom Bosco?
- Dom Bosco sabia o segredo de corrigir sem molestar. O seu saber assombrou os centros mais cultos do mundo.

13. Cite alguns dos bens que o senhor deixa para os Salesianos.
- Todas as terras que possuo nos sítios Logradouro, Salgadinho, Mochila, Carás, Pau Seco; sítio Conceição, na Serra do Araripe, município de Crato; os terrenos que possuo na Serra do Araripe e mais o sítio Brejinho; os prédios e a capela em construção na Serra do Horto, com todas as suas benfeitorias; o prédio onde funciona o açougue público desta cidade, sito à Avenida Dr. Floro, antiga Rua Nova; os prédios contíguos à casa de residência da religiosa Joana Tertulina de Jesus, conhecida como beata Mocinha, sitos à Rua São José; o sítio Faustino, sito no município de Crato; o sítio Baixa Dantas, no município de Crato; as fazendas Letras, Caldeirão e Monte Alto, no município de Cabrobó, no Estado de Pernambuco, com todas as benfeitorias e gados nelas existentes; o quarteirão de prédios sitos à Rua  São Pedro, os quais comprei ao Dr. Floro Bartolomeu da Costa; a fazenda Juiz, sita no município de Aurora; o prédio onde funcionou o Orfanato Jesus Maria José, sito à Rua São José; o sítio Fernandes, no município de Crato; o sítio Periperi, no pé da serra de São Pedro; os sítios Santa Rosa e Taboca, no município de Crato; o sítio Rangel, no município de Santana do Cariri.

14. Essa doação tem alguma finalidade específica?
- A finalidade é de abrir escolas em Juazeiro. Os beneficiários não satisfazendo esta única imposição, o patrimônio passará para o Domínio do Vaticano.

15. Deixou alguma coisa para Nossa Senhora das Dores?
- Deixo para a Santíssima Virgem das Dores, desta Matriz de Juazeiro, os seguintes bens: o sítio Porteiras; o sobrado onde Manoel Sabino tem a loja de santos, à Rua Padre Cícero; o prédio onde funciona a Cadeia Pública desta cidade, sito à Avenida Dr. Floro, bem como os demais que se seguem contiguamente à mesma rua; o sítio Palmeira, no município de Ceará Mirim, Estado do Rio Grande do Norte; o sítio Petinga, do município de Touros, no Rio Grande do Norte.

16. Por que nada deixou para os seus parentes?
- Não tenho ascendentes vivos, nem tampouco descendentes, e assim julgo poder dispor dos meus bens que se acham livres e desimpedidos, de acordo com as leis do meu País.

17. Vamos agora entrar num assunto melindroso: a Questão Religiosa. Como ocorreu pela primeira vez o chamado Milagre da Hóstia?
- Temos aqui uma Irmandade do Sagrado Coração de Jesus (o Apostolado da Oração) com muita gente; fazemos a solenidade das primeiras sextas-feiras com missas, comunhões, tudo conforme o regulamento. Nós todos aqui na maior aflição, desenganados de inverno, sem recursos absolutamente nenhum para escaparmos de morrer pela fome, faziam-se romarias, preces, novenas e mais novenas; orava-se pública e particularmente muito porque a aflição de todos era imensa, tendo cada um o justo temor da seca. Chegou a primeira sexta-feira do mês de março, da quaresma do ano de 1889, eu chamo a toda a irmandade, como de costume, para uma comunhão reparadora do mês e todos mais que quisessem tomar parte, para fazermos uma comunhão reparadora grande ao Sagrado Coração de Jesus, segundo a sua divina intenção e para que usasse de misericórdia conosco. Passei toda a noite confessando homens, na igreja, onde passavam também orando seis ou oito mulheres, que faziam parte da irmandade; com pena delas, interrompi o trabalho e fui despachá-las, dando-lhes a comunhão de quatro e meia para as cinco horas, antes dos outros. Quando dei à beata Maria de Araújo, que era a primeira, a sagrada forma, logo que a depositei na boca dela, imediatamente transformou-se em porção de sangue, que uma parte ela engoliu, servindo-lhe de comunhão e outra correu pela toalha, caindo algum no chão. Eu não esperava e vexado para continuar as confissões interrompidas, que eram ainda muitas, não prestei atenção e por isto não apreendi o fato na ocasião em que se deu; porém depois que depositei a âmbula no Sacrário e vou descendo, ela vem entender-se comigo, cheia de aflição e vexame de morte, trazendo a toalha dobrada, para que não vissem, e levantava a mão esquerda aonde nas costas havia caído um pouco e corria um fio pelo braço e ela com temor de tocar com a outra mão naquele sangue, como certa que era a mesma hóstia, conservava certo equilíbrio para não gotejar no chão.

18. O senhor chamou algum médico para testemunhar o fenômeno?
- Dois médicos e um farmacêutico distinto do Crato todos viram e examinaram com o maior escrúpulo e consciência, afirmando a verdade e sinceridade do fato.

19. Mas, a verdade é que a Igreja condenou o milagre.
- De fato, a Igreja condenou, mas a condenação resultou do modo como fizeram o processo aqui no Ceará. Foi empregado tudo, ameaças, seduções de todo modo, os mais refinados sentimentos de compaixão, até as lágrimas de fino cômico. Padre Alexandrino e os outros encarregados de destruir a verdade pegaram uma pobre mocinha e, aterrada, sem saber o que dizia, afirmou horrores, cobrindo tudo de infâmia e dizendo que davam sangue de pinto para se botar nas hóstias, e outros absurdos. Tudo que exigiram que dissesse, ela dizia, e outro servindo de secretário escrevia para ser mandado ao Senhor Bispo, e este à Santa Sé, como documentos fidedignos. Pagaram até a pessoas inconscientes, doando 5.000 réis, vestidos e outros manejos indecentes, fazendo-as dizer calúnias contra mim e outras pessoas. Fizeram como se fez com Joana d'Arc: um processo para um resultado condenatório.
        O Santo Ofício, perante um tal processo, devia condenar como fez, e não podia julgar de outro modo. O processo foi deturpado. O mesmo bispo disse a Mons. Monteiro que tinha arranjado o seu relatório, e na Pastoral declarou que havia juntado outras peças. Tudo fez para destruir o fato do Juazeiro.
        Peço encerrar com esta afirmação este assunto. Jurei, prometi ao Tribunal do Santo Ofício, não falar mais sobre estas cousas.

20. Pessoalmente o senhor acredita no milagre?
- Eu sou obrigado a dizer que é verdade porque fui testemunha muitas vezes. Ainda que exceda a pouca fé minha e de outras pessoas, que não sabemos os excessos de amor do Sagrado Coração de Jesus, fazendo esforços para salvar os homens, não posso duvidar, porque vi muitas vezes.

21. Sendo assim, por que não o sustentou publicamente?
- Não quero de forma alguma sustentar nem defender os fatos ocorridos no Juazeiro, quando já declarei e torno a declarar que uma vez que a Suprema Congregação do Santo Ofício os condenou e reprovou, eu os condeno e reprovo, obedecendo sem restrição nem reserva a sua decisão e decretos, como filho submisso e obediente da Santa Igreja.

22. Alguns escritores disseram que o propalado milagre não passou de um embuste, e até chegam a insinuar a sua participação.
- Perante Deus tenho a minha consciência tranquila. Neste mundo, durante toda a minha vida, quer como homem, quer como sacerdote, nunca, graças a Deus, cometi um ato de desonestidade, seja sob que ponto de vista se possa ou se queira encarar, nem nunca cometi nem alimentei embuste de espécie alguma. Eu ofereço Deus como meu Juiz inteiro em testemunho de minha inocência.

23. Esse milagre de que tanto se fala, de fato lhe causou muitos dissabores. O senhor até chegou a ser suspenso de ordem. Mas, não satisfeitos só com isto, queriam os seus superiores hierárquicos impedir a visita dos romeiros à sua casa, e isto o senhor não aceitou. Por quê?
- Não posso fechar as portas de minha casa aos que me vêm visitar. Não recebê-los seria não somente imperdoável descortesia, mas uma ingratidão inominável. São amigos meus que vêm de muito longe, com sacrifícios de toda sorte, render seu preito de veneração a Nossa Senhora das Dores.

24. O ato de suspensão de suas ordens teve alguma repercussão?
- Foi um horror terem-me assim roubado o meu sacerdócio e terem-me assim coberto de tão grande injúria no meio da sociedade e no meio da Igreja, com tais penas e opressões tão grandes contra mim e contra os meus. Foi tão grave aos olhos de todos que em uma grande parte do Brasil onde sou muito conhecido, todos ficaram admirados, e outros escandalizados e cheios de indignação por cousa tão inesperada, como se vê dos mesmos jornais de diferentes Estados. 

25. Desde quando vem seu conhecimento com a beata Maria de Araújo?
- Desde a idade de oito anos, quando ela fez sua primeira comunhão.

26. Qual a sua opinião sobre ela?
- A vida desta criatura é uma maravilha de graça de Deus. Sei de consciência, como confessor, que ela era dotada de grande espírito de piedade e de temor de Deus. Uma das almas mais enriquecidas de graças de Deus que já conheci.

27. É verdade, que depois das repetições do fenômeno das hóstias que se transformavam em sangue, a beata Maria de Araújo passou a ser alvo de constantes romarias?
- Aqui nunca houve romaria a Maria de Araújo, mas somente ao Santíssimo Sacramento por suas manifestações aqui ocorridas, e a Nossa Senhora das Dores, em cuja capela se tinham dado estes fatos que despertaram a Fé e a Piedade do povo, que vindo aqui como ainda hoje o fazem, não procuravam somente outra coisa senão se reconciliar com Deus, se confessar, benzer objetos de piedade e cuidar da salvação somente. E quanto a Maria de Araújo, desde o processo continuou reclusa por muito tempo por ordem do Senhor Bispo, mesmo na Casa de Caridade do Crato, três léguas de Juazeiro, e tanto lá como aqui, desde a sua volta, sempre procurou evitar visitas.

28. Em virtude do seu comportamento na famosa Questão Religiosa seus superiores hierárquicos chegaram a acusá-lo de fazer pregações contrárias aos preceitos da Igreja. O senhor é mesmo revoltado com a Igreja?
- É uma grandessíssima calúnia dizer que tenho revoltas contra a Igreja. Eu nunca tive dúvidas sobre a Fé Católica; nunca disse nem escrevi, nem em cartas particulares, nem em jornais, nem em qualquer escrito nenhuma proposição falsa, nem herética, nem duvidosa, nem coisa alguma contra o ensino da Igreja. Nosso Senhor sabe que com sua graça nunca desobedeci, nem pratiquei, nem ensinei coisa alguma contra o ensino da Santa Igreja e da Moral Cristã. Não preguei às escondidas e Nosso Senhor me justificará. Quem não ouvir e obedecer a Igreja deve ser tido como pagão e publicano; fora da Igreja não há salvação. Eu condeno tudo o que a Santa Igreja condena, sigo tudo o que ela manda como a Deus mesmo. Graças à bondade e misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo minha fé na doutrina ensinada pela Santa Igreja é viva, inteira e pura, pela qual, ajudado na graça divina, darei, se preciso for, a própria vida.

29. Em que data o senhor teve audiência com o Papa, em Roma?
- No dia 6 de outubro de 1898, ao meio dia, dia de São Bruno.

30. Quem o apresentou ao Papa?
- Fui apresentado por Monsenhor Cagiano de Azevedo e falei a sós ao Santo Padre e lhe ofereci um rosário de ouro da Santíssima Virgem, e ele benzeu dois crucifixos que intencionei dar ao meu Bispo, o Senhor Dom Joaquim, e o outro ao Senhor Bispo de Olinda, Dom Manoel.

31. Como o senhor foi tratado em Roma?
- Com muita consideração e com a melhor boa vontade fui tratado em Roma. Apresentei-me ao Santo Tribunal do Santo Ofício em várias sessões, julgaram-me inocente, dando-me absolvição se por ventura incorresse em alguma censura, ficando absolvido de todas, e mandaram-me para o meu Domicílio - o Juazeiro -, para aqui mesmo celebrar. Requeri ao Santo Padre a faculdade de Oratório Privado, alegando o estado de cegueira e de doença de minha mãe e a Santa Congregação dos Bispos de Trento me concedeu por um Rescripto Apostólico, o qual o Senhor Dom Joaquim não quis dar o visto e nem o considerou em nada.

32. É verdade que o senhor foi nomeado Capelão em Roma?
- Fui nomeado Capelão pelo Eminentíssimo Senhor Cardeal Parrochi, na Igreja de São Carlos, em Roma, depois da absolvição do Tribunal. Se eu ficasse em Roma me dariam mais faculdades.

33. E como o Bispo o recebeu, depois que o senhor voltou de Roma, absolvido?
- Voltando de Roma na melhor boa fé, o Senhor Bispo quis retirar-me de Juazeiro, e tendo a Santa Sé dado-me positivamente a faculdade de aqui morar e aqui celebrar, ele, entretanto, não fez caso da prescrição da Santa Sé e tratou de continuar a proibição de celebrar no Juazeiro. Podia celebrar em outra parte. Tirou-me a faculdade de Oratório Privado. Eu, não obstante o Secretário da Congregação dos Bispos de Trento me ter dito que, no caso de ele fazer oposição, reclamasse para a Santa Sé, eu, que nunca quis fazer questão, calei-me.

34. Sendo assim, de nada adiantou sua viagem a Roma!
- De nada, pois, aproveitou-me ter ido a Roma, ter-me submetido a tudo o que o Santo Ofício quis de mim, como sacerdote, nem ter sido absolvido de todas as penas.

35. O senhor alguma vez desejou ser político?
- Nunca desejei ser político; mas em 191l, quando foi elevado o Juazeiro, então povoado, à categoria de Vila, para atender aos insistentes pedidos do então Presidente do Estado, o meu saudoso amigo Comendador Antônio Pinto Nogueira Accioly, e para evitar, ao mesmo tempo, que outro cidadão, na direção política deste povo, por não saber ou não poder manter o equilíbrio de ordem, até esse tempo mantido por mim, comprometesse a boa marcha desta terra, vi-me forçado a colaborar na política.

36. Como foi seu comportamento na política?
- Apesar das bruscas mutações da política cearense, sempre procurei conservar-me em atitude discreta, sem apaixonamentos, evitando sempre as incompatibilidades que pudessem determinar choques de efeitos desastrosos. Para conseguir isto, muitas vezes tive de me expor ao conceito de homens sem ideias bem definidas.

37. Por quanto tempo o senhor esteve na política?
- Após a queda do governo Accioly, por motivo de ordem moral, retraí-me da política, mantendo, entretanto, relações de cordialidade com o governo Franco Rabelo, sendo até eleito Terceiro-vice-presidente do Estado. E o meu amor à ordem foi tão manifesto que a despeito da má vontade do partido Dominante para comigo, não hesitei em atender ao pedido da população desta terra e autorizar que o meu nome fosse apresentado para voltar ao cargo de Prefeito deste município, naquele mesmo governo que me era sobremaneira hostil.
38. O que o senhor acha de eleições indiretas?
- Creio que o nosso processo eleitoral ingressaria pela porta da dignidade nacional se o povo, na sua quase totalidade analfabeto, concorresse simples e unicamente com o seu voto inconsciente para a formação das Câmaras Municipais, ponto de partida de uma eleição indireta, cabendo a estas câmaras as eleições dos prefeitos e das assembleias estaduais que, por sua vez, escolheriam os presidentes de estado e os deputados federais, vindo estes, ao mesmo tempo, elegerem os presidentes da república. Assim teríamos a cristalização do processo eleitoral, adaptado ao nosso atrasado grau de cultura. Deste modo, acredito que os nossos homens públicos ficariam moralmente obrigados a bem desempenhar os mandatos para os quais foram eleitos.

39. E o que se deve fazer com governo ruim?
- Rezar para ele, meu filho, a fim de que venha a governar com justiça.

40. O senhor considera o serviço militar importante?
- A caserna, hoje em dia, é a grande escola do civismo, onde o cidadão vai aprender a mais imprescindível das lições: o culto à nossa Pátria querida.

41. Falemos agora da Sedição de Juazeiro. Apesar de Dr. Floro Bartolomeu da Costa haver declarado que foi ele o chefe e único responsável pelo famoso movimento sedicioso que culminou com a deposição do governo Franco Rabelo, ainda há quem atribua ao senhor a responsabilidade direta.
- Posso afirmar, sem nenhum peso de consciência, que não fiz revolução, nela não tomei parte, nem para ela concorri, nem tive nem tenho a menor parcela de responsabilidade direta ou indiretamente nos fatos ocorridos.

42. Mas dizem que o senhor chegou a pedir a renúncia do Presidente Franco Rabelo.
- Quando, em novembro de 1913, o meu amigo Dr. Floro Bartolomeu da Costa, atual Deputado Federal por esta cidade e diretor político desta terra, de volta do Rio de Janeiro me informou que os chefes do partido decaído haviam resolvido reunir a Assembleia Estadual aqui, por ser impossível a reunião em Fortaleza, em virtude da pressão exercida pelo partido governante, e dar-lhe a direção do movimento reacionário, com a maior lealdade ponderei, em carta reservada ao coronel Franco Rabelo, sobre a vantagem da sua renúncia. E assim procedi porque, sem nada mais de grave propriamente saber, a não ser da reunião da Assembléia, percebi, pelos precedentes de violência do então governo, a possibilidade de uma luta.

43. De qualquer forma seu nome continua ligado ao movimento sedicioso.
- Estou certo de que quando se fizer a verdadeira luz sobre esses fatos, meu nome realçará limpo como sempre foi.

44. Quem foi Dr. Floro para o senhor?
- Meu grande e inolvidável amigo, cuja morte refuto uma grande perda para o Juazeiro, para o Ceará e mesmo para a Nação.

45. O senhor foi a favor da participação dele, inclusive em traje de guerra, na Revolução de 1914?
- Se ele era, naquela época, o comandante-em-chefe de uma revolução, e necessitava estar no campo raso da luta, não poderia se encontrar de cartola, fraque ou mesmo vestido na beca que vestira no dia da sua colação de grau, como médico que era. Tinha que mostrar o que realmente era: homem que lutava em campo aberto, superando a fadiga, comandando, dando ordens, rastejando.

46. Quando a Revolução de 1914 estava realmente decidida e o senhor nada mais podia fazer para evitá-la, como era seu desejo, que conselhos o senhor deu aos comandados de Dr. Floro Bartolomeu?
- Uma recomendação para vocês, meus filhos: não se pode evitar o mal que está à nossa porta, todavia peço que não atirem para matar; os que forem fugindo, deixem ir embora; não peguem no que for alheio; respeitem as mulheres, moças, velhos e viúvas; respeitem as autoridades, especialmente os padres, o Vigário Quintino. Lembrem-se que os velhos merecem nossa atenção. Socorram os feridos; deixem estradas abertas para os fugitivos saírem livremente.

47. Por que o senhor permite que o povo o chame de Santo e de Deus?
- Meu amiguinho, eu não admito que se diga isto em minha presença, mas fique tranquilo, pois os que por aí a fora dizem que eu sou ruim, que eu não presto, são tantos que não dá para equilibrar. Deus está no céu. Eu não sou Deus.

48. O que Juazeiro representa para os romeiros?
- Aqui tem sido um refúgio dos náufragos da vida, tem gente de toda parte que, modestamente, vem abrigar-se debaixo da proteção da Santíssima Virgem. Eu tenho aconselhado sempre a todos que aqui vêm que rezem o Santíssimo Rosário da Mãe de Deus em sufrágio e salvação das almas do purgatório para que ela nos tome e nos guarde.

49. É verdade, que durante o período que antecedeu à independência de Juazeiro, o senhor proibiu o povo de Juazeiro de ir dar feira no Crato?
- Não. Não houve essa proibição, apenas fiz ver, depois de ter feito o possível para evitar prisões, ter falado com os responsáveis pela comuna, para apaziguar os ânimos, que evitassem atritos.

50. O senhor gosta mais de Crato ou de Juazeiro?
- Sou filho de Crato, mas Juazeiro é meu filho.

51. Em 1926 o Bispo lhe ofereceu a oportunidade de anular a pena de suspensão de ordens, desde que o senhor deixasse Juazeiro. Por que o senhor não aceitou a oferta?
- Seria uma calamidade se eu me visse na contingência de abandonar esta cidade, porque, além do mais, acredito e devo dizer que o povo não se conformaria com tal medida, que talvez desse lugar a um movimento de desastrosas consequências.

52. Sendo assim, não há dúvida, o senhor gosta mais é de Juazeiro.
- Sou responsável por este povo. Por ele sacrificarei até minha vida. Juazeiro foi uma cidade feita por mim. Se Deus em pessoa me botou aqui, só Deus pode me retirar.

53. Qual será o futuro da cidade de Juazeiro?
- Depois da minha morte é que Juazeiro irá crescer.

54. Que motivos o levaram a lutar pela instalação do Bispado do Cariri?
- A criação do Bispado do Cariri foi uma inspiração do Céu, benefício de Deus: suas vantagens não precisam de demonstrações, são intuitivas.

55. E por que razão a sede do Bispado deveria ser em Juazeiro?
- Isto não se pergunta, dirá talvez o Crato, no seu orgulho, quiçá legítimo, de ser a cidade mais velha. Entretanto não é assim que o homem põe e Deus dispõe. Há, pois, que opor à pergunta uma circunstância digna de nota e que não pode absolutamente passar despercebida. Obra da providência de Deus, ou coincidência do acaso - o centro do Bispado do Cariri, o ponto equidistante da sua confluência, queiram ou não queiram - é o Juazeiro. É uma verdade inquestionável, e dela se convencerá quem quer que fosse desse um golpe de vista sobre a carta geográfica do Bispado do Cariri. Mas ainda não é tudo. A Providência que deu Loreto à Itália, Lourdes à França, Canindé ao Ceará, também teve seus desígnios dando Juazeiro ao Cariri. A sede, pois, do Bispado do Cariri no lugar que lhe destinou a Providência de Deus. E faça-se a sua vontade.

56. Se o senhor fosse bispo, o que faria?
- Se eu fosse um bispo, eu ia fazer muitas casas de caridade para proteger os órfãos e viúvas, e dava aos homens pobres, pais de família, esmolas, durante o inverno, para eles trabalhar, que é meio de santificação muito grande proteger os pobres. E me entregava para eles estudar grátis e lhes ajudava a comprar os livros e os tratava em suas doenças. Que a Igreja pode fazer isto que tem muita gente por ela. É só pedir que o povo ajuda. Se assim a Igreja fizesse, não tinha tanta pobreza no lugar. A Igreja somos nós! Não é só os padres não!

57. Houve uma época em que o senhor, indignado com a concessão de terras brasileiras a estrangeiros, lançou veemente protesto, inclusive endereçando telegramas às autoridades. Com isto o senhor estaria demonstrando alguma forma de nacionalismo?
- Precisamos de um nacionalismo inteligente, sadio, sem embargo de espírito de cordialidade, de fraternidade mesmo, que deve existir entre as nações, unindo os povos, mas respeitando-se a integridade territorial de cada país, que os seus filhos receberam dos antepassados e devem transmitir intata às gerações vindouras. Mais moço, tudo envidaria no sentido de evitar o preDomínio do estrangeiro no comércio e na indústria de nosso País, com supremacia sobre as nossas terras, por entender descabida, criminosa, esta situação singular de estrangeiros imigrados para a nossa cara Pátria.

58. Quer dizer, que Padre Cícero é contra qualquer interferência estrangeira no Brasil?
- Meu amiguinho, este velho que aqui lhe fala, é visceralmente contrário à concessão de qualquer espécie, notadamente as territoriais, a filhos de outras nações, embora com estas mantenhamos as mais amistosas relações diplomáticas. A exploração das nossas florestas, do nosso solo, das nossas minas e, enfim, de todas as riquezas da nossa Pátria, pertence aos brasileiros e aos seus governantes que trabalham e querem o seu engrandecimento.

59. Qual a sua opinião sobre Dom Quintino, ex-bispo da Diocese de Crato?
- Dom Quintino foi sempre um padre virtuoso e inteligente. Conheci-o desde que chegou ao Cariri, ainda muito moço, para ser Coadjutor do Vigário de Missão Velha. Foi, muitas vezes, meu hóspede e sempre o estimei de coração. Se, em relação a minha pessoa, cometeu alguma injustiça, nem por isto deixou de ser um justo, pois estava convencido que só assim procedia exemplarmente.

60. Que valor tem o professor?
- Todo aquele que ensina é portador de luz para os que não sabem.

61. Quem é pobre na Terra vai ser rico no Céu?
- Se o pobre viver direitinho na Terra vai enricar no Céu.

62. Os ricos também ganharão o céu?
- Os ricos, se quiserem ganhar o Céu, é só viver se confessando, comungando, rezando, praticando a caridade, não andar fazendo mal a ninguém.

63. Qualquer pessoa pode ser santo ou santa?
- Todos ainda podem ser santos, assim queiram e obedeçam ao chamado de nosso bom Deus que, ainda mais do que nós, quer fazer-nos santos com Ele no Céu.

64. A educação religiosa é necessária?
- Sem educação religiosa perfeita não há agremiação que progrida e seja útil a si, à família, à sociedade e à Pátria.

65. O que o senhor acha das guerras entre as nações?
- Que horror é a guerra! Não há dúvida, é o começo do fim. É Deus obrigado a castigar a Terra com severidade.

66. Que conselhos o senhor daria aos alcoólatras?
- Quem bebeu, não beba mais. Quem bebe, obedece a Satanás, e quem obedece a Satanás, não se salva, vai para o inferno. O homem que bebe falta com os seus deveres de pai, de esposo e de amigo. A cachaça é um poderoso agente enviado de Satanás.

67. Que conselhos daria aos homicidas?
- Quem matou, não mate mais. Ninguém tem o direito de ofender o seu semelhante. Só Deus tem o poder de tirar a vida de suas criaturas. O que lucra quem mata os outros? Fica maldito de Deus, sujeito a grandes castigos.

68. Que conselhos daria a quem rouba?
- Quem roubou, não roube mais. Quem rouba vai para o inferno.

69. E a quem mente, que conselhos o senhor daria?
- Quem mentiu, não minta mais. A mentira é filha do diabo, e o mentiroso, seu encarregado.

70. O senhor começou a construção de uma capela na Serra do Horto. Por quê?
- Comecei a construí-la para cumprir um voto que eu e os meus falecidos colegas e amigos, os padres Manuel Felix de Moura, Francisco Rodrigues Monteiro e Antônio Fernandes Távora, então vigário de Crato, fizemos. Fizemos esse voto com o povo desta terra, ao Santíssimo Coração de Jesus, quando apavorados com os resultados das secas de 1889, receávamos, aliás, com razão justificada, que o ano de 1890 fosse também seco.

71. Por que não concluiu a obra?
- Não pude terminar essa obra, é verdade, tão somente para não desobedecer às ordens proibitórias do meu Diocesano, o então bispo do Ceará Dom Joaquim José Vieira. Peço aos beneméritos padres Salesianos que concluam esse templo de acordo com a planta que eu trouxe de Roma e a miniatura em folhas de flandres, que deixo depositada em lugar seguro.

72. O casamento religioso é necessário?
- O casamento religioso é um sacramento indispensável.

73. E o casamento civil?
- O casamento civil é a lei e a segurança da família. Não abençôo quem não casa primeiro no civil. O civil é a lei da Nação, mas é preciso também a união com a Igreja.

74. Que importância tem o rosário?
- Muita gente reza o rosário da Mãe de Deus, porém poucos são os que sabem do valor e da força do mesmo. Quem o faz com devoção estará livre de qualquer mal, porque mesmo querendo o indivíduo prejudicar, Nossa Senhora intervém, evitando qualquer desgraça. Rezem o rosário da Mãe de Deus, que é quem nos poderá livrar das calamidades que a maldade e perversidade dos homens estão atraindo para a Terra. Sejam fiéis em rezar cada dia o rosário da Mãe de Deus, mesmo andando pelas estradas, mesmo doentes. Não deixem um só dia de rezar.

75. E o que dizer da seca do Ceará?
- Só quem viu 77 entre nós, pode avaliar o que seja o flagelo das secas nos sertões do Norte! É uma aflição os horrores da seca; parece que fica deserto o Ceará. Cada cearense deve ser uma trombeta na imprensa e em toda parte, gritando com toda força, pedindo socorro para o grande naufrágio do Ceará. Pode ser que esses governos, que têm dever de salvar os Estados nas calamidades públicas, despertem este clamor e não queiram passar por assassinos, deixando morrer caprichosamente milhares de vidas que podiam salvar e não querem. Estamos certos que só a Providência nos dará remédios.

76. Qual o melhor caminho para a salvação da alma?
- O sacrifício individual tem sido muitas vezes a salvação. Perdoem, e ainda que as nossas paixões não queiram perdoar, perdoem, porque Deus, Nosso Pai, que é dono de nós, manda; e é preciso para nos salvar que perdoemos aos que nos ofendem. Para ganhar o Céu é preciso fazer caridade e não ter inveja de ninguém.

77. O Padre Alencar Peixoto no seu livro Juazeiro do Cariri chegou a duvidar de sua tão propalada castidade. Como o senhor encarou essa acusação?
- Era só o que faltavam dizer contra mim. Até a pouco, atribuíram-me todos os defeitos, mas deixavam comigo a pureza sacerdotal. Agora, arrebatam-me também esta qualidade, e quem o faz, é aquele que comeu muitas vezes comigo na mesma mesa e a quem dispensei todas as atenções que merecem os que nos batem à porta...

78. Foi o senhor quem chamou Lampião a Juazeiro?
- Esse homem veio porque mandaram chamá-lo utilizando o meu nome.

79. Certa vez, Lampião quis morar com todo o seu bando em Juazeiro, e o senhor o convenceu a retirar-se, sem lhe causar desgosto. O que o senhor lhe disse?
- Aqui não pode ser. Esta cidade é um centro de romaria e de devoção. Aconselho e evito o mal. Nesta terra todos trabalham. Vocês terão que trabalhar noutra parte. Na cadeia de Recife está Antônio Silvino, quando poderia estar plantando e criando numa fazenda. Ninguém pode ter um bom fim, fazendo o mal. Nosso Senhor Jesus Cristo fez o bem e morreu na cruz, quanto mais quem pratica o mal. Procurem uma casa e se hospedem, até que eu os recomende para bem longe do Juazeiro.

80. O que o senhor aspira da vida?
- Aspiro a um cantinho esquecido e desapegado de tudo, cuidando só de salvar-me.

81. Onde o senhor quer ser sepultado?
- Na Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no cemitério desta cidade, e que meus funerais sejam feitos com simplicidade, bem como sejam rezadas, pelo eterno repouso de minha alma, doze missas em cada ano; igualmente o mesmo número de missas durante o mesmo tempo pelas almas do purgatório. Deixo a minha propriedade, a fazenda Coxá, encravada nos municípios de Aurora e Milagres, e compreendendo na mesma área, os sítios Coxá propriamente dito, Contendas, Escondido, Taveiras e Bandeiras, com todas as benfeitorias e com todos os meus direitos nas minas de cobre que ditas terras possam conter, bem como o sítio Lameiro, sito no município de Missão Velha, para que sejam vendidos e com a importância adquirida pela venda dessas mesmas propriedades sejam pagas as dívidas que possa deixar quando morrer, as despesas do meu enterramento e os sufrágios de minha alma.

82. O senhor deseja fazer alguma mensagem ou algum pedido especial aos moradores desta terra?
- Aproveito o ensejo para pedir a todos os moradores desta terra, o Juazeiro, muito especialmente aos romeiros, que depois da minha morte não se retirem daqui nem a abandonem; que continuem Domiciliados aqui no Juazeiro, venerando e amando sempre a Santíssima Virgem Mãe de Deus, único remédio de todas as nossas aflições, auxiliando a manutenção do culto e de todas as instituições religiosas que aqui se fundarem, e com especial menção à dos beneméritos Padres Salesianos, que serão os meus continuadores nas obras de caridade que aqui iniciei. Insistindo, peço, como sempre aconselhei, que sejam bons e honestos, trabalhadores e crentes, amigos uns dos outros, e obedientes e respeitadores às leis e autoridades civis e da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, no seio da qual tão somente pode haver felicidade e salvação. Estes conselhos, que sempre os dei em minha vida, não me canso de repeti-los aqui, para que depois de minha morte bem gravados fiquem na lembrança deste povo, cuja felicidade e salvação sempre foram objeto da minha maior preocupação.

83. Ao final desta entrevista, quais as suas últimas palavras?
- No céu pedirei a Deus por vocês todos.
  
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FONTE: Padre Cícero, a sabedoria do conselheiro do sertão, de Daniel Walker