terça-feira, 28 de agosto de 2018

PADRE CÍCERO E A PARAÍBA Por Junior Almeida

Zabelê é um pequeno município do Sertão da Paraíba, próximo a Monteiro e que faz divisa com o Estado de Pernambuco. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -IBGE- a sua população em 2010 era de apenas 2.075 habitantes distribuídos numa área territorial de 109 km2. O religioso holandês João Jorge Rieltveld, 15º padre do vizinho município São Sebastião do Umbuzeiro, a quem Zabelê pertencia, defende que quando a localidade ainda era uma fazenda, essa ficou abandonada depois da morte do seu proprietário José Raposo em 1850, sendo ocupada anos depois por negros recém-libertados pela Lei Áurea de 13 de maio de 1888. Conta-nos o padre Jorge que quatro famílias dos antigos escravos tomaram posse das terras. Eram elas: os Martins, os Raimundo, os Alves e os Baltazar.

A ocupação teria sido aconselhada pelo Padre Cícero Romão Batista, que passou por Zabelê em 11 de fevereiro de 1898, quando ainda eram terras de São Sebastião do Umbuzeiro. Além da orientação às quatro famílias desamparadas, ocorreu outro fato em Zabelê envolvendo o Patriarca do Juazeiro. Foi assim: Ao chegar à localidade, Padre Cícero encontrou uma mulher grávida, e fez o sinal da cruz em sua barriga. Poucos dias depois veio ao mundo um bebê natimorto. O povo do lugar entendeu o gesto do padre como uma visão dele do que estava por vir. E disseram: “morto, porém, batizado”.

Ainda naquela região outra passagem envolvendo Padre Cícero é contada. O quarto padre de São Sebastião do Umbuzeiro foi o pernambucano de São José do Egito, Antônio Francisco de Barros Ramalho (1882-1952), que ficou à frente da Igreja local de 1920 a 1922. Ele dizia para quem quisesse ouvir que reconhecia em Padre Cícero um sacerdote muito inteligente, mas nunca um santo. E fazia mais: quando os devotos do “Padim” levavam o seu retrato para que Padre Antônio benzesse, ele mandava que os fiéis o rasgassem, dizendo ser aquilo uma infantilidade.

Antes de ir para Umbuzeiro, o religioso ficou à frente da construção da matriz de Monteiro, mas algo não estava certo. Toda vez que se construíam as paredes da torre da igreja, essas desabavam. Isso aconteceu por várias vezes. O povo não entendia o que estava acontecendo, e o Padre Antônio resolveu ir ao Juazeiro, na esperança de ter uma resposta para tal mistério. Lá chegando encontrou Padre Cícero rezando com a multidão. Em meio às orações o Patriarca do Juazeiro fez uma pausa e disse:

Aqui tem um sacerdote que está construindo uma igreja e não consegue termina-la. Pode voltar e continuar a obra que nada mais vai atrapalhar.

Depois disso nada mais aconteceu, e o padre terminou a construção na cidade de Monteiro, edificando também um templo na cidade de Natuba, para onde foi transferido e viveu seus últimos dias.

*Informações do livro "Na Sombra do Umbuzeiro; A História da Paróquia de São Sebastião do Umbuzeiro", do Padre João Jorge Rietveld.


sábado, 17 de fevereiro de 2018

Padre Cícero Romão Batista: um intelectual orgânico? - Por Joarez Virgolino Aires

Em tese de doutorado, a Profa. Luitgade Olveira, em seu livro A Terra da Mãe de Deus, pela Editora Francisco Alves, identifica o movimento dos beatos e conselheiros do Brasil, a partir da matriz ideológica do padre Mestre Ibiapina. Aplicando a teoria de Antônio Gramsci, entende que estes líderes religiosos plasmaram e influenciaram um grupo social e, por isto, mesmo que analfabetos, entram na categoria de intelectuais orgânicos.

Depois de São Francisco de Sales, Padre Mestre Ibiapina foi o grande modelo na vida do padre Cícero como de todos os conselheiros e beatos da época.

Enquanto não recebe uma paróquia, o Padre Cícero colabora como professor de Latim no Colégio Venerá­vel Ibiapina, fundado e dirigido por José Marrocos e celebra nas capelas da região.

Infância do Padre Cícero

Os biógrafos do Padre Cícero são unânimes em retratá-lo, nessa fase, como uma criança e um adolescente já tocados pelo fervor religioso do mundo sertanejo de sua época. O ambiente familiar de profundo respeito ao Padre Ibiapina, a leitura da vida de santos, a assiduidade à Igreja, a vivência das missões, formam o clima de religiosidade de sua vida. Mas, principal­mente a leitura da vida de São Francisco de Sales determinará, como ele próprio deixará escrito em testamento, sua decisão de se dedicar ao sacerdócio.

Mais velho do que Cícero e acossado pelas desditas cente­nárias de sua família, vagueia pelo Cariri Antônio Vicente Mendes Maciel. Enquanto Cícero, jovem, aspira ao sacerdócio tendo Ibiapina por modelo, Antônio Vicente veste o hábito dos beatos, põe a cruz às costas e parte para sua missão na terra.

Após a morte do pai, Cícero fica ameaçado de não poder continuar os estudos. Em socorro de seu ideal vem o padrinho, o rico comerciante Antonio Luiz Alves Pequeno, que se ofe­rece para financiar os estudos do afilhado até sua ordenação.

Próximo à ordenação, o reitor do Seminário levanta dúvida so­bre a conveniência de sua ordenação, alegando sua ausência do confessionário por um espaço muito longo de tempo.

Cícero Romão, ordenado Padre

Em 1870, quando Cícero se torna padre, já Ibiapina está afastado do Ceará, onde a presença da autoridade eclesiástica tolhera-lhe todos os passos. Em 1872 D. Luiz parece ter-se apossado de todo o rebanho submetido a sua autoridade, com a despedida definitiva de Ibiapina das Terras do Cariri.

Em janeiro de 1871, ordenado aos 26 anos, chega ao Crato o Padre Cícero Romão Baptista. Desfruta da amizade, da con­fiança e da consideração do Bispo D. Luiz que, em 29 de de­zembro já lhe concedera licença para pregar e celebrar, pelo prazo de 1 ano. Enquanto não recebe uma paróquia, o Padre Cícero colabora como professor de Latim no Colégio Venerá­vel Ibiapina, fundado e dirigido por José Marrocos e celebra nas capelas da região.

Os historiadores do Juazeiro descre­vem o povoado constituído de pequenas casas em torno do pá­tio da capela e ao longo da margem do rio Salgadinho. Os habi­tantes não primavam pela repetição em suas práxis de vida, dos ensinamentos dos capelães. Cultivavam os hábitos de samba e cachaçada nas horas de lazer e viviam em promiscuidade. Jua­zeiro era mais uma pousada para os viandantes que se dirigiam de Barbalha, Milagres e outras paragens, para o Crato. Os comboieiros se dessedentam à sombra dos frondosos juazeiros. Mas o povoado já tinha escola e era aí que o Padre Cícero per­noitava quando vinha aos domingos celebrar missa, função que desempenhou a partir daquela noite de Natal, a pedido do pro­fessor Simeão Macedo e os fazendeiros da vizinhança que, em­bora residindo em suas fazendas, tinham casas construídas no arruado. Poucas eram as famílias de posses que residiam na rua.

Padre Cícero não era um bronco. O acervo de conhecimentos do Padre Cícero entusiasmou o botânico alemão Philipp V que, a serviço da Ins­petoria Federal de Obras Contra as Secas – do Ministério da Viação e Obras Públicas, passou no Juazeiro em 1921.

De sua viagem publicou o livro “Estudo Botânico do Nordeste”, pu­blicação daquele Ministério, em 1923. Na página 59 deste livro, se lê: “Naturalmente, para mim, se tornou de capital importância co­nhecer e falar com o Padre Cícero e tive o prazer de, à minha chegada, ser recebido e ter animada palestra com o mesmo. Este velho, de real prestígio popular, deixou-me gratas recorda­ções. Tratou-me com delicadeza e amabilidade. De facto, tra­ta-se de um homem que dispõe de instrução e saber invulgares: aborda com egual facilidade a política e a história brasileira; tem conhecimentos profundos de história universal, ciência naturaes, especialmente quanto à agricultura. (…)

Episódio prodigioso. Padre Bulhões, questionado um dia por uma paro­quiana por que não falava do púlpito condenando o Padre Cí­cero, respondeu: “Comadre, eu não sei quem é o Padre Cícero! Não conheço os desígnios de Deus para esse sa­cerdote. Além do mais, não sabendo de nenhum crime desse homem, prefiro não duvidar dos poderes de Deus.” E contou a história de um padre seu amigo, vigário numa cidade da beira do S. Francisco, centenas de léguas distante do Juazeiro. Esse padre acorda um dia com o sino da igreja chamando para a mis­sa. Como ainda estava escuro, pensou que o sacristão se enga­nara no horário e correu a adverti-lo. Chegando lá, encontra a igreja iluminada, cheia de gente, e um padre de costas cele­brando a missa. Espantado com o fato, ele se aproxima do altar para ajudar o padre que estava sem sacristão. E constata, cheio de assombro, ser o Padre Cícero. Este ainda era vivo, muito velhinho, no Juazeiro. Terminada a missa onde comungaram muitas pessoas, todas desconhecidas do vigário, este se dirige ao Padre Cícero: Como o Sr. está aqui, suspenso de ordem, tão distante do Juazeiro, quando chegou? O Padre Cícero lhe sorri respondendo: Meu amiguinho, você dorme demais!

Fala isto e desaparece da vista do vigário, juntamente com todos os assis­tentes da missa. A igreja fica às escuras e o vigário tomado de terror tenta fugir aos gritos. Na carreira cai e fratura uma perna ficando ali, até à hora em que o sacristão o en­contra deitado, sem coragem de se mover. Esse padre, que fi­cou defeituoso da perna, relatou pessoalmente o caso ao Padre Bulhões, quando este o foi visitar. Concluindo, afirmava Padre Bulhões: “Compreendeu, comadre? Era o Pa­dre Cícero, em espírito, celebrando missa para as almas do purgatório, fora do Juazeiro!”
Fonte: http://padrescasadosceara.comunidades.net/padre-cicero-romao-batista-pe-joarez-virgolino

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

A BEATA MARIA ARAÚJO - Por: Colô Do Arneiroz

17 de Janeiro de 1914, há exatos 104 anos, morria Maria Magdalena do Espírito Santo de Araújo, Beata Maria de Araújo. Desde tenra idade que Maria de Araújo apresentava traços de uma pessoa mística, Padre Cicero passaria a ser o seu guia espiritual, pois aquela passaria a sofrer perseguições e acusações caso a referida não fosse acompanhada e bem interpretada. Em 1° de março de 1889, com Maria de Araujo, acontece a transubstanciação da hóstia consagrada em sangue em sua boca. O fenômeno acontecerá dezenas de vezes. Acusada de embuste, D. Joaquim José Vieira priva a religiosa de suas liberdades, é interrogada sob forte apelo psicológico, além de tortura com uso de palmatória. Nesta data, Ela entrega sua vida a Deus para que Sedição de Juazeiro se debelace, pondo fim a guerra que tanto trouxe preocupações. Seu corpo fora sepultado no inferior da Capela do Socorro e em 1930 seus restos mortais são retirados e dado destino ignorado. Padre Cicero, já idoso aos 86 anos, ficara ainda mais indignado e, incompreensível, com a performance de sua igreja. O ato foi para exterminar as romarias, reduzir a zero o milagre eucaristico ocorrido naquele idos de 1889, cuja personagem central deveria ser ocultada. O milagre foi real, muito bem documentado, prova que a aquela mulher tinha sim uma relação muito próxima com Deus, como afirma a parapcicóloga Maria Pagani Forti. Hoje, havemos de relembra-la, pois sua vida foi de plena religiosidade, honesta, simples e humilde. Viva a Beata Maria de Araújo.


sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Certidão de Batismo do Padre Cícero confirma que ele nasceu no dia 23 de março de 1844


Os pesquisadores Daniel Walker e Renato Casimiro depois de intensa pesquisa na internet encontraram e agora compartilham com os leitores um documento histórico que fazia tempo estavam querendo encontrar. Trata-se do assentamento do batismo do Padre Cícero na forma como está escrito no Livro de Batismo da Paróquia de Nossa Senhora da Penha de Crato. Ele confirma que realmente Padre Cícero nasceu mesmo foi no dia 23 de março de 1844, muito embora seu aniversário seja comemorado, desde a sua infância, no dia 24 de março. O motivo até hoje é um mistério. O assentamento diz o seguinte: “Cícero, filho legítimo de Joaquim Romão Batista Meraíba e de sua mulher Joaquina Ferreira Castão. Nasceu em vinte e três de março de 1844 e foi batizado pelo pároco solenemente com santos óleos nesta cidade do Crato em oito de abril do mesmo ano. Foram seus padrinhos o avô paterno Romão José Batista e Antônia Maria de Jesus, do que para constar mandei fazer este assento em que me assino. Manuel Joaquim Aires do Nascimento. Livro de Batizados, Crato, 1843 a 1845, fl. 61. O documento foi encontrado no site: 
https://www.familysearch.org
Esse site é muito bom para se pesquisar nascimento, casamento e óbito. Agora os pesquisadores vão tentar encontrar o assentamento da beata Maria de Araújo para dirimir a dúvida sobre o seu nascimento, pois há historiadores que falam que ela nasceu em 23 de maio de 1862, outros 1863 e outros 1864. O batistério vai acabar com a dúvida. Não é possível comprovar a data exata de nascimento do Padre Cícero com uma Certidão de Nascimento lavrada em cartório porque o Registro Cívil só surgiu no Brasil em 1874, portanto 30 anos depois do nascimento do Padre Cícero. 

Por que dia 24?
Como foi dito acima, até hoje é um mistério a razão pela qual a data de aniversário de Padre Cícero é comemorada no dia 24 de março e não no dia 23 que é a sua verdadeira data de nascimento. O escritor Otacílio Anselmo em seu livro Padre Cícero, Mito e Realidade, p. 18 emitiu esta opinião:   “Não se pode indicar a quem coube a responsabilidade desse pulo de 24 horas sobre a data natalícia do sacerdote. Entretanto, pode-se afirmar que o salto, embora sem significação aparente, tivera um objetivo determinado, qual seja o de vincular o nascimento do Pe. Cícero ao dia 25 de março, que é consagrado pela Igreja à Anunciação de Nossa Senhora. O próprio sacerdote, em carta enviada de Roma para sua mãe, datada de 24-3-1898, evoca a falsa prerrogativa: “Hoje que faço 54 anos e véspera da Anunciação da Mãe de Deus, ...”. Admitindo-se que a ideia dessa transposição de data tenha partido dele, a fraude se ajusta à vaidade doentia de que foi portador, devendo-se juntá-la às lendas por ele mesmo criadas, como se verá no curso de sua história. Por outro lado, a burla tería sido uma das manifestações da paranoia que lhe atribuiu o Dr. Fernandes Távora (“O Padre Cícero”, in Revista do Instituto do Ceará, 1943), diagnóstico com o qual não concorda o Prof. Lourenço Filho (Juàzeiro do Padre Cícero, 3.a ed., Edições Melhoramentos, São Paulo). Seja como for, 24 de março é uma das mistificações engendradas em Juazeiro do Norte para endeusar o homem comum que foi o Pe. Cícero, cujo nascimento, queiram ou não os seus incensadores, ocorreu no dia 23 de março, conforme prova o documento”.
Mas outro escritor, o médico cratense Irineu Pinheiro, escreveu em seu livro Efemérides do Cariri, p.132 que: “Sempre sua família,  seus amigos e ele próprio (o Padre Cícero)  festejaram seu aniversário natalício no dia 24 de março”. 
Segundo Daniel Walker, "a hipótese aventada por Otacílio Anselmo é fraca, pois se a intenção de Padre Cícero era associar seu nascimento à data de Anunciação da Mãe de Deus seria bem melhor ele transferir o evento para o dia 25 e não para a véspera. E depois, pelo que se deduz da explicação dada por Irineu Pinheiro,  o nascimento do Padre Cícero já vinha sendo comemorado no dia 24 há muito tempo, possivelmente desde a infância do Padre Cícero, não sendo, portanto, iniciativa dele (Padre Cícero) como resultado de sua paranoia,  nem uma das mistificações engendradas em Juazeiro do Norte para endeusar o homem comum que foi o Pe. Cícero, como admite Otacílio".
O historiador Amando Rafael dá a sua versão: "Naquela época em que se escrevia a bico de pena (usando um tinteiro e mata-borrão para secar a tinta) as pessoas escolhiam –  um dia ou uma hora – para tal mister. Diferente do uso de computador que fazemos hoje, que é feito a qualquer instante. Ocorria, às vezes, até a pessoa grafar uma palavra com erro. É muito provável que o velho Vigário de Crato, tenha se atrapalhado na data, quando foi registrar no Livro de Batistério, antecipando um dia: de 24 para 23. Coisa normalíssima. O Pe. Cícero sempre comemorou seu aniversário no dia 24 de março. Isso é sintomático".
Este é mais um mistério da vida do Padre Cícero. Por fim esclarece Daniel Walker: "Na verdade, a novidade não é saber  que Padre Cícero nasceu mesmo no dia 23 de março de 1844, mas sim mostrar a cópia fiel do documento conforme está no livro de assentamento de batismo da Paróquia da Penha do Crato. Outro detalhe: um dos sobrenomes do pai de Padre Cícero é grafado pelos historiadores de três formas: Mirabeau, Mirabô e Meraíba".