Até 1900, no povoado de Juazeiro, não existiam ainda ourivesarias. O centro industrial e comercial do ouro era localizado na vizinha cidade do Crato. Havia tanta ourivesaria no Crato, que a Rua Bárbara de Alencar era denominada de Rua dos Ourives, pela grande quantidade de ourivesarias lá instaladas.
Em Barbalha, havia apenas uma ourivesaria, de propriedade do senhor Carlos Miguel Ângelo, conhecido por "Padre Ourives". Nessa ourivesaria trabalhava como operário Raimundo Nunes Branco, conhecido por "Doca". Doca era rapaz, e morava com sua irmã, Cassimira, conhecida por "Santa".
Santa era amiga do Padre Cícero e tinha entrada franca na casa dele. Certo dia, Santa foi visitar o Padre Cícero, e nessa visita, disse-lhe o Padre Cícero: "Diga a seu irmão Raimundo que venha instalar uma ourivesaria aqui no Juazeiro".
De volta a Barbalha, Dona Santa deu o recado do Padre Cícero a Doca, ao que ele lhe respondeu: "Não vou. O Juazeiro não tem nada para me oferecer".
Meses depois, Dona Santa foi mais uma vez à casa do Padre Cícero. Nessa ocasião, o Padre Cícero lhe perguntou: "Você deu o meu recado a seu irmão Raimundo?" Dona Santa respondeu: "Dei, mas o que ele respondeu é que este povoado não tem o que lhe oferecer". "Pois então, disse o Padre Cícero, diga a ele que, se não vier, eu vou lhe buscar".
Quando Doca recebeu de sua irmã a intimação, ficou impressionado. Prestou conta com o patrão e foi a Juazeiro. Chegando à casa do Padre Cícero, disse: "Pronto, aqui estou Padre Cícero, onde é que vou instalar minha ourivesaria?" Nessa ocasião o Padre Cícero deu a Doca a chave de uma casa localizada na Rua do Cruzeiro com a Rua São José, nos fundos onde é hoje a casa de Dona Alacoque Bezerra, e lhe disse: "Faça muitas alianças e brincos de ouro".
As informações acima foram prestadas pelo nosso amigo José Anchieta, ourives residente na Rua Mons. Joviniano Barreto, nº 97, em frente à Escola de Primeiro Grau Padre Cícero.
Doca, o primeiro ourives do Juazeiro, apoiado com a proteção do Padre Cícero, ficou rico e conhecido por "Doca Ourives". Com a independência política de Juazeiro, a cidade acelerou o seu desenvolvimento, o comércio de ouro cresceu e as ourivesarias do Crato diminuíram a ponto de ficar apenas uma, a do senhor Theopisto Abath que ainda continua sob a direção de um de seus filhos.
Doca Ourives, rapaz bem parecido, mulherengo, só pensava em dinheiro. Nunca se lembrou de ir agradecer ao Padre Cícero o apoio que dele recebeu.
Anos depois o Padre Cícero perguntou a Dona Santa: "Como vai Raimundo com a ourivesaria"? "Muito bem, respondeu dona Santa, só tem um problema: é vaidoso e gasta de mais com farra".
— "Pois diga a ele, disse o Padre Cícero, que faça economia para que na velhice ele não sofra as conseqüências".
Santa deu o recado a Doca, e ele respondeu: "Bobagem, Santa, o que possuo eu morro e não se acaba".
O campo comercial abriu-se para outras ourivesarias. Doca ourives começou a fracassar. Mudou-se para uma casa na Rua Boa Vista, nº 114. Lá ele findou seus últimos dias de vida com uma oficina de conserto, morrendo em 1941, velho e pobre.
Os ourives que mais se destacaram nessa época até 1950, foram: José Vicente de Lima, Enoque Vieira de Almeida, Paulo Maia, Antônio Vieira de Almeida, José Ourives, José Inácio da Costa, Luís Coimbra, José de Melo da Silva, Sutério Inácio da Costa, Antônio Flor e Luiz Gonçalves Pereira.
Depois dessa época surgiram outros ourives que assumiram a liderança da indústria de ouro que até hoje perdura e lidera o comércio de ouro no Juazeiro.
Em 1979, os irmãos Neri (Severino, Antônio, Aluísio e José), montaram a primeira fábrica de jóias em Juazeiro, a CIMEL-Comércio e Indústria Metalúrgica Limitada. No decorrer dos anos essa fábrica deixou de fabricar jóias e passou a fabricar sacos plásticos, continuando com a mesma sigla.
Para compensar e mostrar que Juazeiro não pode parar, surgiram três fábricas de jóias dos senhores: Josimar, Dr. José Wildon de Morais e José Machado Junior.
Em 1990, foi fundada em Juazeiro a Associação dos Fabricantes de Jóias. Essa Associação manteve por algum tempo uma escola, tendo como finalidade aperfeiçoar operários na fabricação de jóias e lançar no comércio os mais variados modelos de jóias, libertando-nos assim das jóias fabricadas no sul do país. Atualmente Juazeiro conta com algumas fábricas de jóias, quase uma centena de ourivesarias, dezenas de casas de relojoarias e muitas dezenas de boxes de vendas de ouro e jóias encascadas de ouro.
(Extraído do livro Milagres e previsões do Padre Cícero. José (Zeca) Marques da Silva)