Padre Cícero e Beata Maria de Araujo, no museu-Juazeiro |
A Beata Maria de Araújo, conforme registro Oficial, foi sepultada num túmulo construído pelo Padre Cícero, no interior da nave e no lado direito da Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Juazeiro do Norte. Mesmo condenada a um ostracismo palpável, seu jazigo não estava situado na sacristia, longe dos olhares de quem adentrava a capela, mas, bem no centro da mesma. Ademais, a Beata fora protagonista central do suposto milagre, que praticamente deu vida ao Juazeiro, bem como foi ela o fator desencadeante das romarias que projetaram a acanhada Vila do Joaseiro tornando-a, uma das cidades mais importantes do Nordeste e reconhecida até no exterior, como um local de trabalho, oração e fé. Maria de Araújo fez tremer um bispado e lançou sombras sobre a Igreja, uma Entidade com dezessete séculos de trajetória. A possibilidade de um cisma no catolicismo nordestino, somente não foi pressentido pelo Padre Cícero, em face de sua bondade e o grande amor por sua Igreja, uma Entidade que o maltratou de forma maiúscula, mas, que anteviu, nessa época nevrálgica, que essa divisão não seria difícil, pois, para onde o Padim se inclinasse, seus romeiros o acompanhariam. Portanto, a Beata Maria de Araújo, mesmo morta e aparentemente esquecida poderia ter seu culto despertado a qualquer momento, principalmente por seu túmulo está colocado numa posição estratégica, bem visível e diariamente lembrado pelos romeiros que visitavam a capela. Quem sabe, um belo dia, aquela primeira romaria de 07 de Julho de 1889, muito bem poderia ser reeditada, e, a partir daí transformar-se em devoção? Destarte, Maria de Araújo, mesmo morta
continuava sendo um estorvo no caminho da Igreja, mormente por seu túmulo está colocado numa situação de realce, e, com muito mais projeção do que o próprio altar de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. A capela fora concluída em 1908, todavia, em função das perseguições ao Padre Cícero, ainda não recebera a devida bênção religiosa, episcopal, e, agora, com a presença dos restos mortais da Beata Maria de Araújo, no seu interior, essa bendição devia está totalmente fora dos planos da Igreja. Abençoar a capela com ela lá dentro, impossível (?) Pois foi justamente por isso, que no dia 22 de Outubro de 1930, seus restos mortais foram exumados de forma criminosa, clandestina, e seu túmulo foi destruído sob alegativas tolas de rebaixamento de piso, enquanto seus ossos (os 206 ossos que compõem o esqueleto humano) foram irresponsavelmente e truculentamente jogados numa vala qualquer, ou incinerados, assim como o foram os"paninhos" do pretenso milagre. Nessas alturas dos fatos soa até ridículo, para esse Autor procurar-se em nível de bispado, da diocese do Crato, quem ordenou esse crime de vilipêndio, a premeditada ocultação dos ossos da infortunada Beata Maria de Araújo. Obviamente houve um responsável por esse ato de tamanha intolerância e indisfarçável arrogância, no entanto, o vigário do Juazeiro do Norte, monsenhor José Alves de Lima foi apenas um cumpridor de ordens, ou como se diz no vulgo, o "testa de ferro" de alguém, ou algo mais poderoso. É notório, que a Beata Maria de Araújo, apesar de mergulhada no ostracismo era alguém conhecida no Vaticano. Ela foi a mulher que abalou essa Entidade poderosíssima e seu nome foi citado em expedientes e decretos da Instituição, como foi o caso do fatídico documento assinado pelo cardeal Mônaco, em 04 de Abril de 1894. No que tange ao bispado do Ceará, na época de dom Joaquim, o nome de Maria de Araújo, embora de forma sofrida e ligado a perseguições e punições, sem nenhum exagero foi uma constante. Nesses termos, mandante do crime foi a conveniência, foi a necessidade de se expulsar de dentro da capela os restos mortais de alguém, que apesar do: "viva a Beata Maria de Araújo (viva!); viva o Padre Cícero (viva!)"que lhe são dados hoje, nas procissões e por ocasião das celebrações das missas do dia vinte de cada mês, em lembrança da morte do Padim foi alguém que preocupou, e muito, a Igreja, não só no passado, mas, também agora. É bom deixar claro que o vigário monsenhor Lima cumpriu ordens, enquanto o Vaticano necessitava derriscar a última lembrança da Beata, que continuava bem à vista, e, "seguro morreu de velho". Independente do encontro de algum documento ou alfarrábio puído, que aponte um culpado menor, não se consegue calar-se a interrogação de alguns cidadãos livres, num País laico e democrático:1) Por que a Igreja não lhe devolve os ossos?; 2) Por que ela não pode ter um túmulo, onde os parentes, amigos e admiradores possam reverenciá-la?; 3) Se a Igreja prega amor e perdão, por que isso não reverbera nos castigos impostos a Beata, ao Padim, ou esse amor e perdão são vivenciados na casa e na vida dos outros? Segundo o velho professor de latim desse Autor evocando o filósofo romano Sêneca: "é torpe dizer-se uma coisa e fazer-se outra"! Atualmente, Maria de Araújo recebe vivas efusivos e a sua caridade e pureza são reconhecidos dentro e fora da Igreja. Já é tempo de devolver-lhe os ossos, a fim de que eles descansem em local público e conhecido. Basta de tanto sofrimento!
Nota: Esse texto faz parte de um livro deste Autor, em acabamento - Padre Cícero: Quando a Igreja vai lhe pedir perdão?
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