ZENIT, órgão da imprensa romana, entrevista o bispo da diocese de Crato, Dom Fernando Panico. Temas: Igreja pede perdão ao pe. Cícero; diferença entre perdão, reconciliação e reabilitação; atividades políticas; padre e pastor; riquezas; acusações e perseguições; nove volumes de trabalho investigativo; dentre outros…
Cícero Romão Batista jamais soubera que um dia fora excomungado e, posteriormente, absolvido da pena, teve contato com Lampião, convidou Luis Carlos Prestes à rendição, movimentou o Nordeste Brasileiro, arrebanhou corações para Jesus Cristo, demonstrou-se sempre humilde e obediente perante as autoridades eclesiásticas, e, na impossibilidade de exercer o seu sacerdócio ministerial, tornou-se o “padrinho” de uma multidão órfã de pai. Essas e outras virtudes são muito bem demonstradas pelo jornalista Lira Neto na biografia mais completa já escrita sobre o santo popular: “Pe. Cícero, poder, fé e guerra no sertão”, Companhia das Letras.
Logo após a última missa celebrada na terra pelo “Padim” (como lhe chamavam os devotos, regionalismo de “padrinho”), no dia 4 de junho de 1921, minutos depois recebia o ofício diocesano que o proibia de exercer qualquer atividade como sacerdote dali por diante, até quando falecera em 20 de julho de 1934, tendo cumprido 90 anos.
“Instituo meu único e universal herdeiro a Santa Sé, representada na pessoa de Sua Santidade, o Papa, sendo o meu desejo que Sua Santidade aceite esta minha disposição de última vontade, incorporando a universalidade de minha herança ao patrimônio da mesma Santa Sé”, registrara alguns anos antes, em seu 1º testamento, lavrado no cartório em abril de 1918.
Testamento modificado em outras duas ocasiões, quando, em sua 3ª edição definitiva, deixou a Pia Sociedade de São Francisco de Sales como sua principal herdeira, com a condição de criar escolas e institutos de ensino e educação em Juazeiro. Acusado de escravizar os fieis na ignorância, esse mesmo sacerdote deixara metade da sua riqueza – não pouca, e doada por coronéis e romeiros ao longo da vida – para a educação dos concidadãos, e a outra metade para várias instituições religiosas da região.
Morreu paupérrimo, relatou a ZENIT Dom Fernando Panico, a ponto que os coronéis tiveram que fazer uma vaquinha para pagar o seu enterro.
Durante mais de um século atacado e manchado por intelectuais de todos os lados políticos e eclesiásticos. Durante mais de um século atraindo multidões, milhares de romeiros ao seu encontro, em vida, e mais ainda depois de morto, chegando aos milhões por ano atualmente… E sempre do lado de fora das Igrejas e dos templos.
O Nordeste inteiro, e não só, tem o nome do santo nas ruas, nas praças, nos monumentos… e somente nesse último fim de semana, quase 100 anos após a sua morte, pela primeira vez na história, um quadro do Padim Ciço entrou em procissão, passando pela Porta Santa da Basílica Nossa Senhora das Dores, no contexto do Ano Santo da Misericórdia.
A região do Cariri é um autêntico oásis de fauna e flora em meio a um deserto – principalmente para quem cruza de carro do litoral do Ceará ao interior, como foi o meu trajeto ao visitar essa cidade nesse último mês de Janeiro de 2016 e entrevistar pessoalmente Dom Fernando Panico para ZENIT.
Ao som dos passarinhos, pé da Chapada do Araripe, na sede no recém fundado seminário de Crato e Casa de Repouso Sacerdotal, sentados em uma varanda refrescante, às 10h da manhã.
Os entrevistados foram: Pe. José Vicente Pinto, vigário geral da Diocese de Crato, e Dom Fernando Panico, bispo diocesano.
Após uma conversa introdutória muito enriquecedora, Dom Fernando Panico dignou-se responder às minhas perguntas.
O contato com um povo humilde, acolhedor, muitas vezes órfão de tudo, e que se aproxima da gigante imagem do Pe. Cícero na colina do horto para pedir proteção, inspira a unir a voz com um dos cantores da região, Jota Farias, deixando Juazeiro para uma outra vez voltar e com um novo CD no rádio:
“No caminho da fé o povo não se cansa.
Quem anda com jesus nunca perde a esperança.
Somos romeiros vivemos a caminhar
Visitando o juazeiro com Jesus nos encontrar
Confessar nosso pecado e assim nos libertar
E a cantar no santuário alegria de chegar”.
Acompanhe abaixo a entrevista completa concedida a ZENIT:
ZENIT: Vamos definir termos. Qual a diferença entre reconciliação, reabilitação, perdão, no caso do Pe. Cícero? (Nessa primeira resposta Dom Fernando Panico fez um apanhado geral sobre as principais questões relativas ao Pe. Cícero, acusado de rico, político, desordeiro, etc.)
Dom Panico: Começo a fazer um pouco o histórico, o relatório, desse processo que foi enviado a Roma no ano 2006 e entregue ao Papa emérito Bento XVI.
Nós, atendendo à própria sugestão que veio da Congregação para a Doutrina da Fé, enveredamos o processo todo sob a égide do nome reabilitação. Foi um nome que nasceu assim, do diálogo com o cardeal Ratzinger, com o secretário dele, Dom Bertone, hoje cardeal, então eu fiquei com esse nome: “reabilitação”.
E voltando para o Brasil depois daquela visita à Roma para tratar do assunto em questão reuni, graças à cooperação também da CNBB, uma equipe de estudiosos de todo o Brasil. Não só daqui da região do Ceará ou do Cariri. Eu queria formar uma comissão de estudiosos livres de preconceitos ou de paixões para que me ajudassem a formar um conceito, por quanto possível objetivo sobre tudo o que ocorreu ao redor do Pe. Cícero.
Então, reunindo essa comissão insistimos sobre o nome “reabilitação”. Todo o nosso trabalho visava, sem nos darmos conta, talvez, da diferença que depois foi mostrada pelo Papa Francisco, continuamos trabalhando em vista de uma reabilitação.
Ao mesmo tempo começaram as críticas dos intelectuais que sabendo dessa comissão, dos estudos que estávamos realizando – estudos de pesquisa, nos arquivos de todo tipo que pudessem ter referência ao pe. Cícero.
É a Igreja que deve reabilitar-se com o Pe. Cícero
Então, as críticas diziam: “reabilitar”? “reabilitar o quê?”, é a Igreja que deve se reabilitar com o pe. Cícero porque foi a Igreja que condenou o pe. Cícero e, portanto, deve reconhecer a história como foi a partir de certas atitudes que ela, a Igreja, tomou. Então nasceram aquelas indiretas próprias do mundo acadêmico.
Pe. Cícero, homem polivalente, culto
Fizemos também simpósio internacional sobre a figura do pe. Cícero e ressaltando a figura e a importância do pe. Cícero sob diversos enfoques, não só o enfoque da religiosidade, mas também o enfoque do homem polivalente, culto, que já naquela época entendia de tudo e, portanto, sabia aconselhar os pobres lavradores que fugiam da seca para resistir às calamidades da natureza, aonde, então, deviam plantar, como deviam plantar, aonde se podia encontrar água, como defender a natureza, para que a natureza não virasse o deserto… Já se falava na época do pe. Cícero em desertificação. E se falava do problema da água, se falava do problema da ecologia. Pe. Cícero que pedia para não fazer queimas de roças, que a terra é mãe, que não devia ser violentada pelo fogo, mas que os lavradores tivessem outros processos mais naturais para repousar a terra e dar à terra mais riqueza para produzir.
Pois bem, o pe. Cícero foi estudado sobre muitos aspectos.
Reabilitação… é Igreja que deve se reabilitar com o seu filho que foi colocado à margem, foi exilado, foi – digamos assim – não reconhecido.
Resultado dos trabalhos de investigação: nove volumes e uma resposta papal
Mas, apesar de todas essas críticas nós concluímos os nossos trabalhos, depois de quase quatro anos de estudos e apresentamos à Congregação da Doutrina da Fé no ano de 2006 nove volumes, nove volumes! Não fomos com pouco papel não! (sorriu Dom Fernando).
Nove volumes coletando tudo o que podíamos ler e saber sobre o pe. Cícero, incluindo também toda a correspondência dele, as cartas dele, e as cartas de outros a respeito dele, alguns a favor e outros contra, então, juntamos tudo e foi para Roma e, assim, no ano passado de 2015, depois de muita espera e muita insistência de minha parte, chegou a resposta. Uma resposta muito – digamos assim – iluminada.
Nós acolhemos essa resposta chorando. A comissão que viu comigo o conteúdo dessa carta do cardeal Pedro Parolin nos mandou, ao meu endereço, nos fez chorar de alegria. E já pensando na grande alegria que os romeiros, poderia e deveriam, encontraram na leitura das palavras que vêm do coração do Papa Francisco. Esse Papa que nos compreende porque ele sente na sua própria experiência espiritual a força e a importância da fé dos pobres e não impede que essa fé se manifeste. Não manipula, como sucessor de Pedro, a expressão religiosa numa determinada orientação.
Reconciliar é diferente de reabilitar
Então, quando nós lemos a carta vimos que não se falava de reabilitação e sim em reconciliação. Então, reconciliar é diferente de reabilitar.
Reabilita-se uma pessoa que já morreu? Como podemos dar ao pe. Cícero que já faleceu a mais de 90 anos, né, uma nova configuração canônica, jurídica? Como podemos devolver? Como a Igreja pode devolver o uso de ordens para um morto? Então, não se trataria, canonicamente falando, em reabilitação.
Agente não atinou para esse aspecto quando fizemos o processo. Mas o Papa, que é muito perspicaz e pastoral, sobretudo, entendeu que a questão do pe. Cícero deveria ser vista como uma questão de reconciliação da Igreja com o pe. Cícero e com os romeiros, que são os herdeiros espirituais de toda uma ação do pe. Cícero voltada para valorizar a vida dos últimos.
Um padre exemplar, que morreu pobre, deixando tudo aos pobres
O pe. Cícero manifesta para nós hoje o exemplo de um padre que não tem fronteiras, um padre aberto, um padre que sai ao encontro dos outros, embora ele não tenha nunca saído de Juazeiro; mas um padre aberto para acolher, um padre com cheiro de ovelhas, como fala o Papa Francisco. Um padre, então, sempre solícito para escutar, para dar bons conselhos e para ajudar até financeiramente.
O pe. Cícero é acusado de ter sido rico, mas a riqueza que ele tinha era dada a ele pelos coronéis que brigavam entre si e que o pe .Cícero fazia todo um trabalho de pacificação que eles – quem sabe se por amizade ou reconhecimento – ofereciam ao pe. Cícero bens, terras, para as quais o pe. Cícero enviava os afilhados dele que fugiam da seca, os flagelados.
Então, quando o pe. Cícero morreu, dizem os contemporâneos, pe. Cícero morreu pobre, paupérrimo, ao ponto que tiveram que fazer, os coronéis, uma vaquinha para custear as despesas da funerária: caixão, enterro e tudo. Então, de tão pobre que ele vivia… mas para muitos ainda permanece essa ideia do pe. Cícero rico.
Pe. Cícero Político: fundou a cidade de Juazeiro, da qual foi o primeiro prefeito
O pe. Cícero político. Bom, uma vez que o pe. Cícero foi proibido de exercer o ministério sacerdotal, e o povo continuava indo a ele, e dessa vez um povo exigido, pedindo, suplicando do pe. Cícero uma atenção em favor das famílias, então o pe. Cícero – digamos assim – não sei se cedeu ou assumiu como consequência da sua missão sacerdotal e pastoral, assumiu esse lado político, ou seja, para poder ajudar o povo fundou a cidade de Juazeiro, da qual foi o primeiro prefeito… foi nomeado também para outros cargos públicos, políticos, no Brasil, mas ele nunca chegou a tomar posse… preferiu, então, sempre ficar lá em Juazeiro cuidando do povo.
Então, em vez de reabilitação, reconciliação. Reconcilia-se com uma pessoa que, embora falecida, os valores dela continuam presentes e são eficazes para serem vistos e também assimilados sempre mais pelas gerações do povo.
Uma Igreja que sabe pedir perdão. Ninguém é tão puro de estar livre de qualquer suspeita
Então, reconciliação da Igreja com o pe. Cícero. Esse gesto, que parece tão humano e tão divino. Lembro-me que não é a primeira vez na história que a Igreja passa por um processo de reconciliação e de perdão.
Mais próximos dos nossos dias, dos nossos tempos, o Papa João Paulo II no jubileu do ano 2000, abraçado àquela cruz da basílica de São Pedro, do Vaticano, pediu publicamente perdão, em nome da Igreja, pelos erros cometidos ao longo da história. A Igreja sabe reconhecer também que errou, porque ela é humana, além de ser divina, instituição que vem de Deus, mas Ela é feita por homens, homens que podem errar, homens que, embora com todas as intenções melhores não deixam de transparecer a fraqueza deles como pecadores, das decisões que são tomadas. Ninguém tão puro para estar livre de qualquer suspeita.
E na história do pe. Cícero, infelizmente, assim como na história de todo ser humano tem elementos que contribuíram para a condenação dele.
ZENIT: Dom Fernando, existe algum projeto de publicar toda essa documentação, ou deixa-la à disposição de estudiosos, jornalistas e historiadores?
Dom Fernando Panico: Esse material se encontra à disposição dos estudiosos, dos pesquisadores, no nosso departamento histórico diocesano, na cúria do Crato. Existe, então, o departamento histórico que recolhe todos os documentos relativos à diocese.
Todos os livros, então, que falam da história da diocese, história nas paróquias, etc. E aí estão, agora, os nove volumes, que foram apresentados para o Vaticano. No Vaticano tem uns exemplares, ou melhor, dois exemplares, ou três, não me lembro, de cada volume, conforme nos fora pedido e outros exemplares ficaram aqui mesmo no Crato a disposição da Cúria.
ZENIT: Mas, publicar… há essa ideia?
Dom Fernando: Digamos que, no momento, uma ideia de publicar tudo… ainda não pensamos nisso não. Também para respeitar os tempos, para respeitar o estudo que a Santa Sé faria sobre aquele documento. Para não colocar, então, como costumamos dizer aqui no Brasil “o carro na frente dos bois”. Então, aquela prudência pastoral e também acadêmica, científica, para poder “vender o couro depois de ter matado o animal”.
ZENIT: Então, podemos entender que a Igreja pediu perdão. Mas pediu perdão pelo que, em concreto?
Dom Fernando: Meu irmão, cada um faz a sua leitura. Agora, o Papa, na carta, me recomenda, a mim, bispo da diocese de Crato, para dar ao povo uma justa interpretação daquilo que ele quer e escreve. E essa justa interpretação consiste em que a Igreja reconhece o pe. Cícero pelos frutos dele.
Ou seja, o Papa Francisco chega a desejar, a pedir até, a Deus, para que esta expressão das romarias, como Igreja em saída, Igreja missionária, não seja uma característica só para o Nordeste do Brasil. Mas seja para todo o Brasil e para a Igreja inteira. Então o pe. Cícero botou no coração e na boca e na caneta do Papa Francisco esse desejo de fazer da Igreja toda uma Igreja peregrina, a Igreja missionária, a Igreja que não fica tranquila nos seus lugares assim de status, mas arrisca. A Igreja como hospital, campo de batalha, a Igreja que não tem medo de ficar suja de barro ou de sangue, é a Igreja que mexe com a realidade humana para iluminá-la, para purifica-la e para redimi-la.
Então, o papa Francisco me pede para dar uma justa interpretação dessa carta. E ele disse: nós não entramos em mérito à questão política, à questão de outros aspectos, que são críticos na vida do pe. Cícero. Nós não vamos entrar em mérito nisso. E por isso, não podemos falar, por enquanto de processo de canonização.
Assim fala o papa com muita sabedoria. Isso poderá acontecer, mas não é já já não. É um processo. De modo que eu brinco e falo sério, para mim e para os outros nossos irmãos aqui da diocese, dizendo que certamente não serei eu que vai introduzir o processo de beatificação do pe. Cícero.
O Pe. Cícero saiu do escuro da história. O Romeiro vem ao encontro de Jesus Cristo.
Dêmo-nos por satisfeitos e agraciados pela misericórdia de Deus porque tiramos o pe. Cícero do escuro da história e colocamos ele diante da sua verdade que é reconhecida pelo sucessor de Pedro para que todo o Brasil e sobretudo os milhões de romeiros que todos os anos vêm aqui à Juazeiro atraídos pela memória dele saibam encontrar, não tanto o pe. Cícero, mas Jesus Cristo, porque o pe. Cícero não chamava o povo para visitar ele, mas para se encontrar com a eucaristia, com a confissão, com o sacramento da misericórdia, com Nossa Senhora das Dores, com o coração de Jesus. E o papa Francisco, nessa carta que ele escreveu, diz que é Jesus a origem, o centro e o fim das peregrinações que acontecem por causa do pe. Cícero.
Então, atribuímos a Jesus este movimento de Graça, que é a romaria, e o pe. Cícero naturalmente foi o canal e o instrumento, mas nós amamos o pe. Cícero porque ele nos ajuda a compreender melhor a ser discípulos missionários de Jesus, devotos de Nossa Senhora e fieis à Igreja católica.
ZENIT: E é isso que realmente se vê nos romeiros? Quer dizer, então, que os romeiros que vêm à Juazeiro frequentam os sacramentos, são acolhidos pelos sacerdotes da região, têm todo o apoio pastoral que necessitam?
Dom Fernando: Acontece que nas paróquias de origens, nos municípios e dioceses de origens desses romeiros tem também, além do povo que é devoto do pe. Cícero, tem também padres e bispos que a seu tempo, antes de serem padres e bispos, foram romeiros, então nunca perderam a sensibilidade e a espiritualidade romeira.
Mas, respondendo a sua pergunta: eu não posso afirmar categoricamente que os romeiros, hoje, vêm aqui à Juazeiro mais por causa do pe. Cícero do que por Jesus. Isso foge às minhas apreciações.
Mas, eu faria a mesma pergunta a outro santuário: quem vai venerar em São Giovanni Rotondo São pe. Pio, vai por causa do pe. Pio ou por Jesus? Creio que vão por Jesus por causa do Pe. Pio, mas vão visitar o pe. Pio para que o pe. Pio os ajude a se encontrar com Jesus. A mesma coisa diria com o pe. Cícero e Jesus.
ZENIT: Falando no pe. Pio, lembramos que ele também morreu com cinco processos nas costas…
Dom Fernando: É por isso que existe uma certa afinidade, né? Porém, analógica.
O Pe. Pio também sofreu e sofreu muito. E o grande mérito que a providência de Deus possibilitou-lhe é que o Papa João Paulo II era penitente dele e conhecia muito bem o pe. Pio.
Então, foi o Papa João Paulo II em tão pouco tempo depois que assumiu o pontificado, tirou da gaveta o processo, ou melhor, foi iniciado o processo – não sei bem dizer exatamente – e, em pouco tempo foi beatificado e canonizado; e o pe. Cícero não tem ninguém a favor dele lá na cúria romana. Mas, agora a providência de Deus mandou-nos Francisco que bem compreende a situação e com coragem apostólica, ousadia mesmo, que às vezes incomoda os bem-pensantes – ele toma decisões que são, certamente, expressão de uma luz que o Papa recebe para guiar a Igreja de acordo com o projeto do pai.
ZENIT: Por fim, com relação à notícia da reconciliação da Igreja com o pe. Cícero, ouve-se dizer também que a Igreja está se aproveitando agora da situação, de certa forma instrumentalizando o pe. Cícero, para atrair novamente os católicos para a Ela, por causa da quantidade de fieis que está perdendo para as seitas no Brasil. O que dizer sobre isso?
Dom Fernando: Bom, cada um pensa como quer. Agora, posso garantir, com toda transparência e honestidade de minha parte, que nunca quisemos manipular a memória do pe. Cícero para salvaguardar a perseverança dos romeiros na Igreja católica. Eu diria o contrário. São os próprios romeiros que chegam aqui, em Juazeiro, atribulados pela campanha, pelo proselitismo das seitas que assediam – a palavra é feia mas existe também o assédio religioso – assedia a fé simples dos romeiros para poder agregar os romeiros às seitas.
Foi feito um estudo pela CNBB, anos atrás, um mapa onde estão escritas as migrações religiosas do nosso povo em todo o território nacional. Então, tem regiões aonde é muito clara e evidente a passagem de católicos para os protestantes ou os evangélicos. Mas aqui, dessa nossa região, existem sim alguns “pontos vermelhos”, mas a maioria da região é positiva, ou seja, não têm essa presença.
Eu me pergunto, a que se deve tudo isso? Qual é o porquê dessa situação? E a resposta que me vem de uma maneira talvez ingênua, mas certamente uma resposta que me vem, da contemplação de como Jesus “te louvo, ó Pai, porque essas coisas as escondes aos grandes e as revelastes aos pequenos. Te louvo, ó Pai, porque são os últimos, os humildes, que podem, então, mais te glorificar. Te louvo, ó Pai, porque da boca daqueles que não sabem falar vem para ti o melhor louvor”.