Rehabilitaciones BRASILEIRAS: Padre Cícero, um impostor SANTO. Parolin: "A fé simples em sintonia com o seu povo." Boff: "Um modelo de santidade em linha Romero".
Pankarau índios étnicos em peregrinação ao retrato
de Padre Cícero Juazeiro do Norte, Brasil - Leo Correa AP Photo
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Levou muitos anos para curar a ferida aberta pela suspensão do Padre Cícero Romão Batista, mas a reabilitação chegou à diocese brasileira de Crato, no domingo 13 de dezembro de 2015. Durante a homilia na Catedral de Cariri, Bishop, Dom Fernando Panico, disse: "Hoje, por ocasião da abertura solene da Porta Santa da Misericórdia na Catedral de Nossa Senhora da Rocha, quero anunciar com alegria um gesto concreto de misericórdia, cuidado e carinho do Papa Francisco para nós: a Igreja Católica, historicamente, reconciliado com o padre Cícero Romão Batista ".
Eu me encontrei com Leonardo Boff, um dos principais representantes da Teologia da Libertação, para perguntar o que você acha desta decisão: "A reabilitação do Vaticano só foi possível graças ao Papa Francisco. Para o povo, para o pobre padre Cícero é um santo e adorá-lo como tal. Viveu sempre apoiando os pobres, especialmente contra os poderosos da época. Ele estava completamente dedicado a uma pastoral popular, sacramental não tão rico como o conselho e conforto para as vítimas. E isso é parte do caminho para a compreensão do evangelho que tem o Papa Francisco. Não são muitas as doutrinas, mas misericórdia e ternura para com os pobres ".
A memória do Padre Cícero, diz a carta assinada pelo cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado da Santa Sé, recorda o seu trabalho pastoral popular de evangelização. Ele acrescenta: "É inegável que o padre Cícero ao longo de sua existência viveu uma fé simples, em sintonia com o seu povo, e por essa razão, desde o início foi compreendido e amado pelas mesmas pessoas." Então, por que a pessoa criando problemas para a Igreja Católica? "Esse é um tema muito importante explica Boff. Padre Cícero era nenhum sacerdote comum e dedicado apenas ao povo cristão para os sacramentos, como era prática comum a Pio X. Para o padre Cícero era importante estar com os pobres, escutar, fazer sugestões, manter a esperança. Ele está vivendo o ideal do sacerdócio proposto pelo Papa Francisco: fazer a revolução de ternura, viver a fé como encontro com os outros e levá-los a Cristo ".
Padre Cícero chegou em Juazeiro do Norte, no nordeste do Brasil, em 1871. Tornou-se logo a relação espiritual dessa população, conquistou a amizade do povo e se comprometeram a lutar contra o alcoolismo ea prostituição generalizada. Além disso, organizou um grupo de oração com as mulheres piedosas. Em 1889, enquanto distribuindo comunhão, veio uma mancha de sangue quando ele estava dando Maria de Araujo. O fato foi repetido várias vezes e imediatamente as pessoas começaram a falar de milagres. O bispo parou o jovem sacerdote. Apesar de sua viagem a Roma, o padre Cícero foi condenado a não ser capaz de celebrar a Missa e denunciado como impostor. Mas ele não parou e continuou suas atividades de fundar escolas e orfanatos. Ele recebeu o apoio de muitas pessoas e doações que ele sempre se tornaram obras de misericórdia. O povo viu que ele tinha sido punido injunstamente e, posteriormente, assumiu um papel social e político tornou-se prefeito de Juazeiro em 1913. Até à data, uma multidão de peregrinos vêm devotamente para visitar seu túmulo. Eu pergunto se esta reabilitação Boff ainda incomoda alguém.
"Eu acho que agora a situação mudou. Padre Cícero é tão importante para o povo tornou-se um símbolo nacional. Os bispos também defendida e proposta como um padre que se encaixa o tipo de cultura popular, especialmente no Nordeste, mas também para aqueles que querem trabalhar com os pobres. Todos têm o prazer que Roma começou um novo caminho e obstáculos removidos eram políticos e não doutrinal. É um modelo de St. Francis gostaria de chamar a Igreja de acordo com Bishop Romero eo bispo de Chiapas bispo Samuel Ruiz, cujo túmulo do Papa visitará em sua próxima visita ao México. Bispo Samuel Ruiz foi perseguido pelo Vaticano, especialmente os últimos dois Papas. Ele amou e viveu por índios e pobres. Houve evangelização encarnada e liturgia na cultura indígena, e para Roma, totalmente eurocêntrica, foi um escândalo ".
FOTOS DA MISSA DA RECONCILIAÇÃO - DIA 20.12.2015Eu me encontrei com Leonardo Boff, um dos principais representantes da Teologia da Libertação, para perguntar o que você acha desta decisão: "A reabilitação do Vaticano só foi possível graças ao Papa Francisco. Para o povo, para o pobre padre Cícero é um santo e adorá-lo como tal. Viveu sempre apoiando os pobres, especialmente contra os poderosos da época. Ele estava completamente dedicado a uma pastoral popular, sacramental não tão rico como o conselho e conforto para as vítimas. E isso é parte do caminho para a compreensão do evangelho que tem o Papa Francisco. Não são muitas as doutrinas, mas misericórdia e ternura para com os pobres ".
A memória do Padre Cícero, diz a carta assinada pelo cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado da Santa Sé, recorda o seu trabalho pastoral popular de evangelização. Ele acrescenta: "É inegável que o padre Cícero ao longo de sua existência viveu uma fé simples, em sintonia com o seu povo, e por essa razão, desde o início foi compreendido e amado pelas mesmas pessoas." Então, por que a pessoa criando problemas para a Igreja Católica? "Esse é um tema muito importante explica Boff. Padre Cícero era nenhum sacerdote comum e dedicado apenas ao povo cristão para os sacramentos, como era prática comum a Pio X. Para o padre Cícero era importante estar com os pobres, escutar, fazer sugestões, manter a esperança. Ele está vivendo o ideal do sacerdócio proposto pelo Papa Francisco: fazer a revolução de ternura, viver a fé como encontro com os outros e levá-los a Cristo ".
Padre Cícero chegou em Juazeiro do Norte, no nordeste do Brasil, em 1871. Tornou-se logo a relação espiritual dessa população, conquistou a amizade do povo e se comprometeram a lutar contra o alcoolismo ea prostituição generalizada. Além disso, organizou um grupo de oração com as mulheres piedosas. Em 1889, enquanto distribuindo comunhão, veio uma mancha de sangue quando ele estava dando Maria de Araujo. O fato foi repetido várias vezes e imediatamente as pessoas começaram a falar de milagres. O bispo parou o jovem sacerdote. Apesar de sua viagem a Roma, o padre Cícero foi condenado a não ser capaz de celebrar a Missa e denunciado como impostor. Mas ele não parou e continuou suas atividades de fundar escolas e orfanatos. Ele recebeu o apoio de muitas pessoas e doações que ele sempre se tornaram obras de misericórdia. O povo viu que ele tinha sido punido injunstamente e, posteriormente, assumiu um papel social e político tornou-se prefeito de Juazeiro em 1913. Até à data, uma multidão de peregrinos vêm devotamente para visitar seu túmulo. Eu pergunto se esta reabilitação Boff ainda incomoda alguém.
"Eu acho que agora a situação mudou. Padre Cícero é tão importante para o povo tornou-se um símbolo nacional. Os bispos também defendida e proposta como um padre que se encaixa o tipo de cultura popular, especialmente no Nordeste, mas também para aqueles que querem trabalhar com os pobres. Todos têm o prazer que Roma começou um novo caminho e obstáculos removidos eram políticos e não doutrinal. É um modelo de St. Francis gostaria de chamar a Igreja de acordo com Bishop Romero eo bispo de Chiapas bispo Samuel Ruiz, cujo túmulo do Papa visitará em sua próxima visita ao México. Bispo Samuel Ruiz foi perseguido pelo Vaticano, especialmente os últimos dois Papas. Ele amou e viveu por índios e pobres. Houve evangelização encarnada e liturgia na cultura indígena, e para Roma, totalmente eurocêntrica, foi um escândalo ".
Fotos de: Pautília Ferraz, João Carlos Rodrigues, José Barcelar Filho, Yório Bulhões, Daniel Walker e Tereza Neuma.
FOTOS DA CARREATA DA RECONCILIAÇÃO
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Padre Cícero do Juazeiro - Por Padre João Medeiros Filho
“É inegável que o padre Cícero Romão Batista, no arco de sua existência, viveu uma fé simples, em sintonia com o seu povo e, por isso mesmo, desde o início, foi compreendido e amado por este mesmo povo”. Estas foram palavras do Cardeal Parolin, no documento de reconciliação do Patriarca do Juazeiro. Datada de 20 de outubro de 2015 (centenário da diocese do Crato), a carta foi enviada a Dom Fernando Panico, pelo Secretário de Estado do Vaticano, em nome do Sumo Pontífice. Recorda a incansável missão do padre Cícero no Nordeste e sua dedicação aos pobres e sofridos. Suas virtudes eram bem maiores que as limitações, sua fé e amor a Cristo suplantavam suas falhas, a misericórdia divina transbordava em seus atos e palavras. Daí, o reconhecimento do povo de Deus, que sempre o venerou ao longo do tempo, apesar da proibição da hierarquia eclesiástica, passados mais de oitenta anos de sua morte. Somos de um tempo, em que não podíamos batizar as crianças com o nome de Cícero. Não raro, tínhamos problemas na pia batismal. Por ordem das autoridades diocesanas, devíamos acrescentar um prenome (José, Francisco, Antônio, Manuel etc.) a Cícero.
Em 1964, Dom José de Medeiros Delgado, então arcebispo de Fortaleza, lançou o movimento pela reabilitação de Padre Cícero. Constituiu uma comissão composta dos padres Azarias Sobreira, pesquisador e escritor, Murilo de Sá Barreto, pároco de Juazeiro e os sociólogos: Francisco Cartaxo Rolim, frade dominicano e Eugênio Collard, professor da Universidade de Louvain (este último serviu à arquidiocese de Natal, durante três anos), auxiliados pelos historiadores Luís Sucupira e Renato Cassimiro. Tal equipe tinha como missão estudar o fenômeno do Juazeiro. O próprio dom Delgado dedicou-se à pesquisa e levantou a tese de que Padre Cícero “foi um incompreendido e mártir da disciplina eclesiástica”. O resultado de suas buscas consta de dois trabalhos publicados com os títulos: “Juazeiro, Padre Cícero e Canindé” e “Padre Cícero, o mártir da disciplina”, editados respectivamente em 1968 e 1970. O segundo tinha o intuito de comemorar o centenário da ordenação do “Santo do Juazeiro”. A partir desses levantamentos, começaram a aparecer estudos mais documentados, objetivos, menos apologéticos e negativos, dentre os quais podemos destacar: a acurada pesquisa do Monsenhor Sobreira “O Patriarca do Juazeiro” e a tese doutoral do brasilianista Ralph della Cava, intitulada “O milagre em Juazeiro”, defendida na Universidade de Columbia. Não é menos importante a dissertação de mestrado da Professora Luitgarde Cavalcanti Barros, apresentada à USP, que resultou numa valiosa obra: “Um estudo do movimento religioso de Juazeiro do Norte”. Padre Cícero não foi um teólogo, ideólogo, cientista político, filósofo, intelectual etc. Era, sim, um pastor do seu tempo sensibilizado com os problemas humanos e sociais de seus irmãos na fé. Não podemos nem devemos ideologizar as ações e o pensamento do venerável patriarca. É preciso fazer a leitura dos fatos e ver o personagem com os olhos da época e dentro do agir da Igreja do seu tempo.
Uma carta de padre Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva (que veio a ser o primeiro bispo do Crato) a Dom Joaquim José Vieira, datada de 01 de julho de 1903, deu novo rumo às pesquisas. Assim lemos no documento: “Tenho a honra de comunicar a V. Exª Revma. que levei ao conhecimento do Revmo. Padre Cícero Romão Batista o ofício de V. Exª. mandando aquele sacerdote suspender as obras da capela que estava construindo perto da povoação do Juazeiro e ele me respondeu que obedeceria prontamente a V. Exª, suspendendo o serviço, o que efetivamente fez”. Era a prova inconteste do espírito de obediência do Patriarca do Juazeiro, vítima de idiossincrasias, intrigas políticas e “invidia clericalis”. Segundo dom Delgado, um dos motivos de controvérsias, contribuindo para a exclusão de Padre Cícero, foi o seu desejo de criar uma diocese, no sul do Ceará, cuja sede não seria no Crato. Dom Delgado chegou a propor à Nunciatura Apostólica a ereção de uma prelazia eclesiástica na cidade de Juazeiro.
O Papa Francisco não apenas reabilitou – tratando da recuperação das ordens sacras que estavam suspensas – mas também o reconciliou, anulando qualquer oposição à ação pastoral de padre Cícero. Esta decisão reconhece como autênticas manifestações de fé cristã as romarias e devoção ao “Santo do Juazeiro”, possibilitando, deste modo, maior aproximação dos romeiros com a Igreja Católica. Para os devotos do Patriarca do Cariri, nada mais confortador. Neste tempo, conturbado por agruras, seca, problemas de toda espécie, a reabilitação de Padre Cícero é uma brisa do céu, um mimo e afago do Sumo Pontífice a nos mostrar a face da ternura de Deus. Assim se expressa o Papa Francisco: “A atitude do padre Cícero em acolher a todos, especialmente os pobres e sofredores, aconselhando-os e abençoando-os, constitui sem dúvida, num sinal importante e atual” daquilo que deve ser a Igreja, sacramento da misericórdia divina.
pe.medeiros@hotmail.com
Fonte: www.tribunadonorte.com.br
Um presente de Natal - Por Geová Sobreira
Fonte: www.juanorte.com.br
Foi um espetacular, grandioso e generoso presente que o Papa Francisco, no Natal deste ano, deu para o Juazeiro, para toda a nação romeira e para todos os devotos do Padre Cícero espalhados pelo Brasil inteiro, neste Jubileu do Ano Santo de 2015, proclamando com regozijo o acolhimento cristão do Padre Cícero no seio da Santa Madre Igreja, enchendo assim o coração de todos os cristãos de alegria e de confiança na Providência Divina. Por mais de 120 anos, com inabalável e inquebrantável Fé, sem jamais duvidar dos maravilhosos desígnios de Deus, esperamos por esse dia. A nossa esperança era fundamentada em sólidos alicerces das promessas de Cristo proclamadas no Sermão da Montanha: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, por eles serão saciados” (Mateus, 5,1,11). O Papa Francisco abriu o seu Pontificado proclamando ao mundo o seu mais profundo desejo e sua pessoal determinação de a Igreja acolher a todas as ovelhas que estivessem dispersas do redil, seguindo fielmente a parábola do Bom Pastor. Na parábola do Bom Pastor, João 10.1.14, o próprio Cristo traça o perfil do bom pastor: “é aquele que dá a vida por suas ovelhas....” A voz do Papa Francisco clamando para todo o mundo que o momento atual é de esmagamento da pessoa humana, que o drama do mundo moderno é a solidão das pessoas, quando o homem é esmagado pela escala de sua capacidade de consumo de bens, que, em quase sua totalidade, são supérfluos, é preciso que a Igreja acolha a todos, sem distinções nem divisões.O grito de misericórdia do Papa Francisco clama que a Igreja acolha a todos os que buscarem abrigo no seio da Igreja Católica sejam acolhidos e assistidos em suas necessidades espirituais, emocionais e físicas. Esse grito de misericórdia do Papa Francisco para que a Igreja acolha a todos lembra o sonho profético do Padre Cícero, em 1872, e que o fez desistir de seus projetos pessoais de ser professor de teologia e lente do Seminário da Prainha para se radicar para sempre no humilde povoado de Joaseiro, não se afastando nunca do povo que lhe foi confiado enfrentando mesmo toda a opressão das autoridades civis e eclesiásticas. O bom pastor não abandona nunca as suas ovelhas. Há uma consonância perfeita entre o grito de acolhimento do Papa Francisco para que a Igreja acolha a todos e os conselhos do Padre Cícero a todos os que iam, e continuaam vindo, em romaria, ao Joaseiro ouvir seus sermões e pedir seus conselhos: “quem matou não mate mais, quem roubou não roube mais, reze todos os dias o rosário.” Padre Cícero tratavaa todos com o mesmo carinho e com o mesmo acolhimento não se importando com o seu status social. Só exigia que se arrependessem de seus pecados e a partir do momento em que viessem ao Juazeiro em visita ou para morarem vivessem segundo os preceitos da Igreja Católica. E assim no Juazeiro todos principiavam uma vida nova, vivendo do seu trabalho, com o rosário da Mãe de Deus no peito como escudo e proteção, fazendo de sua casa um altar e uma oficina. O trabalho e a oração formaram o cimento que unia a todos os romeiros no mesmo ideal, na mesma Fé, guardando os ensinamento do Padre Cícero.A proclamação do Papa Francisco afirmando que a Igreja se sentia feliz em acolher o filho dileto e amado, Padre Cícero, sacerdote que sob as mais duras provações ficou sempre humilde e fiel à Igreja de Cristo foi um lenitivo para seus milhões de devotos. Cabe a nós, filhos de Juazeiro, romeiros e devotos do Padre Cícero, fiéis filhos da Igreja Católica agradecer ao Santo Padre o Papa Francisco por seu gesto cristão e magnânimo pelo acolhimento do Padim de todos os romeiros no seio santo da Igreja Católica.
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Resgate do Padre Cícero - Por Nivaldo Nogueira
Fonte: www.juanorte.com.br
O Papa Francisco concedeu perdão ao Padre Cícero Romão Batista, o que significa a reabilitação dos seus votos religiosos. Vi isso com muita alegria. Numa época em que guerrilheiros comunistas são canonizados, nada mais justo que um devoto católico, sacerdote observante das regras eclesiástica, seja reparado do ato arbitrário e preconceituoso obrado pelo então bispo da diocese do Crato. Quem é ele mesmo? Ninguém mais se lembra, mas do Padre Cícero ninguém nunca esquece. O santo do Juazeiro precisa ser lembrado também porque sempre cultivou a fé em Nossa Senhora das Dores. No templo dedicado a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro seu corpo está enterrado. O catolicismo popular nunca se esquece da Virgem. Padre Cícero sempre foi um missionário que pregava a intercessão da Santa Mãe de Deus. Nada mais ortodoxamente católico. O Juazeiro é ele mesmo um milagre do Padre Cícero. Em torno de sua figura carismática a cidade foi construída e sua gente honra com vigor o seu fundador. Na infância pude ouvir dos mais velhos o testemunho de seu convívio com o Santo do Juazeiro. Ouvi muitas histórias de milagres e curas. A minha mãe também era dele devota. Juazeiro é um altar elevado em honra do Padre Cícero e sua gente não tolera desrespeito à sua memória. A decisão da Igreja coloca as coisas nos devidos lugares. Padre Cícero sempre é lembrado vestido nas severas vestes negras sacerdotais. A imagem da velhice é a que ficou, é a que foi imortalizada na majestosa estátua elevada no alto do Horto, de onde pode ver toda a cidade. Padre Cícero é apenas outro nome para o Juazeiro. A cidade e seu fundador formam uma unidade. Mas Padre Cícero não é apenas dos nascidos no Juazeiro ou dos que lá residem. Seu nome ganhou fama em todo o Nordeste e em todo Brasil. Seus seguidores são inúmeros. A cidade é tomada o ano todo por peregrinos em busca de sua fé – os famosos “romeiros” –, que não se esquecem de render homenagem a seu santo, que lhes serve também de identidade. O romeiro se orgulha de sua condição, pois se sente intimamente abençoado e em comunhão com Deus pelo simples invocar do Santo do Juazeiro. Ver a multidão cantar seus hinos de louvor nas muitas missas das diversas igrejas do Juazeiro é algo que toca qualquer observador. Não, os sertanejos não são tolos e nem crédulos. Expressam uma experiência interior que sempre foi comum em qualquer comunidade católica que tem seus santos. Quem não tem experiência equivalente não pode entrar no seu mundo de fé, de compaixão, de devoção. Não tem como se emocionar com algo que não sente. Mas se, nas agruras da vida, tiver que buscar o apoio do sobrenatural e se lembrar do Padre Cícero, é possível no ano vindouro apronte as malas e faça sua romaria no Juazeiro e cante com a multidão os benditos tão amados pelos fiéis. O Juazeiro está em festa. Viva o Padre Cícero!
A CARTA DA RECONCILIAÇÃO - TEXTO INTEGRAL
Excelência Reverendíssima
Dom FERNANDO PANICO
Bispo Diocesano de Crato
Papa Francisco e D. Fernando |
Trata-se de uma ocasião propícia para analisar também o movimento religioso em torno da figura do Padre Cícero Romão Batista (24 de março de 1844–20 de julho de 1934), que viveu no território dessa Diocese, figura histórica proeminente no Brasil, especialmente em toda a região do nordeste brasileiro. Em tal sentido, pareceu oportuno ao Santo Padre associar-se às comemorações jubilares com o envio da presente Mensagem à Diocese de Crato que põe em realce a figura de Padre Cícero Romão Batista e a nova Evangelização, procurando concretamente ressaltar os bons frutos que hoje podem ser vivenciados pelos inúmeros romeiros que, sem cessar, peregrinam a Juazeiro, atraídos pela figura daquele sacerdote.
Procedendo desta forma, pode-se perceber mais claramente a repercussão que a memória do Padre Cícero Romão Batista mantém, no conjunto de boa parte do catolicismo deste País, e, dessa forma, valoriza-la desde um ponto de vista eminentemente pastoral e religioso, como um possível instrumento de evangelização popular.
1.Excelência Reverendíssima, não é intenção desta Mensagem pronunciar-se sobre questões históricas, canônicas ou éticas do passado. Pela distância do tempo e complexidade do material disponível, elas continuam a ser objeto de estudos e análise, como atesta a multiplicidade de publicações a respeito, com interpretações as mais variadas e diversificadas. Mas é sempre possível, com a distância do tempo e o evoluir das diversas circunstâncias, reavaliar e apreciar as várias dimensões que marcaram a ação do Padre Cícero como sacerdote e, deixando à margem os pontos mais controversos, por em evidência aspectos positivos de sua vida e figura, tal como é atualmente percebida pelos fiéis.
Assim fazendo, abrem-se inúmeras perspectivas para a evangelização, na linha desta recomendação do Documento de Aparecida; “Deve-se dar catequese apropriada que acompanhe a fé já presente na religiosidade popular” (DA, 300).
2. É inegável que o Padre Cícero Romão Batista, no arco de sua existência, viveu uma fé simples, em sintonia com o seu povo e, por isso mesmo, desde o início, foi compreendido e amado por este mesmo povo.
A sua visão perspicaz, ao valorizar a piedade popular da época, deu origem ao fenômeno das peregrinações, que se prolonga até hoje, sem diminuição tanto no número como no entusiasmo das multidões que acorrem, anualmente, a Juazeiro. Essa amada Diocese tem procurado incorporar este movimento popular com um grande esforço de evangelização, orientando-o para o Cristo redentor do ser humano. Integrando seu aspecto popular e devocional em uma catequese renovada, fortalece e anima o romeiro em sua vida cotidiana, tornando-o sempre mais consciente do seu batismo e ajudando-o a viver sua vocação específica de cristão no mundo.
Além disso, utilizando-se de palavras do próprio Padre Cícero, inúmeros cantos de romaria traduzem o conteúdo da fé e da moral cristã para a compreensão dos simples e dos pobres, constituindo-se, dessa forma, instrumentos úteis de formação na fé; “Quem matou não mate mais, quem roubou não mais...”. O entusiasmo e o fervor com que os romeiros entoam estes hinos ecoam pelo nordeste brasileiro, como um convite constante a uma vida cristã mais coerente e fiel.
Várias Dioceses do nordeste brasileiro, fonte primária das romarias, em consonância com sua Diocese de Crato, têm procurado associar-se a esta forma de evangelização, que se tem demonstrado eficaz. A criação recente de um Conselho das romarias, junto a essa Diocese, composto também por representantes das demais Igrejas particulares da região é, sem dúvida, um elemento positivo a ser apoiado e estimulado.
3. Deixou marcas profundas no povo nordestino a intensa devoção do Padre Cícero à Virgem Maria.
A devoção mariana, especialmente à Nossa Senhora das Dores, mas também sob o título mariano das Candeias, foi bem acolhida e assimilada pelo povo fiel. Através delas, a influência positiva do Padre Cícero continua a exercer, junto aos romeiros, um papel educador da sensibilidade católica, que é uma das características marcantes desta população.
As grandes romarias realizadas por ocasião destas festas marianas ilustram o calendário evangelizador de Juazeiro e constituem momentos altos de formação católica.
Como não reconhecer, Dom Fernando, na devoção simples e arraigada destes romeiros, o sentido consciente de pertença à Igreja Católica, que tem na Mãe de Jesus Cristo um dos seus elementos mais característicos? Ajudando o romeiro a acolher Maria como Mãe, recebida do próprio Cristo ao pé da cruz do Calvário, o influxo de Padre Cícero fortalece, nos fiéis, o sentido de pertença à Igreja. É significativa a intensidade desta devoção mariana, inspirada por Padre Cícero, a marcar definitivamente a alma católica dos romeiros nordestinos.
Realizando sempre mais o trabalho evangelizador da Diocese de Crato, no acompanhamento pastoral deste movimento, tenha-se presente esta recomendação do Documento de Aparecida: “Para esse crescimento na fé, também é conveniente aproveitar pedagogicamente o potencial educativo presente na piedade popular mariana. Trata-se de um caminho educativo que, cultivando o amor pessoal à Virgem, verdadeira “educadora da fé” (DP 290) que nos leva a nos assemelhar cada vez mais a Jesus Cristo, provoque a apropriação progressiva de suas atitudes” (DA, 300).
4. Outro aspecto vivenciado por Padre Cícero e por ele transmitido aos seus devotos é a oração e o respeito pelos mortos, mais um elemento importante da fé católica.
A grande romaria do dia de Finados, iniciada pelo Padre, continua ainda hoje incentivando os romeiros a rezar pelos fiéis falecidos, transmitindo-lhes, também, de maneira simples mas eficaz, a consciência da dimensão escatológica da existência humana. Em uma vida marcada por tantos sofrimentos e dificuldades, a expectativa da bem-aventurança é, para eles, consolação e estímulo.
Uma iniciativa originada por esta sensibilidade tem acontecido, também, em várias Dioceses do nordeste> o encontro dos romeiros nas suas paróquias, além do dia 20 de julho, também no dia 20 de cada mês, recordando o falecimento do próprio Padre Cícero. Um marcante espírito penitencial, a busca pela confissão auricular, a grande participação da Santa Missa em horas bem matinais constituem uma experiência inesquecível para quem delas já participou e uma oportunidade evangelizadora ímpar.
Vem a propósito citar aqui este trecho de Aparecida: “Nossos povos não querem andar pelas sombras da morte. Têm sede de vida e felicidade em Cristo. Buscam-no como fonte de vida. Desejam essa vida nova em Deus, para a qual o discípulo do Senhor nasce pelo batismo e renasce pelo sacramento da reconciliação. Procuram essa vida que se fortalece, quando é confirmada pelo Espírito de Jesus e quando o discípulo renova, em cada celebração eucarística, sua aliança de amor em Cristo, com o Pai e com os irmãos. Acolhendo a Palavra de vida eterna e alimentados pelo Pão descido do céu, quer viver a plenitude do amor e conduzir todos ao encontro com Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida” (DA, 350). Temos aqui, Senhor Bispo, todo um programa de evangelização, a partir da sensibilidade do romeiro diante do mistério da morte e na proclamação confiante da esperança na ressurreição.
5. No momento em que a Igreja inteira é convidada pelo Papa Francisco a uma atitude de saída, ao encontro das periferias existenciais, a atitude do Padre Cícero em acolher a todos, especialmente aos pobres e sofredores, aconselhando-os e abençoando-os, constitui, sem dúvida, um sinal importante e atual.
Não deixa de chamar a atenção o fato de que estes romeiros, desde então, sentindo-se acolhidos e tendo experimentado, através da pessoa do sacerdote, a própria misericórdia de Deus, com ele estabeleceram – e continuam estabelecendo no presente – uma relação de intimidade, chamando-o na carinhosa linguagem popular nordestina de “padim”, ou seja, considerando-o como um verdadeiro padrinho de batismo, investido da missão de acompanha-los e de ajuda-los na vivência de sua fé.
É também uma característica do nordeste brasileiro a grande quantidade de pessoas que recebem, no batismo, o nome de “Cícero” ou de “Cícera”, em preito de homenagem e de gratidão a este sacerdote. O espírito das romarias transmite-se, assim, de pais para filhos e se perpetua por gerações.
É certo, por outro lado, que este apego afetivo do romeiro deverá dar lugar a um trabalho paciente de formação da sua fé, de maneira a leva-lo a um encontro pessoal com Jesus Cristo, como mostra o documento de Aparecida (cfe. nn. 276ss) traçando, com acuidade, as várias etapas a serem seguidas, para que, da atração pelas testemunhas, se chegue Àquele que é a Testemunha fiel e Redentor de todos; “O caminho de formação do seguidor de Jesus lança suas raízes natureza dinâmica da pessoa e no convite pessoal de Jesus Cristo, que chama os seus pelo nome e estes o seguem por lhe conhecem a voz” (DA, 277).
6. Finalmente, apraz-me salientar, Dom Fernando, mais um importante fruto da influência do Padre Cícero Romão Batista junto aos seus romeiros: o respeito que os peregrinos demonstram pela Igreja, na pessoa de seus sacerdotes e seus templos.
O afeto popular que cerca a figura do Padre Cícero pode constituir um alicerce forte para a solidificação da fé católica no ânimo do povo nordestino. O trabalho de evangelização popular a ser continuado, com perspicácia e perseverança, vem contribuindo certamente para o fortalecimento desta mesma fé, chamada a frutificar em atos concretos de compromisso cristão e de promoção dos mais autênticos valores humanos, pois “os desafios que apresenta a situação da sociedade na América latina e no Caribe requerem identidade católica mais pessoal e fundamentada. O fortalecimento dessa identidade passa por uma catequese adequada que promova adesão pessoal e comunitária a Cristo, sobretudo nos mais fracos na fé” (DA, 297).
7. Eis portanto, Senhor Bispo, alguns elementos positivos que promanam da figura do Padre Cícero Romão Batista, tal como é percebida, atualmente, pelo povo fiel que acorre a Juazeiro do Norte, dando vida às romarias e transformando-as em uma bela expressão de fé. Como já indicado, cada romeiro, desafiando a criatividade dos agentes de evangelização, abre novas perspectivas para atuar a missão da Igreja no contexto local, em que esta figura constitui o chamado inicial para um aprofundamento da fé católica e para sua manutenção.
Não podemos ignorar, no entanto, que outros aspectos da pessoa do Padre Cícero podem suscitar perplexidades. Deus, com efeito, na sua genial criatividade, serve-se muitas vezes de “vasos de argila” para realizar a sua obra de salvação, “para que esse incomparável poder seja de Deus e não de nós” (2Co 4,7) e, dessa forma, nós, seres humanos, nunca possamos nos orgulhar. Porque “aquele que planta, nada é; aquele que rega, nada é; mas importa somente Deus, que dá o crescimento” (1Co 3,7), Deus serve-se sempre de pobres instrumentos. Padre Cícero, na sua complexa história humana, não privada de fraquezas e de erros, é um claro exemplo disso. Sem dúvida alguma, foi movido por um intenso amor pelos mais pobres e por uma inquebrantável confiança em Deus. Ele teve, porém, que viver em um contexto histórico e social pouco favorável, empregando todas as suas forças e procurando agir segundo os ditames da sua consciência, em momentos e circunstâncias bastante difíceis. Se nem sempre soube encontrar as justas decisões a tomar ou adequar-se às diretrizes que lhe foram dirigidas pela legítima autoridade, não há dúvida, entretanto, de que ele foi movido por um desejo sincero de estender o Reino de Deus. Não nos esqueçamos, porém – como dizia São João Paulo II, na Audiência Geral de 30 de abril de 1986–, que, às vezes, “Deus escreve certo por linhas tortas” e se serve de instrumentos imperfeitos para realizar a Sua obra (cf.Lc 17,10). Portanto, é necessário neste contexto, dirigir nossa atenção ao Senhor e agradece-lo por todo o bem que ele suscitou por meio do Padre Cícero.
Este dado positivo, eminentemente religioso, justifica a atenção pastoral especial que essa Diocese de Crato presta ao fenômeno religioso de Juazeiro Norte, que tem sua origem justamente na ação odo Padre Cícero, valorizando a sua repercussão benéfica em vista da evangelização de todos aqueles que a ele sentem-se ligados. Assim, é garantida a sua reta orientação eclesial, trazendo para todos o inegável benefício de uma adequada evangelização, inserida na realidade e na mentalidade da população fiel desta região e com repercussões em todo o Brasil.
A presente mensagem foi redigida por expressa vontade de Sua Santidade o Papa Francisco, na esperança de que Vossa Excelência Reverendíssima não deixará de apresentar à sua Diocese e aos romeiros do Padre Cícero a autentica interpretação da mesma, procurando por todos os meios apoiar e promover a unidade de todos na mais autentica comunhão eclesial e na dinâmica de uma evangelização que dê sempre e de maneira explicita o lugar central a Cristo, principio e meta da História.
Ao mesmo tempo que me desempenho da honra de transmitir uma fraterna saudação do Santo Padre a todo o povo fiel do sertão do Ceará, com os seus Pastores, bendizendo a Deus pelos luminosos frutos de santidade que a semente do Evangelho faz brotar nestas terras abençoadas, valho-me do ensejo para lhe testemunhar minha fraterna estima e me confirmar
Papa Francisco e Cardeal Parolin |
devotíssimo no Senhor
Pietro Card. Parolin
Secretário de Estado de Sua Santidade
Vaticano, 20 de outubro de 2015.
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Nota de congraçamento com a Reconciliação da Igreja Católica e o Padre Cícero
A Universidade Regional do Cariri – URCA, em sintonia com a comunidade caririense e a Nação Romeira, rejubila-se com a decisão do Papa Francisco em promover a reconciliação da Igreja Católica com o Padre Cícero Romão Baptista.
Entende-se que este ato de reconciliação tem a capacidade de reparar um erro histórico que perdura há muitos anos, restabelecendo a justiça para com um dos maiores líderes religiosos e políticos do Nordeste e, por que não dizer, do Brasil.
Desde sua criação em 1987, a Universidade Regional do Cariri vem dedicando parte de sua atenção à pesquisa e divulgação dos fenômenos sócio-religiosos e culturais de devoção popular presentes na nossa sociedade, assim como se esmera em compreender, analisar e difundir este personagem histórico que é o Padre Cícero, em toda a complexidade que lhe é inerente.
Tais iniciativas atestam, portanto, que nos seus vinte e oito anos de atuação a Universidade Regional do Cariri se destaca indubitavelmente como a principal instituição no fomento de estudos acerca do fenômeno religioso e social que surgiu em torno do Padre Cícero ao longo de toda sua trajetória.
Neste sentido destacamos:
1.Realização de quatro Simpósios Internacionais sobre o Padre Cícero, romeiros, a beata e questões relacionadas.
2.A criação do Instituto José Marrocos de Pesquisa e Estudo Socioculturais do Cariri - IPESC, em 1989, elegendo como objetivo principal contribuir para a consolidação de um núcleo de ação com base na preservação da memória e do patrimônio cultural da Região do Cariri, promovendo estudos, cursos e exposições sobre a temática da religiosidade e do padre Cícero.
3.Realização de diversas pesquisas, levadas a cabo por professores e alunos nas mais diversas áreas do conhecimento e sob os mais variados olhares a respeito do fenômeno de devoção ao padre Cícero e seus possíveis desdobramentos.
4.Organização de eventos acadêmicos e culturais como seminários, fóruns, círculo de debates, exposições etc.
5.Participação na comissão responsável pelos estudos que fundamentaram o pedido de reconciliação (Comissão de Reabilitação Histórico-eclesial do Pe. Cícero)
6. Integração na comitiva que entregou a documentação ao Papa Bento XVI, em 2006.
Neste momento de alegria e celebração, reafirmamos que a Universidade Regional do Cariri – URCA - continuará exercendo o papel de fomentadora de estudos e de pesquisas relativas ao tema em evidência, apoiando ainda mais as ações nesse sentido e igualmente fortalecendo o IPESC, já assumindo o compromisso de realizar o 5º Simpósio Internacional sobre o padre Cícero, em 2017.
Revista Isto é.
A igreja faz as pazes com Padre Cícero
O Vaticano se reconcilia com o religioso mais popular do Nordeste, num processo inédito no catolicismo, e abre caminho para sua beatificação
Fabíola Perez (fabiola.perez@istoe.com.br)
"Meu padrinho é santo e ninguém queira duvidar." A canção entoada por milhares de romeiros em Juazeiro do Norte, interior do Ceará, parece ter sido ouvida pelos cardeais do Vaticano na semana passada. O padre mais famoso do Nordeste, uma das figuras religiosas mais conhecidas e cultuadas na cultura popular do País, obteve da Santa Sé uma carta de reconciliação, num gesto inédito na história da Igreja Católica. O anúncio foi feito pelo bispo da Diocese de Crato, Dom Fernando Panico, na cidade em que o sacerdote Cícero Romão Batista nasceu. Com a declaração, não há mais impeditivos para que o líder religioso brasileiro seja canonizado. O documento enviado pelo cardeal Pietro Parolin, o secretário de Estado do Vaticano, a pedido do pontífice argentino, relatava que Padre Cícero viveu uma fé simples, em sintonia com seu povo e, por isso mesmo, foi compreendido e amado. “Ele se tornou uma grande personalidade para a fé católica pelo poder de aglutinação com os mais pobres. E o papa Francisco tem mais sensibilidade com a fé popular”, diz padre Valeriano dos Santos da Costa, diretor da faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
DEVOÇÃO
Milhares de fiéis caminham em romarias até a estátua de 27 metros
de altura de Padre Cícero em Juazeiro do Norte (CE),
cidade que o sacerdote ajudou a fundar
O padre cearense arrebanhou uma legião de fieis, que seguem aos milhares para Juazeiro até hoje, pela forma com que se relacionava com as pessoas de menor poder aquisitivo. Apesar do grande carisma e apelo popular, o religioso foi suspenso pela Igreja em 1894, sob acusação de manipulação da fé. Em 1889, durante uma missa, a hóstia ministrada pelo sacerdote à beata Maria de Araújo se transformou em sangue. Segundo relatos, o fenômeno se repetiu diversas vezes e rapidamente a notícia do suposto milagre se espalhou. “As pessoas interpretaram como o sangue de Cristo e as romarias e procissões começaram a crescer cada vez mais”, diz padre Antonio Bogaz, diretor do filme “Sangue no Sertão”, sobre a vida do religioso. “Ao mesmo tempo, o bispo da região temia que, se a graça não se confirmasse, o povo poderia se afastar da fé.”
“Papa Francisco tem mais sensibilidade com a fé popular”
Padre Valeriano Costa, teólogo
A diocese de Crato formou então uma comissão de padres e profissionais da saúde para investigar o suposto milagre. Em outubro de 1891, o grupo concluiu que não havia explicação científica para os fatos e validou o milagre. Não convencido, o bispo convocou uma nova comissão, que considerou tudo uma enganação. Daquele momento em diante, a Igreja suspendeu as ordens sacerdotais de Padre Cícero. “Foi um período muito triste para ele, que chorava em discursos, andando pelas ruas e na porta da igreja”, afirma Bogaz. “As pessoas começaram então a chamá-lo para ser padrinho das crianças, já que não podia mais fazer batismos.” Em 1897, o Santo Ofício, hoje Congregação para a Doutrina da Fé, proibiu a permanência do religioso em Juazeiro, sob pena de excomunhão. Um ano depois, em Roma, o sacerdote chegou a ser absolvido, mas ainda assim, ao voltar para o Brasil, continuou impedido de celebrar missas.
TRAJETÓRIA
Carismático, Padre Cícero (1844-1934) enfrentou diversas punições da igreja,
desenvolveu trabalho social e teve importante atuação política no Nordeste
Tempos depois, uma nova carta do Vaticano chega à diocese de Crato com o pedido de excomunhão. Dom Quintino, um bispo com quem Padre Cícero tinha uma boa relação, não chegou a entregar o documento ao sacerdote. “Ele engavetou a carta e escreveu uma espécie de manual de defesa do padre, pedindo a retirada da excomunhão”, diz Armando Lopes Rafael, historiador e chanceler da Diocese de Crato. Segundo Bogaz, a penalidade só é válida quando o documento é assinado pelo religioso excomungado. Muitas décadas depois, em 2006, Dom Fernando Panico, da diocese de Crato, deu entrada no processo de reabilitação na Congregação para Doutrina da Fé. Foi então que uma equipe de direito canônico concluiu que a Igreja deveria promover uma reconciliação com o religioso, morto em julho de 1934. Segundo o chanceler Rafael, a diocese de Crato não pediu ao Vaticano a revisão dos supostos milagres, nem está com pressa de entrar com pedido de canonização. “Nossa preocupação era com os romeiros, que sustentaram a devoção ao longo de anos. O que pesou nessa reconciliação foi a massa de fiéis que estava sem um reconhecimento espiritual.”
Além de religioso, o sacerdote foi um político atuante. Segundo o autor do livro “Padre Cícero: poder, fé e guerra no sertão”, o jornalista e historiador Lira Neto, ele ajudou a criar um pacto entre as elites agrárias e as políticas do sertão. Foi também prefeito de Juazeiro do Norte por 18 anos. “Ele era a maior liderança da região e reunia vontades de diversos grupos sociais”, diz o chanceler da diocese de Crato. “A menina dos olhos dele era o desenvolvimento de Juazeiro, por isso usava as elites rurais para beneficiar as pessoas mais pobres.” Agora, os devotos do padre ou padim – como foi carinhosamente apelidado pelos fies – deverão aguardar ansiosos até que a figura mais carismática do Nordeste se transforme em santo brasileiro.
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http://www.ihu.unisinos.br/
Terça, 15 de dezembro de 2015
A reabilitação do Padre Cícero Romão Batista (1844-1934), o "Padim Ciço"
O bispo da diocese brasileira de Crato, Dom Fernando Panico, divulgou nesse domingo, 13 de dezembro, durante a missa na catedral, que o padre Cícero Romão Batista foi reabilitado pela Santa Sé das sanções impostas pela Igreja Católica de 1892 a 1916.
A nota é de Francesco Gagliano, publicada no blog Il Sismografo, 14-12-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Durante a homilia na catedral de Cariri, Dom Fernando Panico declarou: "Hoje, por ocasião da solene abertura da Porta Santa da Misericórdia, nesta catedral de Nossa Senhora da Penha, quero anunciar com alegria à cara diocese de Crato e aos peregrinos de Juazeiro do Norte, um gesto concreto de misericórdia, de atenção e de afeto do Papa Francisco para nós: a Igreja Católica se reconcilia historicamente com o padre Cícero Romão Batista".
Em uma mensagem assinada pelo cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado da Santa Sé, enviada a Dom Panico, se reconhece que a memória do padre Cícero Romão Batista lembra uma obra pastoral que pode ser considerada como um instrumento de evangelização popular.
"É sempre possível, com a distância do tempo e o evoluir das diversas circunstâncias, reavaliar e apreciar as várias dimensões que marcaram a ação do Padre Cícero como sacerdote e, deixando à margem os pontos mais controversos, por em evidência aspectos positivos de sua vida e figura, tal como é atualmente percebida pelos fiéis."
A carta afirma que "é inegável que o padre Cícero Romão Batista, no arco de sua existência, viveu uma fé simples, em sintonia com o seu povo e, por isso mesmo, desde o início, foi compreendido e amado por esse mesmo povo".
O Papa Francisco, como reconheceu o bispo de Crato, apresenta o Padre Cícero como "um exemplo de um sacerdote em uma Igreja 'em saída', aberta aos problemas e aos desafios dos tempos modernos, para uma nova evangelização".
Essa declaração é a meta final de um processo que começou há mais de 15 anos por Joseph Ratzinger, na época prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. A carta na íntegra será publicada no próximo dia 20 de dezembro, como declarou o porta-voz da diocese de Crato.
Padre Cícero Romão Batista
Por Arnaldo Nesti, revista Religioni e Società
Permitam-me chamar a atenção para a figura do padre Cícero Romão Batista (1844-1934), do qual me ocupei casualmente, mas com interesse próprio, nessas semanas, participando de uma das romarias em sua honra, que foi realizada nos primeiros dias de fevereiro, para a Candelária, em Juazeiro do Cariri.
Em poucas palavras, o Padre Cícero nasceu em Crato, no nordeste brasileiro, em 1844, e foi ordenado padre em 1870, depois de ter completado os estudos no seminário de Fortaleza. Ainda hoje é lembrado, no claustro do seminário local, o ano da sua ordenação.
Ele chegou em 1871 em Juazeiro, um vilarejo de Crato, na época, que também é sede episcopal, além de municipal. Em 1889, ao distribuir a Comunhão, uma partícula sangrou na boca de Maria de Araújo. O fato se repetiu. A notícia se espalhou. Começou-se a gritar o milagre.
A reação da Cúria episcopal acabou suspendendo o jovem Padre Cícero a divinis. Em torno do Padre Cícero, criou-se um movimento popular de devota admiração. Em 1898, o Padre Cícero foi convidado a se apresentar ao Santo Ofício em Roma. Apesar da suspensão temporária da pena, tendo voltado para Juazeiro, a sua pena foi reconfirmada.
O Padre Cícero, enquanto isso, também desempenhou um papel político, pelo desenvolvimento da comunidade de Juazeiro e pela sua autonomia administrativa e econômica, a tal ponto que, em 1913, foi eleito como o primeiro prefeito da nova comunidade que foi se formando, separando-se de Crato.
Nesse meio tempo, ele desempenharia um papel importante em todo o Ceará, enfrentando as dramáticas situações de conflito que, então, se apresentaram por causa das difíceis relações entre Crato e a nova Juazeiro. No coração do Nordeste, a região de Cariri é comparável à do Faroeste, expressão de profundos arcaísmos. Ausência do Estado, banditismo generalizado.
O Padre Cícero tornou-se objeto contínuo de peregrinação. A ele se dirigiam para pedir conselhos, orações, ajuda, cura. O Padre Cícero é pajé e cacique. Para alguns, o Padre Cícero não é nem um santo nem um herói. É um simples, humilde e devoto sacerdote igual a muitos outros do sertão do século XIX, que, por uma série de circunstâncias, transformou-se em uma das figuras mais controversas da história do Brasil.
Defensor involuntário de um milagre, foi denunciado pela Igreja como impostor, e por temerários líderes políticos como perigoso agitador, aclamado pelas massas famintas como santo capaz de libertar os pobres e os enfermos dos seus males.
Por um complexo jogo de fatores, um obscuro sacerdote se vê desempenhando tarefas das mais importantes na vida política do Ceará. Conservador por formação e convicção, sempre agiu como intermediário, visando a garantir o respeito da ordem vigente.
O Padre Cícero acumulou um pequeno patrimônio que deixaria de presente aos salesianos, enquanto, ainda obediente à Igreja, continuava esperando para ser readmitido no exercício do ministério sacerdotal. Para o povo, o Padre Cícero é vítima da injustiça e viveu como símbolo da virtude e da santidade.
Aos 90 anos, quando morreu, a notícia do seu falecimento parece incrível. Mas, ao seu redor, apesar da persistente hostilidade das instituições eclesiásticas, desenvolveu-se um grande movimento popular, a tal ponto que se tende a considerá-lo como um novo Francisco de Assis do Cariri.
A mais de 70 anos da sua morte, constantemente, mas especialmente por ocasião de algumas datas do ano, em Juazeiro, centenas de milhares de peregrinos chegavam em devota peregrinação, por devoção ao Padre Cícero e para manter uma promessa. Vinham, em particular, além do mês de fevereiro, no dia 24 de março, para lembrar a data de nascimento, e no dia 20 de julho, dia da morte.
Muitos chegavam com os pés descalços. Eu também pude me dar conta pessoalmente da maciça participação de multidões devotas. A imagem do Padre Cícero é sinal de proteção. Qual a posição da Igreja hoje? Por ocasião da recente peregrinação, durante a missa vespertina na praça dos peregrinos em frente ao santuário de Nossa Senhora das Dores, na presença do [então] cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Claudio Hummes, foi anunciada a formação de uma comissão para a reabilitação histórica e eclesiástica do Padre Cícero, expressando um sentimento de otimismo, a fim de poder reescrever uma nova história religiosa de Juazeiro e do Padre Cícero.
"O romeiro nunca levou a interdição do Padre Cícero a sério" - Entrevista com Gilmar de Carvalho
A reconciliação da Igreja Católica com o Padre Cícero, determinada pelo papa Francisco, abre perspectiva de reabilitação da história da beata Maria de Araújo. A opinião é do jornalista e pesquisador da cultura popular Gilmar de Carvalho. (Demitri Túlio)
OPOVO - Mesmo “impedido” pela igreja Católica, Padre Cícero foi “santificado” pelo povo, por romeiros. Qual a importância desse perdão da Igreja?
Gilmar de Carvalho - O perdão é simbólico. O romeiro sempre teve o Padre Cícero como santo, e o canonizou ainda em vida. A história do Padre é uma história de paciência, resignação, perdão. Ela nunca comandou um cisma, nunca se rebelou. Não tendo espaço na Igreja, passou para a política e fundou uma cidade que vibra e pulsa com ares de metrópole. Acredito que o perdão possa antecipar sua canonização, mas o tempo da Igreja é dilatado. Talvez não vejamos esse instante mágico.
OP - O perdão de Padre Cícero pela igreja Católica (ou do papa Francisco) terá que reflexo na cultura popular do Cariri?
Gilmar - O papa Francisco é realmente surpreendente. Foi buscar uma história que aconteceu há mais de cem anos, nos “cafundós” do mundo, e pôs sua marca de renovação e esperança. Creio que o romeiro nunca levou a interdição do Padre a sério, tanto é que ele continuava a ser reverenciado, desde sempre. Mas, vindo do Papa Francisco, não se pode perder de vista o alcance. Creio que o perdão reverterá em favor do Papa, de sua grandeza e de sua humildade.
OP - Com esse perdão para o Padre Cícero, a personagem beata Maria de Araújo passará a ser tratada de que maneira pelos romeiros e pela História?
Gilmar - Curioso como, apesar do protagonismo, a beata sempre foi coadjuvante neste episódio. Ela teve túmulo profanado, busto quebrado pelos vândalos e tem uma presença tímida no cordel. O movimento de mudança de atitude é recente. Creio que este perdão do papa vai aumentar a devoção à beata. Era algo da ordem do interdito. O padre podia ser reverenciado, ela não. Creio que os ventos passarão a soprar a seu favor, mais intensamente, a partir de agora.
OP - Há algum cordel que critique a punição da Igreja a Padre Cícero?
Gilmar - Vários. Os poetas de cordel nunca se calaram. Expedito Sebastião da Silva respondeu, de modo muito contundente, ao Padre Gomes, do Crato, que chamava a ação do Padre de “Apostolado do Embuste”. Abraão Batista e muitos outros cordelistas foram nessa mesma direção. Padre Cícero teve defensores ardorosos no cordel e não poderia ser de outro modo. Mais que uma literatura diversionista, o cordel teve um impacto de manifesto e foi sempre um importante documento destas questões do Juazeiro.
Não existem mais empecilhos para a beatificação do Padre Cícero
Armando Lopes Rafael
Beatificação é o passo imediatamente anterior ao da canonização; este último, o fim de um longo processo, no qual a Igreja Católica Apostólica Romana declara uma pessoa como santo(a). Mas, já ao atingir o estágio de “beato”, a Igreja Católica autoriza a veneração pública dessa pessoa. Entenda-se por “veneração” o “culto de dulia”, que tem por objeto honrar uma pessoa que nos remete a Deus. Fica claro que, ao ser declarado beato(a), o candidato(a) a santo(a) já se encontra no Céu e pode interceder por aqueles que lhe recorrem em oração.
Ora, é exatamente isso o que fazem milhões de devotos do Padre Cícero Romão Batista, há mais de 80 anos. Interessante relembrar que o “Padrinho Ciço” nunca teve seu processo de beatificação iniciado. Como este sacerdote morreu suspenso das suas ordens sacerdotais, a Igreja Católica não poderia tomar tal iniciativa. Necessário se fazia que as autoridades do Vaticano retirassem as condenações impostas, em vida, ao Padre Cícero para viabilizar um pedido de beatificação.
O impasse persistia. Os bispos da Diocese de Crato não se atreviam em pedir a Roma o levantamento das penas impostas ao Padre Cícero. Do outro lado, os devotos deste sacerdote argumentavam: “Mas Roma já não sabe que Meu Padrinho é santo?”. Quando chegou a Crato em 2001, o atual bispo desta diocese, dom Fernando Panico, nomeou uma comissão para estudar este problema. Em maio de 2006, o processo foi entregue no Vaticano. Nove anos depois, o papa Francisco envia uma mensagem reconciliando a Igreja Católica com a obra e herança espiritual do Padre Cícero. Agora não existem mais empecilhos para, num futuro próximo, ser iniciado o processo de pedido da beatificação do santo popular.
armando.rafael@terra.com.br
Historiador e leigo católico; chanceler da Diocese de Crato
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O POVO, 21-12-2015
Lira Neto reflete sobre a importância do perdão ao Pe. Cícero
Após mais de um século de punição, Igreja Católica perdoa o padre mais popular do Nordeste. Conversamos com o biógrafo Lira Neto sobre a importância dessa revisão
ransformar em sangue a hóstia entregue à beata Maria de Araújo foi o detalhe que desestabilizou a carreira eclesiástica de Padre Cícero Romão Batista. Afastado da Igreja, proibido de exercer o sacerdócio, enveredou pelos caminhos da política, tornando-se o primeiro prefeito da recém-emancipada Juazeiro do Norte, em 1911. Igualmente polêmica foi sua relação de proximidade com Lampião, de quem buscava apoio para combater a Coluna Prestes.
No último domingo, 13, o bispo da diocese do Crato, dom Fernando Panico, anunciou que havia recebido uma carta do Vaticano com a decisão do papa Francisco: Padre Cícero estava oficialmente reconciliado com a Igreja. A revisão do caso, solicitada há nove anos por dom Fernando, é o primeiro passo de um processo de reabilitação que pode culminar com a beatificação e canonização do Padim.
O jornalista e escritor Lira Neto, autor da biografia Padre Cícero: Poder, Fé e Guerra no Sertão, publicada em 2009 pela Companhia das Letras, acredita que a decisão da Igreja é parte de uma estratégia de resgate. “A Igreja necessita do capital simbólico do Padre para se contrapor à ofensiva das religiões neopentecostais”, opina Lira, que em entrevista a O POVO ainda fala sobre a transgressão da fé romeira e o força do Padim enquanto mito.
O POVO - Essa mudança de posicionamento da Igreja em relação ao Pe. Cícero altera o modo como enxergamos sua figura? Ou a fé dos romeiros e da população, de um modo geral, independe desse reconhecimento? Em que medida a revisão desses processos ajuda na configuração e fortalecimento da figura de “mito” que lhe é atribuída?
Lira Neto - A chamada “reconciliação” é, sem dúvida, um episódio histórico. Mas creio que o romeiro autêntico dispensaria, como sempre dispensou, a chancela da Igreja na questão relativa ao Padre Cícero. O que me interessa mais, em todo esse processo, é perceber como se dará a tentativa de cooptação da fé popular por parte do rito oficial. No meu entender, a fé romeira é essencialmente transgressora, uma vez que também sempre se mostrou independente da autorização eclesiástica dos padres, dos bispos e até mesmo do Papa para louvar um sacerdote maldito, proscrito da Igreja.
OP -Tenho a impressão de que grande parte da força mítica criada em torno de Pe. Cícero vem justamente dessa capacidade de contestar a Igreja, atuando de forma paralela e, inclusive, intervindo em assuntos de alçada política. A revisão do processo não destruiria um pouco dessa personalidade contestadora? Ou a Igreja precisa dessa dose de rebeldia?
Lira Neto - Na verdade, a Igreja necessita do capital simbólico do Padre Cícero para se contrapor à ofensiva das religiões neopentecostais no País e, de forma específica, no Nordeste. Não tenho dúvidas de que o Vaticano se libertou de grande parte dos preconceitos históricos e eurocêntricos que condenaram Padre Cícero à suspensão das ordens e, principalmente, condenaram a beata Maria do Araújo ao esquecimento e ao ostracismo. Mas é inegável que estamos assistindo, além disso, a um embate político vital, a uma disputa por territórios simbólicos, a uma guerra por rebanhos.
OP - Assistimos ao gradativo enfraquecimento da Igreja Católica junto às novas gerações - entre 2007 e 2013, o número de católicos declarados caiu de 64% para 57% no Brasil. A mudança no posicionamento da Igreja em relação ao Pe. Cícero pode ser uma tentativa de fortalecer sua presença no País?
Lira Neto - Sem dúvida. Todo o processo de reabilitação do Padre Cícero teve início em 2001, quando o então cardeal Ratzinger (futuro Bento XVI) enviou carta à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) sugerindo a reabertura dos arquivos históricos sobre Cícero Romão Batista. Desde aquele primeiro momento, o Vaticano entendia que a imensa legião romeira poderia ser um “antídoto” contra os neopentecostais e, assim, não deveria permanecer à margem da liturgia e do rito oficial.
OP - Continuamos precisando dessas figuras icônicas para direcionar nossa fé? A religião sobreviveria sem isso?
Lira Neto - Não me sinto autorizado para responder a essa pergunta. Não sou um homem de fé religiosa. Não reconheço padres, pastores ou quaisquer outros sacerdotes como mediadores de minha relação com o que costumeiramente se chama de “sagrado” ou de “divindade”.
OP - Você pretende acrescentar essa reviravolta histórica ao seu livro? Um novo capítulo, talvez, em uma edição atualizada?
Lira Neto - O livro Padre Cícero: Poder, Fé e Guerra no Sertão tem recebido reimpressões constantes. A obra já ultrapassou a marca de 50 mil exemplares vendidos. Pretendo, sim, numa das próximas tiragens, escrever um capítulo que atualize a história.
OP - A figura do Pe. Cícero pode ganhar um maior destaque junto aos agentes culturais depois dessa reviravolta? Você o vê como um possível “novo herói” literário?
Lira Neto - Padre Cícero continua sendo um personagem inesgotável. Além do mais, não acredito em biografias definitivas. Sem dúvida, outros livros virão. Com novos enfoques, baseados em novas documentações, escritos sob novas perspectivas e olhares.
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Com perdão a padre Cícero, Vaticano se concilia com o povo
RALPH DELLA CAVA
Finalmente a voz do Vaticano está em harmonia com a do povo. Foi preciso mais de um século e um quarto para Roma deixar os legalismos de lado e estender sua compaixão. Com isso, ela finalmente reconheceu aquilo que o povo do Nordeste sempre soube sobre o padre Cícero Romão Batista: em vida, ele foi um padre fundamentalmente fiel a seus votos sacerdotais e sempre à disposição de todos que buscavam sua ajuda; desde sua morte, tornou-se uma presença santa no cotidiano do povo.
Dizem que os pobres da região vieram inicialmente em busca de um milagre. Essa é uma verdade parcial e uma questão muito complicada: uma hóstia consagrada que o padre deu a uma costureira beata foi transformada na boca dela. O sangue que dali verteu foi declarado o de Jesus Cristo. Seguiram-se disputas teológicas, políticas e sociais; se um milagre de fato aconteceu, e que tipo de milagre teria sido, nunca foi decidido para a satisfação de todos, e é possível que nunca seja.
Mas o que foi transformado indiscutivelmente foi uma pequena vila numa encruzilhada no verdejante vale do Cariri. Em menos de um quarto de século, “Joaseiro”, como seu nome era escrito na época, iria florescer, como a árvore que lhe deu seu nome, tornando-se a segunda cidade mais rica do Estado do Ceará e o dínamo econômico de uma vasta região do interior do Nordeste que abrange partes de quatro Estados vizinhos.
E assim ela continua até hoje.
As pessoas que fizeram isso acontecer vieram de inúmeras vilas miseráveis do vasto, árido e muitas vezes inóspito interior, desde os seringais falidos do extremo Norte até os canaviais da região litorânea, que perdiam sua força econômica.
Eram pessoas migrantes, pessoas que “votavam com os pés”. Eram os mancos e os coxos, os saudáveis e jovens, os desafortunados e os ambiciosos. Homens, mulheres e crianças, todos migrantes em fuga, muito antes da crise dos refugiados que hoje acomete nosso planeta: pessoas que fugiam dos conflitos armados dos coronéis locais, das condições de servidão abjeta à qual tão frequentemente eram sujeitas, do flagelo da seca recorrente e da fome da miséria constante.
O que encontravam em Joaseiro? Tudo o que o bom padre tinha a oferecer: seus conselhos sábios, pontuais e muitas vezes repetidos; a oferta de trabalho honesto e a recomendação de fazê-lo bem; uma vida coletiva baseada nas bem-aventuranças, na comunidade e na fraternidade, no espírito cívico e na convivência com o próximo, nos frutos a serem colhidos do estudo, da educação e da oração.
Os hierarcas locais da Igreja viviam acomodados na cidade vizinha do Crato e, juntamente com os líderes cívicos do município, se aborreciam com a perda de hegemonia e opulência da cidade e com a ascensão meteórica de Juazeiro do Norte. Eles iriam literalmente passar por cima daqueles que veneravam padre Cícero. Os filhos e filhas nativos de Juazeiro eram vistos com desdém, considerados fanáticos ignorantes. Os romeiros e as pessoas que vinham fixar-se em Juazeiro em número cada vez maior muitas vezes eram desprezados –exceto, talvez, pelas moedas que deixavam nos cofres das igrejas– e eram mal recebidos pela maioria dos clérigos da região, por ordem de uma sucessão de bispos locais.
MUDANÇAS
Essa era, em grandes linhas, a situação vigente quando eu primeiro cheguei ao Cariri, em setembro de 1963. Mas em junho ou julho de 1964, e ao longo dos três meses seguintes de minha estadia, tudo isso começaria a mudar.
E isso se deveu em grande medida a um único padre, dom Francisco Murilo de Sá Barreto. Natural da cidade vizinha de Barbalha, sua morte, uma década atrás, foi marcada por homenagens em toda a região, sendo novamente lembrada neste mês de dezembro. Murilo combateu os preconceitos reinantes e aqueles que os promoviam.
Para ele não havia nada mais evidente que a fé e a prática religiosa dos inúmeros romeiros (que, segundo algumas fontes, teriam chegado a 2 milhões este ano). Murilo não era adepto da Teologia da Libertação, mas, mesmo assim, era movido pelos ventos transformadores do Segundo Concílio Vaticano, de modo que abraçava os romeiros, com seus ritos e orações arcaicos e às vezes sincréticos, como o “povo de Deus”. E, com relação à devoção e ao amor deles pelo Padre Cícero, ele a proclamava irrestritamente, sem hesitação.
Murilo formulou novos rituais: ele saudava os romeiros com entusiasmo quando passavam pela entrada da cidade, soltando fogos de artifício e cantando hinos, sentados sobre tábuas incômodas estendidas horizontalmente em fileiras paralelas nas caçambas de caminhões abertos a caminho da Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores, na outra extremidade da cidade. Ali chegando, ele os fazia lançar seus chapéus de palha, muitas vezes milhares de chapéus de palha atirados simultaneamente no ar, gritando “viva” três vezes em uníssono para saudar a Mãe de Deus e o Padre Cícero.
Murilo deu aos romeiros o respeito e a dignidade que muitos de seus predecessores no clero lhes haviam negado. Igualmente importante é o fato de que suas inovações abriram o caminho para os cidadãos de Juazeiro lançarem uma nova e decidida campanha (uma das muitas travadas desde 1898) para que a Santa Sé “reabilitasse” o Padre Cícero -ou seja, que o reconhecesse por suas virtudes, e não pelos defeitos que, no passado, Roma sempre teimou em insistir que fossem seus. Um novo bispo de Crato aproveitou o momento, e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil ratificou o apelo lançado por Juazeiro à Congregação para a Doutrina da Fé, a sucessora do Santo Ofício, a antes temida derradeira corte de apelação dos hereges.
PAPA FRANCISCO
Se Murilo se baseou nos ensinamentos de renovação do Segundo Concílio Vaticano para modificar a visão que a Igreja tem das devoções populares, a reabilitação do Padre Cícero parece dever muito ao papa Francisco.
O expurgo promovido pelo pontífice da corrupção nas mais altas esferas do Vaticano, o fato de ele abraçar os pobres e renovar a dedicação da Igreja à sua vocação de misericórdia, tudo isso de alguma maneira remete à devoção do próprio Padre Cícero, à sua compaixão e ao amor recíproco de seus fiéis.
A imprensa mundial divulgou que, justamente quando o papa Francisco abriu as portas da basílica de São Pedro, na semana passada, para proclamar o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, ele reconheceu publicamente o Padre Cícero como “padre exemplar”, um sacerdote para a Igreja “que está emergindo”, para uma igreja de nossos tempos.
Pouco importa se o Padre Cícero será beatificado e canonizado algum dia: ele já é há muito tempo o “Santo de Juazeiro”.
O brasilianista RALPH DELLA CAVA é pesquisador-adjunto sênior da Universidade Columbia, em Nova York. É autor, dentre outros livros, de “Milagre em Joaseiro” (Companhia das Letras), sobre Padre Cícero, publicado em 1970 e reeditado em 2014.
Tradução de CLARA ALLAIN
Fonte: www.pt.rodexo.com
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Homilia de D. Fernando anunciando a reconciliação de Padre Cícero
Anúncio da reconciliação pelo Jornal Nacional
Show pirotécnico no Horto em regozijo pela reconciliação do Padre Cícero. Video de Pautilha Ferraz
Papa Francisco reconhece o Padre Cícero e valoriza a Nação Romeira
José Carlos dos Santos
Professor de Filosofia da URCA/IFCE
Comissão de Pastoral de Romaria
É Tempo de um novo advento! Tempo de Misericórdia! Neste momento histórico, o Papa Francisco surpreende a todos e envia uma mensagem de reconhecimento Pastoral e Religioso ao Padre Cícero Romão Batista. Ao mesmo tempo, inspirado pela força do espirito de Deus, faz uma convocação a Igreja a uma atitude de reconciliação com os Afilhados do Padre Cícero, os Romeiros da Mãe de Deus.
Para o povo de Juazeiro e a nação romeira, talvez seja o maior gesto de amor neste ano da misericórdia. Esse documento tem um imenso valor simbólico e faz o reconhecimento das virtudes humanas, cristãs e sacerdotais do santo popular nordestino: o Padre Cícero.
Neste sentido, abandona-se a concepção de uma ideia de “reabilitação canônica eclesial” e se constitui essencialmente numa reconciliação histórica da figura do Padre Cícero. O Papa Francisco está reconhecendo o Padre Cícero como modelo de sacerdote, que por meio de sua vida apostólica, transformou-se no seguidor e discípulo de Cristo e sua vida é testemunha da pregação e vivência do evangelho. Olhando para a história de vida do Padre Cícero encontraremos sinais concretos de entrega, doação e serviço aos outros. Ele acolhia a todos que chegavam na sua casa. Um homem nas circunstâncias do seu tempo, estava preocupado com a situação do seu povo que vivia o flagelo da seca. Diante das doenças graves da sua gente, revela um gesto de amor.
No esforço de compreender a mensagem do Papa Francisco, encontramos respostas que até hoje inquieta a todos nós e desafia a academia e os pesquisadores do Padre Cícero: afinal, E..Quem é ele? O Papa Francisco responde:
• “Viveu uma fé simples, em sintonia com o seu povo”;
• “Deixou marcas profundas no povo nordestino a intensa devoção do Padre Cícero à Virgem Maria;
• “Educador da sensibilidade católica”;
• “Oração e o respeito pelos mortos”;
• “Atitude em acolher a todos, especialmente aos pobres e sofredores, aconselhando-os e abençoando-os”
• “Movido por um intenso amor pelos mais pobres e por uma inquebrantável confiança em Deus”
• “Agia segundo os ditames da sua consciência em momentos e circunstâncias bastantes difíceis.”
• “Movido por um desejo sincero de estender o Reino de Deus”
Neste contexto, o Papa revela os traços da personalidade do Padre Cícero nos aspectos humanos e revela um sacerdote virtuoso. Essas afirmações reconhecem as virtudes do Padre Cícero que o fez dele admirado e amado pelo povo nordestino. O papa interpretou com muita fidelidade e autenticidade o sentimento do povo nordestino e sua profunda relação com o padrinho e conselheiro Padre Cícero. Deste modo, podemos entender que essas atitudes de vida e suas virtudes são os verdadeiros sinais de santidade.
No programa a sombra do Pé de Juá no dia 31 de agosto na rádio Padre Cícero, abrimos o espaço para os ouvintes e internautas manifestarem sua opinião sobre as virtudes do Padre Cícero, que eles consideravam muito relevante. Em síntese, eles responderam:
• Amor a Jesus, especialmente na Eucaristia
• Devoção e entrega total a Nossa Senhora das Dores
• Compaixão e amor aos pobres, sem trégua, seguindo a ordem de Jesus
• Fidelidade à Igreja Católica da qual nunca se afastou
• Grande conselheiro, segundo os ensinamentos do evangelho e da igreja
• Humildade e paciência nas provações
• Pacificador nos sertões.
• Fé inabalável na misericórdia de Deus: valorização do sacramento da penitência, da reconciliação.
• Paz interior que não era deste mundo mas de Deus
• Vida segundo o espírito de Deus: perdão, pureza, consolação, entrega total e fé na divina providência.
Indiscutivelmente, encontramos a convergência entre o pensamento do Papa e a consciência do povo sobre o padre Cícero. Essa sintonia na compreensão das virtudes humanas e sacerdotais do Padre Cícero confirma e fortalece a dimensão mística da vida do Padre e sua obra multidimensional na construção de uma cidade fundada na força da oração e pelo trabalho. O sonho do Padre é que que, em Juazeiro, cada casa seja um “santuário” e uma “oficina”, juntando sempre oração e trabalho. Isso faz de Juazeiro um espaço sagrado para os romeiros e o Padre Cícero, o seu padrinho, protetor e conselheiro.
Adentrando na interpretando do documento, vamos encontrar afirmativas de reconhecimento das romarias e do romeiro. O papa destaca “o entusiasmo das multidões que acorrem, anualmente a Juazeiro”. Essa constatação é fundamental, pois demonstra a compreensão do fenômeno das romarias. Valorizam-se as expressões da piedade popular protagonizadas pelo romeiro nas suas orações, na sua devoção a Mãe das Dores, nos seus gestos e no canto dos seus benditos que o documento afirma: “O entusiasmo e o fervor com que os romeiros entoam estes hinos ecoam pelo nordeste brasileiro, como um convite constante a uma vida cristã mais coerente e fiel”.
Neste processo de reconciliação da Igreja com o Padre Cícero e o reconhecimento dos romeiros, o documento acentua as iniciativas populares de uma evangelização encarnada na vida e na realidade do povo. Destaca-se a devoção mariana, a participação na missa em memória ao Pe. Cícero, a busca pelo sacramento da penitência, oração pelos fieis falecidos e as romarias como “bela expressão de fé”. Lembrando sempre que os romeiros são os protagonistas da sua romaria nas suas expressões mais sublimes e autentica religiosidade.
Ao mesmo tempo, o documento ressalta a necessidade de uma ação evangelizadora da Igreja através da diocese de Crato de acolhimento, valorização e respeito a expressão do povo-romeiro. A vida do Pe. Cícero e a experiência de fé dos romeiros devem ser reconhecidas como referências de uma nova evangelização. Não se pode ignorar ou ser indiferentes. A igreja é convidada “a uma atitude de saída, ao encontro das periferias existenciais”. Nesta afirmativa, o papa reconhece o espirito de acolhimento e os conselhos do Padre Cícero aos pobres e sofredores do nordeste como “um sinal importante e atual” da ação evangelizadora da Igreja no Brasil.
Portanto, o documento enviado pelo Vaticano a Dom Fernando, assinado pelo Secretário de Estado como expressão da vontade do Papa Francisco é um marco histórico na relação da Igreja Hierarquia com o Padre Cícero e as romarias de Juazeiro. Ele promove a valorização da vida, da pessoa e da ação do padre Cícero na sua missão religiosa e pastoral. Ao mesmo tempo, convoca a Igreja Católica a um gesto de reconciliação com o próprio padrinho Cícero e a nação romeira. A atitude do papa Francisco é um ato de desprendimento, um gesto de humildade, perdão e misericórdia e revela para a história que o Padre Cícero é um homem de Deus, comprometido e solidário com seu povo e suas virtudes são sinais de esperança e de vida e que na verdade ele é santo na mente e no coração dos seus romeiros.
VIVA MEU PADRINHO CICERO!
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Mural con la imagen del Padre Cícero y del Papa Francisco
"Un instrumento de evangelización popular"
El Papa reconoce al padre Cícero como "ejemplo de sacerdote en una Iglesia en salida"
Francisco reconcilia al religioso con la Iglesia católica
Redacción, 15 de diciembre de 2015 a las 10:58
(L. M. Modino).- Durante este fin de semana se han sucedido a lo largo y ancho del Planeta las celebraciones de Abertura de la Puerta Santa en las diferentes diócesis y prelaturas del mundo católico, en las que se podrán ganar las indulgencias del Año Jubilar de la Misericordia. Momentos de emoción se han repetido en diferentes lugares, pero pocos han debido ser igual que en laCatedral de Nossa Senhora da Penha de Crato, donde coincidiendo con esta celebración el obispo diocesano, MonseñorFernando Panico, ha anunciado que el Papa Francisco ha reconciliado con la Iglesia Católica al Padre Cícero Romão Batista, fallecido en 1934 estando suspenso de órdenes.
El anuncio del obispo se ha visto seguido de la entrada en el templo catedralicio de la imagen del Padre Cícero, lo que ha provocado el alborozo de todos los presentes, reacción que se ha visto repetida posteriormente, como muestran las numerosas noticias en diferentes medios de comunicación y en las redes sociales.
En un mensaje firmado por el Cardenal Parolin, Secretario de Estado del Vaticano, y que recoge el expreso deseo del Papa Francisco, enviado a Monseñor Panico, se reconoce que "la memoria del Padre Cícero Romão Batista mantiene, en el conjunto de buena parte del catolicismo de este país, y, de esa forma, la valoriza desde un punto de vista eminentemente pastoral y religioso, como un posible instrumento de evangelización popular". Después de tantos años de distanciamiento entre la Iglesia Católica y el santo del pueblo nordestino, el texto muestra que "siempre es posible, con la distancia del tiempo y la evolución de las diferentes circunstancias, reevaluar y apreciar las varias dimensiones que marcaron la acción del Padre Cícero como sacerdote, y, dejando al margen los puntos más controvertidos, poner en evidencia aspectos positivos de su vida y figura, tal como es percibida actualmente por los fieles".
La carta señala que "es innegable que el Padre Cícero Romão Batista, a lo largo de su existencia, vivió una fe simple, en sintonía con su pueblo y, por eso mismo, desde el principio, fue comprendido y amado por este mismo pueblo", llegando a afirmar que "es necesario, en este contexto, dirigir nuestra atención al Señor y agradecerle por todo el bien que Él suscitó por medio del Padre Cícero".
El Papa Francisco, como reconoce el obispo de Crato, presenta al Padre Cícero como "ejemplo de sacerdote en una Iglesia en salida, para los tiempos actuales y la nueva Evangelización".
La fecha del 13 de diciembre va a quedar marcada en la historia de Juazeiro do Norte, la ciudad que creció bajo el influjo del Padre Cícero y que ahora, como señalaba el Vicario de Pastoral de la Diócesis de Crato, Padre Vilecí Vidal, "es tierra de romería reconocida por el Papa Francisco".
Lo sucedido con el Padre Cícero pone de manifiesto la importancia de la Iglesia Pueblo, de tantos devotos que continuamente pedían en sus oraciones la reconciliación del Padre Cícero por parte de la Iglesia. Ha sido más de un siglo de enfrentamientos entre los defensores y los acusadores del sacerdote más famoso del nordeste brasileño y este momento constituye un nuevo paso en un camino que muchos en Juazeiro do Norte esperan que acabe en la canonización del Padre Cícero, que la Iglesia Católica reconozca oficialmente lo que para muchos nordestinos es un hecho, la santidad del Padim Cícero.
Valga como ejemplo lo que me decía la mujer que me acogió en su casa en Juazeiro do Norte en el último Intereclesial de las Comunidades Eclesiales de Base, celebrado el año pasado, "sueño con ver un día la Iglesia del Padre Cícero construída". Hoy doña Vanda, como muchos brasileños nordestinos, debe estar feliz, pues ve que su sueño está un poco más próximo.
Papa Francisco autoriza reconciliação da Igreja com o padre Cícero
CNBB com informações e foto da diocese de Crato (CE).
A resposta do Vaticano veio nove anos depois do pedido feito pela Diocese do Crato, cidade onde Padre Cícero nasceu. O pedido foi que a igreja perdoasse o religioso cearense que morreu sem poder, por exemplo, celebrar missas.
A Igreja Católica suspendeu as ordens sacerdotais do Padre Cícero em 1894 por causa de um suposto milagre que se repetiu durante missas celebradas pelo religioso. Segundo historiadores, Padre Cícero dava hóstias que se transformavam em sangue na boca de uma beata. O episódio ficou conhecido como milagre de Juazeiro, mas foi negado pela Igreja Católica.
Agora, em carta ainda não divulgada na íntegra, o Vaticano reconheceu que "o afeto popular que cerca a figura do Padre Cícero pode constituir um alicerce forte para a solidificação da fé católica no ânimo do povo nordestino (...), e considerou que "é inegável que o Padre Cícero Romão Batista viveu uma fé simples, em sintonia com seu povo e, por isto mesmo, desde o início, foi compreendido e amado por este mesmo povo.
Todos os anos, Juazeiro do Norte, cidade que Padre Cícero fundou, no sul do Ceará, recebe dois milhões de fiéis. Romeiros sempre o consideraram santo.
A resposta do Vaticano veio nove anos depois do pedido feito pela Diocese do Crato, cidade onde Padre Cícero nasceu. O pedido foi que a igreja perdoasse o religioso cearense que morreu sem poder, por exemplo, celebrar missas.
A Igreja Católica suspendeu as ordens sacerdotais do Padre Cícero em 1894 por causa de um suposto milagre que se repetiu durante missas celebradas pelo religioso. Segundo historiadores, Padre Cícero dava hóstias que se transformavam em sangue na boca de uma beata. O episódio ficou conhecido como milagre de Juazeiro, mas foi negado pela Igreja Católica.
Agora, em carta ainda não divulgada na íntegra, o Vaticano reconheceu que "o afeto popular que cerca a figura do Padre Cícero pode constituir um alicerce forte para a solidificação da fé católica no ânimo do povo nordestino (...), e considerou que "é inegável que o Padre Cícero Romão Batista viveu uma fé simples, em sintonia com seu povo e, por isto mesmo, desde o início, foi compreendido e amado por este mesmo povo.
Todos os anos, Juazeiro do Norte, cidade que Padre Cícero fundou, no sul do Ceará, recebe dois milhões de fiéis. Romeiros sempre o consideraram santo.
Todos os anos, Juazeiro do Norte, cidade que Padre Cícero fundou, no sul do Ceará, recebe dois milhões de fiéis. Romeiros sempre o consideraram santo.
Autorizada pelo Vaticano a reconciliação de Padre Cícero com a Igreja
Padre Cícero Romão Batista, o conhecido sacerdote nordestino com fama de santo e que faleceu punido pelo Vaticano, foi reconciliado com a Igreja Católica. Assim anunciou o Bispo de Crato (CE), Dom Fernando Panico, neste domingo, 13. A ocasião para tornar público o fato foi a abertura da Porta Santa da Catedral de Nossa Senhora da Penha, pelo Ano da Misericórdia.
“O Papa, com a autoridade que ele tem, depois dos estudos feitos e todo o aconselhamento que houve, escutou a voz da misericórdia”, disse Dom Panico durante a celebração.
Padre Cícero, conhecido pelo seu envolvimento na política, sofreu suspensão da ordem sacerdotal por parte Santa Sé, em 1894, sob acusação de manipulação da fé. Segundo o site da Diocese de Crato, em 2006, Dom Panico formou uma comissão e deu entrada na Congregação para Doutrina da Fé, no Vaticano, ao processo de reabilitação de Padre Cícero, ou seja, a recuperação da ordem que havia sido suspensa. Mas, “como o padre já havia falecido e as punições cessadas, não tinha o que o Papa reabilitar”, afirma o texto da diocese nordestina.
Ainda segundo o site, “de 2006 a 2014, uma equipe de direito canônico do Vaticano estudou como resolver esta questão. Eles chegaram à conclusão de que a Igreja teria que ter uma Reconciliação”, apagando as oposições à ação do padre que faleceu em 1934.
Desde a morte de Padre Cícero, inúmeros de romeiros vão até Juazeiro do Norte, como grande expressão de fé.
“Como a ação do Padre Cícero se tornou crescente mesmo após a sua morte, eles disseram era oportuno a reconciliação da Igreja com o Padre”, disse o chanceler da diocese, Armando Lopes Rafael sobre a reconciliação.
A carta da reconciliação foi enviada pelo Papa Francisco à Diocese de Crato em outubro deste ano, assinada pelo Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin. No texto, ainda não divulgado na íntegra, é a apontada a relação entre Padre Cícero e a evangelização, ressaltando “os bons frutos que hoje podem ser vivenciados pelos inúmeros romeiros que, sem cessar, peregrinam a Juazeiro atraídos pela figura daquele sacerdote”.
“Procedendo desta forma, pode-se perceber que a memória do Padre Cícero Romão Batista mantém, no conjunto de boa parte do catolicismo deste país, e, dessa forma, valorizá-la desde um ponto de vista eminentemente pastoral e religioso, como um possível instrumento de evangelização popular”, afirma a missiva vaticana.
A figura do sacerdote foi em algumas ocasiões associada aos ideais comunistas. Entretanto, o próprio Padre Cícero se distanciou desta postura e afirmava que “o comunismo foi fundado pelo demônio”.
“Lúcifer é o seu chefe e a disseminação de sua doutrina é a guerra do diabo contra Deus. Conheço o comunismo e sei que é diabólico. É a continuação da guerra dos anjos maus contra o criador e seus filhos”, dizia.
Padre Cícero
Nascido em 1844 na cidade de Crato, Padre Cícero, foi ordenado em 1970, tendo ido para a região de Juazeiro dois anos depois. Em 1894, foi suspenso da ordem por manipulação da fé, em razão de um caso que ainda hoje é chamado “milagre da hóstia”.
O sacerdote, conforme relatos, teria dado a comunhão a uma mulher e a hóstia teria sangrado em sua boca. Pe. Cícero pediu que dois médicos e um farmacêutico estudassem o caso e estes alegaram que se tratava de algo inexplicável à luz da ciência.
O então Bispo de Fortaleza (CE), Dom Joaquim José Vieira, tendo conhecimento do fato, nomeou Comissão que o estudou e concluiu que não houve milagre. Com isso, o Vaticano suspendeu a ordem de Pe. Cícero.
A partir de 1911, o Padre Cícero passou a se envolver diretamente com a política. Neste ano, com a emancipação de Juazeiro, foi nomeado o primeiro prefeito do município. Mais tarde, foi eleito também para outros cargos políticos e participou da Sedição de Juazeiro, em 1914, junto com grandes coronéis, contra a intervenção do governo federal no Estado.
Nesta época, por causa do chamado “milagre da hóstia” muitas pessoas já peregrinavam a Juazeiro, com romarias cada vez maiores.
Diante disso, em 1916, a Santa Sé declara que Cícero estaria excomungado por ainda alimentar o fanatismo. Mas, por causa da saúde dele, que já se encontrava com seus 72 anos, o Bispo de Crato, Dom Quintino Rodrigues, evitou que o Vaticano aplicasse a excomunhão e exigiu dele uma retratação pública. Então, o Santo Ofício reviu a pena, e apesar de não decretar sua excomunhão, manteve suspensa a ordem sacerdotal.
Padre Cícero faleceu em Juazeiro do Norte no dia 20 de julho de 1934, aos 90 anos. Está sepultado na Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Juazeiro do Norte.
No próximo domingo, 20 de dezembro, em Missa nesta Igreja, Dom Fernando Panico irá fazer o anúncio oficial da reconciliação de Padre Cícero com a Igreja Católica aos romeiros de Juazeiro do Norte.
fonte: ACI
Ainda não foram divulgados todos os detalhes sobre o processo de reconciliação do padre Cícero Romão Batista (1844-1934) com a Igreja Católica, mas o que veio a público até agora vale quase como um estudo de caso sobre os rumos do catolicismo sob o comando do papa Francisco.
A afirmação pode parecer estranha para quem não é religioso, mas o fato é que a Igreja moderna costuma ter uma atitude bastante cética em relação a pregadores carismáticos, imagens "milagreiras" de santos e outros elementos da religiosidade popular.É comum que a hierarquia católica enxergue esse tipo de fenômeno como incentivo à superstição ou, na melhor das hipóteses, distrações que atrapalham a devoção à figura de Jesus Cristo, a qual deveria ocupar o primeiro lugar para os fiéis.
Apesar de sua fama de progressista e modernizador, porém, Francisco sempre foi um entusiasta das formas populares de devoção católica na América Latina.
Esse fato é ressaltado por vários de seus biógrafos, como o jornalista britânico Austen Ivereigh - era costume do então padre Jorge Bergoglio levar seminaristas para auxiliar comunidades carentes nas favelas de Buenos Aires e, ao mesmo tempo, participar de procissões, novenas e outras formas tradicionais de veneração à Virgem Maria e aos santos.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Já como arcebispo de Buenos Aires e cardeal, em 2007, Bergoglio coordenou o encontro dos bispos latino-americanos em Aparecida, ao qual compareceu o papa Bento 16 e que produziu um documento oficial ressaltando a importância da religiosidade popular.
Aliás, trechos desse documento são citados como argumentos em favor de padre Cícero na carta que sacramentou a reconciliação do sacerdote com a hierarquia católica, enviada por Pietro Parolin, atual secretário de Estado do Vaticano, para o bispo da diocese de Crato (CE), dom Fernando Panico.
O conteúdo completo da carta só será divulgado no próximo dia 20, mas outras palavras-chave do pontificado de Francisco também aparecem em outros trechos da mensagem divulgados pela diocese do Crato. "No momento em que a Igreja inteira é convidada pelo papa a uma atitude de saída, ao encontro das periferias existenciais, a atitude do padre Cícero em acolher a todos, especialmente aos pobres e sofredores, constitui um sinal importante e atual", escreve Parolin.
Além disso, o papa acaba de decretar um Ano da Misericórdia, período dedicado, na tradição católica, a uma espécie de anistia das dívidas espirituais dos fiéis. Padre Cícero parece estar incluído nessa grande "moratória". Provavelmente é prematuro pensar em beatificação e canonização do sacerdote, já que a carta alude delicadamente aos "pontos mais controversos" da biografia dele.
É preciso levar em conta ainda que o Nordeste pode ser considerado um dos baluartes da fé católica num país cada vez mais evangélico.
De acordo com dados da Datafolha, só 57% dos brasileiros ainda declaram que o catolicismo é sua religião, mas esse número sobe para 72% nos Estados nordestinos. Faz sentido, portanto, que a Igreja busque ressaltar os aspectos positivos de uma das principais manifestações populares do catolicismo na região.
Após decênios de humilhações, acusações infundadas, perseguições sem fim pela hierarquia Eclesial da Diocese de Fortaleza e do Crato, o Padre Cícero Romão Batista é suspenso de ordem e proibido pelo Vaticano de celebrar a Santa Missa.
Com a consciência tranquila submete-se a essa injustiça insuflada por inveja, e coloca em prática – sem revide e sem mágoa – os votos que fizera ao abraçar o chamado de Deus para exercer um sacerdócio puro e santo: a obediência integral; a pobreza evangélica e a castidade sem reservas.
A Igreja o degredara, mas o seu coração estava pleno da confiança no seu Senhor. A sua fidelidade foi sempre a sua marca registrada.
Continuou fazendo o seu apostolado entre os pobres, excluídos e necessitados. Acolhia a todos com o mesmo amor e atenção. Aos poucos, através de atitudes e gestos que revelavam a humildade e a fé dos quais o seu coração era possuidor, sua fama se espalha pelo sertão nordestino, fazendo do Juazeiro do Norte uma cidade cosmopolita.
Uma de suas frases mais conhecidas e que mais proferiu como Fundador daquela pequena vila: “Eu sou filho de Crato, mas Juazeiro é meu filho”.
Para nós, a demora foi grande; mas o tempo de Deus finalmente cumpriu-se no dia 13 de dezembro de 2015, durante a solenidade da Abertura das Portas da Catedral de Nossa Senhora da Penha, presidida por Dom Fernando Panico, dando início na Diocese ao Ano Jubilar Extraordinário da Misericórdia. Como primeiro fruto do Ano Santo, a Igreja abraça novamente “Meu Padim”, aquele que não deixou por um instante sequer de abraçar a Igreja.
Bendito Ano da Misericórdia promulgado pelo Papa Francisco. O Papa da misericórdia, dos pobres, dos excluídos, dos necessitados; o Papa da ternura, da bondade, do encontro e do amor: qualidades que marcaram a vida do “Padim Ciço”.
A justiça humano-divina foi realizada. A festa no céu e nos sertões nordestinos se perpetuará para sempre no coração e na alma de cada juazeirense, de cada romeiro, de cada romeira. “Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo”.
Editor do blog: http://ecatol.blogspot.com.br/
Depois da reconciliação, fieis agora pedem a beatificação
Muita gente está vibrando com a reconciliação da Igreja com o Padre Cícero, anunciada domingo passado pelo Bispo do Crato, e já pensa em sua beatificação. É claro que a diocese do Crato não está pensando nisso, pelo menos por enquanto. Mas que o caminha agora está aberto, disso não há a menor dúvida. Antes e durante mais de um século com a pecha de punido com a suspensão de ordens e banido da Igreja como embusteiro, seu nome jamais poderia compor uma lista para uma possível beatificação. Dentro desse contexto era absolutamente impossível. Porém, doravante com a ficha limpa na Igreja que finalmente reconheceu e agora exalta as suas virtudes e o apresenta como modelo, tudo fica mais fácil e é possível, sim, se pensar, mais tarde na sua beatificação. É prudente ninguém alimentar esperança de que isso aconteça logo, pois lá no Vaticano, como se sabe, parece que os cardeais não costumam primar pela rapidez em suas decisões. Mas por outro lado, não será bom cultivar o pessimismo nem descartar nenhuma possibilidade, pois como o papa Francisco é imprevisível pode haver alguma surpresa. Se depender de milagres, dizem os devotos mais ardorosos do Padre Cícero, não vai ter problema algum porque eles são abundantes e não será difícil comprová-los. Dom Fernando certamente já deve estar prevenido porque sabe que, se a cobrança da reabilitação depois consumada em reconciliação foi intensa, mais ainda o será quando a beatificação porventura estiver em curso. Na verdade, como é visível, os devotos do Padre Cícero só vão sossegar mesmo, quando ele for canonizado, com direito a altar nas igrejas, pois de fato é como tal que muitos sempre o consideram. Na minha opinião, a reconciliação do Padre Cícero abre caminho para sua beatificação que depois abrirá caminho para sua canonização. A resposta a isso só o tempo dirá.
Agora entendam o que significa a reconciliação do Padre Cícero:
“Reabilitação é recuperação de ordens que estavam suspensas. Reconciliação é apagar qualquer oposição a ação do Padre Cícero. A Diocese de Crato deu entrada ao processo de reabilitação pelo fato de o Padre Cícero ter morrido suspenso de ordem, porém como o padre já havia falecido e as punições cessadas, não tinha o que o Papa reabilitar. A Reconciliação é mais ampla que a Reabilitação pois, é uma aceitação e reconhecimento dos frutos feitos através das romarias e devoção ao padre Cícero, propiciando uma maior aproximação dos romeiros com toda a Igreja Católica”
Daniel Walker, escritor e pesquisador da vida do Padre Cícero
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Abaixo transcrevemos a carta que o bispo D. Fernando entregou pessoalmente ao papa em audiência privada a qual teve como anexo um livreto elaborado pela Comissão de Estudos da Reabilitação. O livreto conta os fatos mais importantes da vida do Padre Cícero e a sua importância para a Igreja.
Abaixo transcrevemos a carta que o bispo D. Fernando entregou pessoalmente ao papa em audiência privada a qual teve como anexo um livreto elaborado pela Comissão de Estudos da Reabilitação. O livreto conta os fatos mais importantes da vida do Padre Cícero e a sua importância para a Igreja.
Diocese de Crato – Ceará - Brasil
Regional NE I da CNBB
O Padre Cícero do Juazeiro
Para o Papa Francisco..............
outubro 2013
PADRE CÍCERO: E... QUEM É ELE?
“Sabe por que eu gosto do Padre Cícero?
Porque ele é um santo que fica no sol.
Os outros santos estão bem bonitinhos, na sombra;
mas o meu Padrinho sofre no sol junto com a gente!”
frase dita por uma romeira.
Crato, 23 de setembro de 2013
Santo Padre,
Com filial e fraterno afeto, permita-me partilhar uma inquietação pastoral e, ao mesmo tempo, pedir a Vossa solicitude e benevolência.
Reproduzo aqui, ao mesmo tempo que apresento este trabalho sobre o assunto em pauta, a carta que lhe enviei em 1 de agosto de 2013.
Sou Dom Fernando Panico, bispo diocesano da Diocese de Crato, no Nordeste do Brasil, província eclesiástica de Fortaleza, no Estado do Ceará. Nesta Diocese de Crato, que em 2014 celebrará o seu primeiro centenário, viveu o Padre CÍCERO ROMÃO BAPTISTA, um sacerdote-pastor que deu testemunho de comprovada fidelidade e de sofrida obediência à Igreja, entre a metade do século XIX e os anos 30 do século XX.
As vicissitudes históricas na vida do Pe. Cícero colocaram à prova sua índole e missão pastoral, enfrentando incompreensões, perseguições e sofrimentos morais, suportados por causa da obediência à disciplina eclesiástica. Por não negar os fatos extraordinários, exaustivamente analisados e comprovados, como o Santo Padre poderá ver mais adiante, de um chamado “milagre eucarístico” por ele presenciado, preferiu obedecer à sua consciência, discordando dos Superiores. Foi suspenso “a divinis” pelo seu Bispo Diocesano. O Santo Ofício, já no final da vida do Pe. Cícero, decretou-lhe uma excomunhão, que, porém, não foi executada, pois o Bispo não a notificou ao destinatário e devolveu o decreto ao Santo Ofício. Algum tempo depois, o Pe. Cícero morreu serenamente, confortado pelos Sacramentos da Igreja.
Hoje, por causa do grande impacto religioso e social que o Pe. Cícero continua a exercer, sobretudo pelo movimento das Romarias que todos os anos reúnem mais de dois milhões de peregrinos, na maioria absoluta pobres e excluídos, oriundos dos mais diversos Estados do Nordeste e do Brasil, é de grande proveito pastoral que se releiam os fatos ocorridos na trama da vida do Pe. Cícero, auspiciando a “reabilitação canônica” deste Sacerdote que o povo tem em conceito de santo.
Neste sentido, fui consultado em 2001 pelo Cardeal Joseph Ratzinger, então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que perguntava pela conveniência pastoral de proceder a um novo estudo sobre os “fatos de Juazeiro” e o Pe. Cícero. Assim, após mais de quatro anos de pesquisas e de estudos realizados por uma comissão de peritos e sob a contínua orientação da Congregação para a Doutrina da Fé, entreguei ao Papa Bento XVI, em maio de 2006, o resultado dos trabalhos, coletados em nove volumes. O Episcopado da Igreja do Brasil, quase com unanimidade, ratificou, assinando comigo, a minha petição ao Papa solicitando a reabilitação do Pe. Cícero.
Santo Padre, passaram-se sete anos desde a entrega daqueles novos estudos à Congregação para a Doutrina da Fé. Até hoje, não recebemos nenhuma resposta. Este silêncio preocupa a mim, bispo diocesano, preocupa a Igreja do Brasil e confunde os romeiros nordestinos, que confiam e rezam incessantemente pela causa da reabilitação do seu “Padrinho Cícero”. É muito importante para nós que o Papa Francisco, com atitude de leal misericórdia, liberte, em nome da Igreja a pessoa do sacerdote Pe. Cícero Romão Baptista de qualquer sombra de desobediência e indisciplina, como no passado ele foi acusado. Os pobres e todo povo brasileiro, saberemos ser sempre gratos e reconhecidos à Vossa Santidade.
Tenho a satisfação de entregar-lhe este opúsculo onde se conta, rapidamente a história deste Padre tão amado, dos problemas acontecidos com ele, das más interpretações feitas sobre suas ações e também um pouco, muito pouco, sobre as romarias em Juazeiro do Norte, mas onde o Santo Padre poderá ver-se a si mesmo como romeiro da Mãe das Dores, padroeira da cidade, pois que muitos desses romeiros já se apropriaram da sua imagem para transformá-lo, com muita alegria e respeito, em mais um deles. Por aí, Santo Padre, também se pode ver o quanto os romeiros se orgulham de sua religião Católica e o quanto estimam que, hoje, seja o Papa Francisco a nos conduzir.
Obrigado pela Vossa atenção. Saiba que a Igreja de Crato acompanha com muito amor o Vosso Ministério Petrino e pede ao Bom Pastor que Vos conceda saúde, paz e felicidade no Vosso serviço à Igreja e à toda humanidade. Obrigado pelo Vosso testemunho. Deus Vos guarde.
Rezamos, com confiança, uns pelos outros e pelo Papa Francisco em especial.
Com profunda estima e comunhão fraterna, peço a Vossa Benção.
Fernando Panico
Bispo Diocesano de Crato
PEQUENA BIOGRAFIA DE PADRE CÍCERO ROMÃO BAPTISTA
Nasceu na cidade do Crato, sul do Estado do Ceará, em 1844. Aos 12 anos, disse ele que, a exemplo de São Francisco de Sales, decidiu fazer votos de castidade e consagrar-se ao serviço de Deus, na Igreja Católica. Filho de pequeno comerciante que faleceu numa epidemia de cólera morbo o que obrigou Padre Cícero a abandonar os estudos para assumir o negócio da família e cuidar da mãe e de duas irmãs. Só pode ingressar no Seminário da Prainha, em Fortaleza, capital do Estado do Ceará, aos 20 anos, graças à ajuda financeira de seu padrinho. Em 1870, tornou-se padre. Diz-se que seu sonho era ir para a China como missionário, ou continuar no mesmo Seminário como professor, mas o seu lugar não seria nenhum desses. Ao ir para o Crato depois de ordenado para celebrar a sua primeira missa, foi convidado por moradores de um lugarejo chamado Juazeiro para celebrar as festas do Natal. Era fins de 1871.
Desse tempo, temos uma carta interessante e elucidativa da situação encontrada por Padre Cícero.
Senhor Bispo: [...] O que achei em lamentável estado foi a igrejinha do Juazeiro, que ao desabar a única torrinha que tinha para cima do teto este partiu pelo meio a madre, que sustentava o coro, ficando por este desastre o Juazeiro sem templo. Vão se arremediando todavia, mas será por pouco tempo, porque a frente está facheada por tal maneira, que admira já não ter desabado. Os paredões estão arruinados, o teto muito mal consertado e roto e desapareceu o coro. Celebra ali o Pe. José Gonçalves, só aos domingos e com os únicos paramentos que já eram usados em 1858. [...]
Raramente saiu daquele lugar e jamais deixou de cuidar, como Jesus lhe pedira, do povo pobre e sofrido do Juazeiro e do nordeste brasileiro.
Em sua ação pastoral esforçava-se por “salvar as almas e reformar os costumes semibárbaros desses sertões” nos moldes imprimidos pela Igreja do Brasil que projetava uma profunda reforma do catolicismo brasileiro, seja na formação do clero tornando-o mais culto e envolvido com as questões eclesiásticas e com a vida pastoral da Igreja, seja na “purificação” do catolicismo vivido pelos fiéis que viviam, na prática, um catolicismo que misturava heranças do cristianismo português pré-tridentino, das religiões indígenas e das religiões africanas. As noções fundamentais do cristianismo, portanto, conviviam com as práticas e crenças das outras heranças religiosas.
A capela de Juazeiro, começada no princípio do ano de 1875 pelo Padre Cícero Romão Baptista, sacerdote inteligente, modesto e virtuoso, é um monumento que atesta, eloquentemente, o poder da fé e da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana, pois é admirável que um sacerdote pobre tenha podido construir um templo vasto e arquitetônico em tempos anormais, quais aqueles que atravessava esta diocese, assolada pela seca, fome e peste... Dom Joaquim José Vieira, Bispo do Ceará em 20 de agosto de 1884.
Até 1889 o bem-querer de todo o clero, da hierarquia eclesiástica e principalmente do povo para com Padre Cícero cada vez mais se acentuava. Era um padre bom, zeloso, fervoroso, rígido e às vezes ríspido quando se tratava de fazer com que valessem os princípios morais da religião católica. Mas sempre tendo como valores fundamentais na condução daquele povo, os princípios evangélicos. Recebia a todos e não lhes perguntava se eram bons ou ruins. Juazeiro era abrigo para todos os que queriam mudar de vida, se converter, por isso, posteriormente Padre Cícero foi muito criticado. Seus famosos conselhos são exemplo:
Quem matou, não mate mais; ninguém tem o direito de ofender seu semelhante. Só Deus tem o poder de tirar a vida de suas criaturas.
Quem roubou, não roube mais; quem rouba está de parte com o inferno.
Quem bebeu, não beba mais, a cachaça é um poderoso enviado agente de Satanás.
Quem mentiu, não minta mais. A mentira é filha do diabo e o mentiroso, seu encarregado.
A exemplo de Jesus Cristo no Evangelho, que não condenou a pecadora, Padre Cícero também não condenava os pecadores, educava-os e alertava-os, convidando à conversão e à vida nova. Numa época em que ameaçar com o “fogo do inferno”, com os piores castigos vindos de Deus, é significativa esta atitude do Padre.
Em 1889, no entanto, um fato muda, para todo o sempre, a vida de Padre Cícero e (não é demais dizer assim) a vida de todo nordeste: na primeira sexta-feira do mês de março, quando na capela de Juazeiro um grupo de Beatas celebrava uma vigília em desagravo às muitas ofensas que o Sagrado Coração de Jesus sofria, ao dar a comunhão para uma delas, a hóstia sangrou em sua boca. Era a primeira das muitas vezes que a hóstia consagrada sangrou quando Maria de Araújo a recebia em comunhão. Em palavras do Padre Cícero:
Era na primeira Sexta-feira do mês de março de mil oitocentos e oitenta e nove. Então, a convite meu, fazia toda a Associação do S. Coração de Jesus, legitimamente instituída na Capela do Juazeiro, uma Comunhão reparadora pelas necessidades da S. Igreja; em desagravo às injurias feitas a N. Senhor, no Sacramento de seu amor e para a Conversão dos pecadores, tudo segundo as intenções do terno e adorável Coração de Jesus. Aí sente-se a devota chamada ainda não somente a comungar sacramentalmente e com maior amor; mas inda a uma comunhão espiritual da maior intimidade que com razão dir-se-ia miraculosa. Passara Maria de Araújo com outras senhoras em vigília, adorando em espírito de reparação ao S. S. Sacramento. Eram já cinco horas da manhã e atendido eu ao Sacrifício que tinham feito aquelas pessoas passando toda noite em adoração a N. Senhor, julguei conveniente dar-lhes a comunhão; o que efetivamente se deu. Pela primeira vez a vi então tomada de um rapto extático, resultando segundo ela afirmara a transformação da Sagrada Hóstia em sangue, tanto que além do que ela sorveu, parte caiu na toalha e parte caio mesmo no chão; do que tudo foram testemunhas seis a oito pessoas que com ela tinham comungado. Durante o tempo quaresmal daquele ano e principalmente as quartas e sextas feiras de cada semana, observaram-se aqueles fenômenos; o que deu-se também uma vez, no sábado da Paixão no mencionado ano, depois do que passaram a ser diários até a Ascensão do Senhor. Na festa do Preciosíssimo Sangue reproduziram-se os fenômenos de que me ocupo.
Jesus Cristo dizia à Beata Maria de Araújo que estava derramando o seu precioso sangue no sertão do Ceará para fazer de Juazeiro um “lugar de salvação para as almas”.
Beata Maria de Araújo
O caso vai à Santa Sé, à Sagrada Inquisição Romana e Universal e de lá, em 1894, chega a decisão de que tais fenômenos são “prodígios vãos e supersticiosos”. Decisão e decreto da Sagrada Inquisição Romana Universal sobre os fatos que sucederam no Juazeiro, Diocese de Fortaleza.
Na Congregação de quarta-feira, 4 de abril de 1894, tendo discutido os fatos que aconteceram em Juazeiro, da Diocese de Fortaleza, os Eminentíssimos e Reverendíssimos Padres Cardeais da Santa Igreja Romana, Inquisidores Gerais, pronunciaram, responderam e determinaram, como segue:
- Os pretensos milagres e outros fatos sobrenaturais que se dizem de Maria de Araújo são falsos e manifestamente supersticiosos, e implicam gravíssima e detestável irreverência e ímpio abuso da Santíssima Eucaristia; e por tudo isto são reprovados pelo juízo apostólico e devem ser por todos reprovados e condenados e havidos como tais.
Para que se imponha um fim a estes excessos e ao mesmo tempo se previnam mais graves males que daí se possam seguir:
1º. Seja interdito pelos Ordinários de Fortaleza e de todo o Brasil, o concurso de peregrinos ou acesso de curiosos em visita a ela e às outras mulheres culpadas na mesma causa.
2º. Quaisquer escritos, livros ou opúsculos editados ou que, por acaso venham a sê-lo (o que não aconteça) em defesa daquelas pessoas e daqueles fatos sejam tidos por condenados e proibidos, e, na medida do possível, sejam recolhidos e queimados.
3º. Tanto a estes sacerdotes, como a outros, sacerdotes ou leigos, proíbe-se que, por palavras ou por escrito, tratem dos pretensos supracitados milagres.
4º. Os panos manchados de sangue e as hóstias de que se tratou, e todas as outras cousas guardadas como se fossem relíquias, sejam pelo mesmo Ordinário recolhidas e queimadas.
Assinado - R. Cardeal Monaco
O Decreto foi enviado de Roma pelo Cardeal Monaco ao Internúncio Dom Jerônimo Maria Gotti que recomendava que os itens do Decreto referentes à Maria de Araújo e aos sacerdotes implicados poderiam ser retirados do texto a ser divulgado ao público, isto é, os itens 1º e 4º:
1º. À Maria de Araújo seja imposta uma grave e longa penitência, e, o quanto antes, seja colocada em uma casa piedosa ou religiosa, onde permaneça a critério do Ordinário, sob a direção de um confessor piedoso e prudente, e instruído sobre os antecedentes dessa mulher.
4º. Todos e cada um dos Sacerdotes, bem conhecidos do Bispo, tanto os que trataram de modo execrável a Santíssima Eucaristia, como os seus cúmplices, sejam obrigados a exercícios espirituais pelo tempo determinado pelo Bispo e, de acordo com a gravidade do crime, sejam pelo mesmo punidos gravemente, ficando proibido qualquer relacionamento deles com a citada mulher, nem mesmo por carta. Seja-lhes proibida também toda a direção das almas, pelo tempo e a maneira que forem determinados pelo Bispo.
A partir deste decreto, o calvário de Padre Cícero e dos que acreditavam que em Juazeiro havia acontecido um milagre (e também dos que não acreditavam nisso) se estabeleceu. Padre Cícero e outros padres, inclusive os comissários do primeiro inquérito e o reitor do Seminário do Crato, foram suspensos de ordens; as celebrações religiosas e a administração dos sacramentos foram proibidas em Juazeiro; as beatas condenadas a cárcere privado.
Até que em 1898, porque as penalidades continuavam e eram cada vez mais duras, como por exemplo, obrigá-lo ao exílio de Juazeiro, Padre Cícero resolve viajar a Roma para obter o perdão diretamente do Santo Padre Leão XIII. E foi exatamente o que aconteceu: o Santo Ofício o absolveu. O Cardeal Parocchi, no dia 01 de setembro de 1898, comunica ao padre que foi absolvido das censuras, recebeu a faculdade de celebrar a Santa Missa e a licença de voltar para casa em Juazeiro. Alguns meses depois Dom Joaquim, alegando não ter recebido qualquer relatório de Roma, volta a impingir-lhe novas penalidades: nova suspensão de ordens, novo exílio a ser vivido na cidade de Crato, etc. até que em 1917 recebe da Santa Sé o decreto de excomunhão pela sua participação na chamada “Sedição de Juazeiro” que nunca lhe foi aplicada pelo bispo Dom Quintino da já criada Diocese de Crato, provavelmente por considerá-la injusta.
Estátua do Padre Cícero na Colina do Horto que continua a zelar por Juazeiro do Norte
Por não poder mais exercer sua atividade como sacerdote católico insere-se na política para continuar promovendo o bem para seu povo. Foi o primeiro prefeito de Juazeiro, vice-governador do Estado do Ceará e deputado federal, e mesmo assim, exerceu esses cargos sem nunca sair de Juazeiro para não abandonar a terra que Jesus mesmo havia tornado sagrada.
Padre Cícero morreu em Juazeiro em 1934, participando dos sacramentos da Igreja Católica e sem nunca ter deixado de acolher, aconselhar, acarinhar e proteger o povo sofrido do nordeste que o chama até hoje de “Meu Padrinho Padre Cícero”, “Meu Padim Ciço”.
DUAS QUESTÕES PROBLEMÁTICAS:- Os fatos extraordinários do sangramento da hóstia em Juazeiro
Ordenamos ainda ao mesmo Reverendo Cícero se desdiga no púlpito da proposição que avançou afirmando que o sangue aparecido nas Sagradas Partículas era Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, pois que não o é nem pode ser, segundo os ensinamentos da Teologia Católica.
Deve-se destacar que, na interpretação de Padre Cícero, o referido acontecimento era compreendido não como um novo evento na história da Salvação (por exemplo, uma segunda redenção), mas na mesma linha de outros milagres eucarísticos reconhecidos pela Igreja, tais como o de Bolsena de 1263 que deu origem à festa de Corpus Christi. Neste sentido, para Padre Cícero o ponto central era a existência do milagre que, à semelhança de outros milagres eucarísticos aceitos pela Igreja, foi interpretado como prova da transubstanciação frente à incredulidade que à época, no Brasil, se manifestava pelas teorias filosóficas do positivismo e racionalismo que adentrava nos meios cultos e nos eclesiásticos.
Com a impossibilidade de Padre Cícero, em consciência, se retratar publicamente, modificando seu juízo sobre o fato e julgando o Bispo ser insuficiente que o mesmo sacerdote guardasse um silêncio obsequioso sobre os acontecimentos, suspende-o de ordens.
Observe-se que o Padre Cícero acata a decisão das autoridades eclesiásticas dentro dos limites possíveis de sua consciência mantendo de modo contínuo e permanente um silêncio obsequioso. Além disso, impõe a todos os fiéis que também observem rigorosamente esse silêncio. É bom lembrar ainda que a transformação ocorreu também em ocasiões em que não foi Padre Cícero nem o celebrante nem o administrador da eucaristia à Beata Maria Araújo.
Com a distância do tempo, os estudos e documentos existentes permitem concluir não ser plausível que Padre Cícero estivesse envolvido em qualquer fraude relacionada a estes fatos extraordinários, nem que a beata, se o estivesse, não participasse ao padre, seu confessor, que se tratava de um embuste.
b) A atuação política do Padre Cícero
“Nunca fui político” disse Padre Cícero em seu testamento, porém, para muitos, isto representou uma contradição para quem exerceu os cargos de Prefeito do Juazeiro, Vice-Governador do Estado do Ceará e foi eleito deputado federal, embora nunca tenha tomado posse nesta função. Atribui-se também ao Padre Cícero ter sido um autêntico Coronel do Nordeste e grande proprietário de terras, nas quais alocava os pobres da região e os adventícios que chegavam como romeiros, sujeitando-os econômica e politicamente e alinhando os seus votos por meio de um esquema férreo de lealdade e obediência. Imputa-se também ao Padre Cícero, tal qual aos demais Coronéis, promover a violência social, fornecendo abrigo a bandidos e cangaceiros, aproveitando-os na consecução de seus objetivos políticos. Acusa-se ainda o Padre Cícero de ter fomentado junto com outros chefes oligárquicos a deposição de um governo legalmente constituído, acarretando a morte de muitos cidadãos no episódio conhecido como a Sedição do Juazeiro, de 1914.
As concepções e visão de mundo do Padre Cícero inserem-se muito mais na ambiência de uma espiritualidade mística, do que na de uma lógica política constituída por estratégias em torno do jogo do poder.
Os meandros da condução política do Juazeiro foram sempre confiados pelo Padre Cícero a um mentor mais afeito a lógica da política, como o Padre Peixoto, no caso do movimento pela emancipação política do Juazeiro, ou o Dr. Floro Bartolomeu, no caso das relações com a oligarquia regional e o Governo Federal. Os eixos constitutivos das ideias político-sociais do Padre Cícero foram a caridade e a pacificação de acordo com sua exegese dos princípios evangélicos. Aos olhos de hoje, pode-se constatar uma certa ingenuidade nestas formulações, que desconsideram as mediações da dinâmica político-social, enredando-se muitas vezes numa visão e ação conciliadora com as estruturas de dominação da época. Consideramos que foi a convicção de fé nesses princípios últimos – caridade e paz – que regeram e revestiram suas ideias e ações, quer no campo da política, do social e da economia. Essas ideias e ações podem ter produzido equívocos político-sociais, mas não descaracterizaram suas motivações de fundo.
b.1 Pacto dos Coronéis
Padre Cícero viveu em uma sociedade caracterizada pelo latifúndio e pelo poder absoluto dos grandes proprietários de terra. Aos deserdados da terra só restava viver nas propriedades dos Coronéis e alinhar-se incondicionalmente a eles. Outras alternativas possíveis neste sistema eram a integração a bandos de cangaceiros ou o seguimento de algum líder religioso autônomo que organizava comunidades religiosas como Canudos e Caldeirão.
Padre Cícero relacionou-se com os diversos grupos que formavam a estrutura social da sociedade de sua época, sem se identificar com nenhum deles e agindo sempre segundo os princípios da caridade cristã e da busca da paz, como quando elaborou o Pacto dos Coronéis do Cariri, em 1911. Este foi um acordo emblemático da acomodação de interesses rivais dos poderosos, que apesar de deixar inalterado o esquema de controle do poder na região, buscava evitar o conflito sangrento. Com esse pacto dos Coronéis, conseguiu-se, depois de muitos anos, a paz no Cariri, favorecendo a população, principalmente o roceiro-agregado e o pequeno comerciante, vítimas mais constantes das guerras dos poderosos. Nos conflitos armados raramente os Coronéis morrem, mas sim os seus agregados, que lutam por eles. Para o Padre Cícero, a conciliação entre os interesses conflitivos era a melhor forma de evitar a violência contra o pobre sertanejo. A sua aceitação do cargo de primeiro prefeito de Juazeiro pode ser interpretada como mais um ato de conciliação que visava dirimir os conflitos entre as facções internas da “cidade santa”: comerciantes e fazendeiros.
b.2 – Padre Cícero latifundiário
Quanto ao perfil de Coronel atribuído ao Padre Cícero, decorrente do fato de haver se tornado um grande proprietário de terras, o que se verifica é que a riqueza pecuniária acumulada em seu nome, fruto de doações, em nada alterou seu estilo de vida austero e pobre. Ao contrário, a renda obtida de suas propriedades e os donativos recebidos foram repassados aos pobres, às obras de caridade e à própria Igreja. Encaminhou para as terras de sua propriedade – que funcionavam como uma verdadeira reserva de trabalho – aqueles que acorriam ao Vale do Cariri, famintos e desempregados. Da mesma forma reivindicou para os roceiros o arrendamento de terras devolutas do Governo próximas à cidade de Juazeiro.
Distinta da autoridade clientelista de um Coronel, o Padre Cícero exerceu uma autoridade paternal-religiosa. Os títulos conferidos a ele de Padrinho e Patriarca espelham a sua real condição na sociedade. Sua relação com a população do sertão não se constitui pelo mandonismo e sujeição, como era exercida pelos Coronéis em relação aos seus agregados. Superando a lógica das facções, que regia as relações sociais naquele contexto, Padre Cícero se torna o Padrinho de todos os órfãos deserdados do sertão. Assim, Padre Cícero é o grande Conselheiro e Patriarca, que se envolve com todos os aspectos do cotidiano dessa sociedade, tais como métodos de higiene, noções de agricultura, conselhos matrimoniais, conciliação de conflitos familiares e de vizinhança.
b.3 Protetor de cangaceiros
Lampião e Maria Bonita, casal de cangaceitos
b.4 Sedição de Juazeiro
Por fim, a acusação do Padre Cícero ter tido a responsabilidade pela conflagração que sacudiu o Ceará em 1914, na “Sedição de Juazeiro”, só pode ser feita se se desconsiderar o que uma historiografia minimamente competente aponta: que foram os aliados políticos do Padre Cícero, os coronéis acyolistas, os verdadeiros protagonistas do conflito.
Os romeiros, atendendo ao chamado do Padre Cícero,
também participam do levante
Pode-se ler neste bilhete do Padre Cícero:
O Sr. José Xavier,
Vai como meu encarregado para ajudar na boa direção dos combatentes e soldados de Nossa Senhora das Dores, que votam pela minha ordem. Peço que o atendam como a mim. Todos se comportem como filhos da Santíssima Virgem e meus. Que a todos abençoo e espero que me obedeçam nas pessoas que mando, os chefes Pedro Ribeiro Borba e mais chefes que dirigem.
A Santíssima Virgem abençoe a todos. Juazeiro, 19 de março de 1914.
Pe. Cícero Romão Baptista.
Não atirem à toa e de festejo, como alguns gostam de fazer.
Quanto às depredações e saques perpetrados pelos combatentes do Juazeiro nas propriedades dos seus adversários nas cidades de Crato, Barbalha e mesmo na capital Fortaleza, uma análise mais acurada mostra que eles foram feitos pelos jagunços dos coronéis e não pelos romeiros do Padre Cícero. Os mandamentos do Padre Cícero aos combatentes do Juazeiro eram: “Não toquem no alheio, não bebam cachaça, não bulam nos pertences dos outros”, são conselhos que representam seu compromisso com a não-violência em tempos de guerra.
Pode-se concluir, por fim, que a superação das dificuldades, a caridade e a pacificação são os objetivos da ação política, social e econômica do Padre Cícero na qual se nota, sempre, como modelo, o Evangelho.
OS DOCUMENTOS ENVIADOS PARA A CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ
Dom Fernando conferindo os documentos
Os jornais, rádios, televisões, sem acesso à documentação original, reproduziram, ao longo de muitos anos, o que nos livros encontravam. Raros eram os livros que procuravam dar outra versão da história que não aquela que condizia com esses Decretos.
Até que em maio de 2001, a Congregação para a Doutrina da Fé encaminha um documento à Diocese de Crato perguntando pela possibilidade de abrir-se os arquivos em posse dessa Diocese a fim de se elucidar o caso do Padre Cícero Romão Baptista. Essa carta chegou em vésperas da tomada de posse do novo bispo: Dom Fernando Panico, que assumiu a Diocese em 29 de junho de 2001.
Sua primeira atitude em relação a esse pedido, depois de ouvir exaustivamente os pesquisadores, escritores, estudiosos da região, foi criar, em conjunto com a CNBB, uma comissão de estudos, com especialistas de todo Brasil, para subsidiá-lo na compreensão da “questão religiosa de Juazeiro” também por causa dos novos documentos que seriam abertos no Departamento Histórico da mesma Diocese.
Grupo que compunha a Comissão de Estudos
Esta Comissão trabalhou durante 5 anos e ao final apresentou diversos documentos ao Bispo nos quais recomendava que fosse pedida a revisão do processo que havia na Santa Sé contra ao Padre Cícero em vistas de sua possível reabilitação histórico-eclesial. Definiu-se que, dadas as muitas distorções históricas que chegaram à Congregação para a Doutrina da Fé, mandar-se-ia todos os documentos originais que, estes sim, eram capazes de elucidar de vez, a história de Juazeiro. Assim foi feito. Nenhum documento, mesmo aqueles que pudessem depor contra a pessoa do Padre Cícero, foi negligenciado. Todo trabalho dos que prepararam os volumes que foram apresentados estão baseados e fundamentados quase que exclusivamente em fontes primárias: as cartas, as apelações, os registros, os inquéritos e em ordem cronológica, o que realmente possibilita uma outra visão da história do Juazeiro. São nove volumes:
Foto da Petição de Dom Fernando
d) DIOCESE DE CRATO, Comissão de estudos. Revisão histórica da questão religiosa de Juazeiro. Padre Cícero, o povo, o clero (pro-manuscripto). Anexo. Bibliografia sobre o Padre Cícero. Romarias. Juazeiro e temas análogos. Material em um volume, de 2006.
e) DIOCESE DE CRATO, Comissão de estudos. Revisão histórica da questão religiosa de Juazeiro. Padre Cícero, o povo, o clero (pro-manuscripto). Anexo, em dois volumes, de 2006, contendo as Cartas Digitadas, de 1862 a 1894 (primeiro volume) e de 1895 a 1934 (segundo volume), com 613 páginas.
f) Dois volumes contendo abaixo assinado coordenado por Dom Joel Ivo Cataplan, bispo auxiliar de São Paulo em 1991.
g) PEREIRA, Mons. Francisco de Assis. Padre Cícero no Santo Ofício. 2006, mimeo. 185 PÁGINAS
REAÇÃO DA IGREJA NO BRASIL
Foto das páginas de assinaturas dos Bispos do Brasil
No Estado de São Paulo, distante 3.000 km da Diocese de Crato, existem três grandes cidades (Ribeirão Preto, Taubaté e a própria São Paulo) que possuem grandes estátuas do Padre Cícero em praça pública, fruto da fé dos nordestinos que para fugir da seca inclemente e da fome feroz que vez por outra assola nossa região, vão a São Paulo e a outros estados da federação e levam consigo o “Padrinho Padre Cícero”.
No nordeste do Brasil, área que compreende 1 558 196 km², equivalente a 18% do território nacional, é difícil não se encontrar em cada cidade, em cada povoado, algo alusivo ao Padre Cícero que indica a fé que este sacerdote suscita nos fiéis.
Por ocasião do Ano Sacerdotal, os padres brasileiros em seu Encontro Nacional de Presbíteros, solicitaram que fosse publicada uma biografia do Padre Cícero por acreditarem ser ele um padre exemplar para a vida sacerdotal e pastoral da Igreja hoje.
A ACADEMIA DESCOBRE PADRE CÍCERO, JUAZEIRO E A BEATA MARIA DE ARAÚJO
O primeiro trabalho acadêmico sobre Padre Cícero é uma dissertação de mestrado defendida na Columbia University por Ann Morton: Religion in Juazeiro (Ceara, Brazil) since the death of Padre Cicero: a case study in Messianic religious activity, em 1966, no Departamento de Antropologia. Mas a que alcançou maior popularidade por ter sido publicada em português e abriu muitas portas para outros estudos acadêmicos foi a tese de doutorado, defendida na mesma Columbia University, no Departamento de História, por Ralph Della Cava em 1970, intitulada Miracle in Joaseiro, posteriormente publicada no Brasil como Milagre em Joaseiro.
Por ocasião da elaboração do documento a ser mandado para a Congregação da Doutrina da Fé, a Comissão de Estudos fez um levantamento que computou: 33 trabalhos acadêmicos entre teses de doutorado e dissertações de mestrado entre os anos de 1966 a 2005, sendo que entre 2000 e 2005 foram 14 as teses defendidas. Numa pesquisa muito rápida e não exaustiva, encontramos aproximadamente 25 teses de doutorado e dissertações de mestrado sobre o tema Padre Cícero e Juazeiro do Norte, defendidas entre 2008 e 2012. Existem ainda muitos artigos em revistas científicas e de divulgação, muitos filmes e peças de teatro sobre o assunto.
Toda essa produção, especialmente a acadêmica, sobre Padre Cícero e o Juazeiro contribuiu para mudar a visão negativa que se tinha, dentro e fora da Igreja, sobre o Juazeiro como lugar de romarias e sobre os romeiros que durante anos foram tidos como fanáticos, ignorantes e servis.
RESISTÊNCIA DOS CATÓLICOS AOS NEO-PENTECOSTAIS
Em 2006, o CERIS – Centro de Estatíticas Religiosas e Investigações Sociais, órgão vinculado à CNBB e à CRB, publicou uma pesquisa sobre o trânsito religioso no Brasil em que mostrava que a região mais resistente às investidas dos neo-pentecostais era aquela sob a influência da devoção ao Padre Cícero. Mas... a partir da publicação da pesquisa e consequente aparecimento, com destaque, na mídia falada, escrita e televisada, a reação dos neo-pentecostais tem-se feito sentir. Como se todas as denominações estivessem orquestradas, vê-se surgir, a cada mês, um novo templo, nos mais diversos pontos da cidade e como é de costume, principalmente nas periferias onde está o povo mais pobre.
Durante o ciclo das romarias, que vai de 15 de setembro, festa da Padroeira, Nossa Senhora das Dores, até 2 de fevereiro, festa de Nossa Senhora das Candeias, vê-se ônibus fretados, aviões repletos de “missionários” dessas confissões religiosas que invadem os espaços considerados sagrados pelos romeiros, abordando-os com dinamismo agressivo, no intuito de “convertê-los”. Seus “pastores” têm uma formação teológica mínima e essencialmente prática. Eles sabem que a cultura popular é marcada por uma visão encantada do mundo, no qual desfilam anjos e demônios que interferem diretamente na vida do ser humano e, assim, oferecem alívio para o sofrimento dos fiéis com sessões exorcismos ou equivalentes. A pregação privilegia o imediato e, adeptos da “teologia da prosperidade”, não prometem a salvação eterna, e sim o gozo e a fortuna aqui e agora.
Mas apesar da pobreza do povo nordestino, da escolaridade deficiente, da quase incapacidade de diferenciar o catolicismo de outras religiões, assimilaram os ensinamentos do Padre Cícero que os evangelizava tendo em conta três grandes eixos: o culto à Eucaristia e à Reconciliação; as devoções domésticas como a do Sagrado Coração de Jesus, cuja festa, em cada lar, é maior do que quaisquer outras festas familiares; e a recitação do Rosário da Mãe de Deus.
Os fiéis acolheram de tal modo esses ensinamentos do Padre Cícero que as assumiram, e ao Padre Cícero também, como orientação e modelo fundantes em suas vidas, “atingindo assim a estrutura da identidade religiosa do homem nordestino, entrando em sua história e encontrando-o em suas necessidades, aspirações e sonhos”, conforme tese de doutorado defendida na Universidade de Louvain.
Padre Cícero faz parte das raízes do povo, de sua cultura, e o Povo Nordestino o venera por todas as virtudes evangélicas: amor, doação, fidelidade à Igreja, devoção a Nossa Senhora, ao Sagrado Coração de Jesus e nunca por razões pelas quais a Igreja o condenou. Ele é para esse povo, reflexo de Deus. Faz transparecer para esse povo quem é Deus. Queria a justiça para os pobres, trabalho para os que dele necessitavam, oração e profundo amor a Deus para todos. Um romeiro, para explicar quem é Padre Cícero para ele dizia em sua linguagem simples, mas de profundo simbolismo: “Padre Cícero é a lâmpada e Deus a energia.” Deus, Jesus Cristo, Nossa Senhora ficam assim mais próximos, através da mediação de Padre Cícero, para os fiéis. Por isso esta região, o espaço de influência do Padre Cícero, resiste e permanece, na sua maioria, católicos
A preocupação da Igreja Católica hoje, abrange principalmente, não só a pertença, a fidelidade à esta Igreja, mas também a integridade humana desse povo que, já privado de justiça, de condições mínimas que lhes dê dignidade de vida, arrisca-se a ver-se privado também de sua fé, de sua identidade mais profunda: a de membros da Igreja Católica. Neste mundo onde o consumismo, o interesse, a utilidade corrói até as sociedades mais cultas e desenvolvidas, quanto mais a nossa pobre gente deixa-se levar pelas falas sedutoras que prometem milagres em troca do já parco dinheiro de nosso povo. A legítima crença nos milagres, que faz parte da nossa herança católica, é bastante valorizada pelos nossos romeiros e é também uma as pontas de lança dos neo-pentecostais que usam desse valor como um artifício, indiscriminadamente, reduzindo a liberdade de discernimento dos fiéis.
MAS... NÃO ESTARÍAMOS AQUI FALANDO DESSA REALIDADE...
O PAPA FRANCISCO ESTÁ CONOSCO
Pela primeira vez, na história, vê-se a fotografia de um Papa compondo o arranjo que os romeiros fazem nos seus veículos de locomoção. A identificação das pessoas simples com aqueles que lhes são próximos é imediata! E, portanto, ai está nosso Papa Francisco! Com o chapéu de romeiro!
E o nosso Bispo, Dom Fernando Panico, também é um Bispo romeiro!
Como o é também, nosso querido Dom Claudio Hummes:
Hoje, muitos veem de ônibus, mas mesmo assim, a decoração e a oração permanecem:
Os romeiros e romeiras na Benção do Chapéu
ANEXOS
Carta ao Papa emérito Bento XVI
Assinaturas de 254 Bispos do Brasil
Roma, 30 de maio de 2006
Santo Padre,
Pleno de confiança no carisma que Lhe foi dado, como sucessor de Pedro, para confirmar na fé os irmãos e ajudar a discernir os sinais de Deus na vida da Igreja, fraternalmente venho Lhe expor:
O meu predecessor e primeiro bispo da Diocese de Crato, Dom Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva, em carta ao Papa Bento XV de 09 de novembro de 1920, implorou o perdão para o seu sacerdote, o Padre Cícero Romão Baptista, após ter recebido da Suprema Congregação do Santo Ofício, em 14 de abril de 1917, a sentença de excomunhão para o sacerdote acima mencionado. Em resposta, o Santo Ofício emitiu um ato comissório, pelo qual Dom Quintino foi autorizado a absolver da excomunhão o Padre Cícero Romão Baptista, mesmo mantendo outras restrições.
Agora, setenta e dois anos após morte deste sacerdote, ao reconhecer a surpreendente influência pastoral que o Padre Cícero Romão Baptista continua exercendo sobre a vida cristã do povo católico do Nordeste brasileiro, e que a santa memória dele continua sempre mais viva entre nós, atraindo milhões de romeiros para o Santuário Diocesano de Nossa Senhora das Dores, em Juazeiro do Norte – Estado do Ceará, venho com toda esperança e humildade suplicar a Vossa Santidade, que se digne reabilitar canonicamente o Padre Cícero Romão Batista, libertando-o de qualquer sombra e resquício das acusações por ele sofridas.
Ao mesmo tempo, apraz-me apresentar a Vossa Santidade o resultado dos trabalhos realizados por uma Comissão especial de estudiosos que, durante quase cinco (5) anos, pesquisaram toda a documentação referente ao caso Padre Cícero Romão Baptista, no Arquivo Diocesano de Crato e no Vaticano. Há quase trinta (30) anos, estes pesquisadores já estudavam os documentos de outros Arquivos no Brasil. Com as pesquisas no Arquivo Diocesano de Crato, foram compulsados documentos até então inéditos; foram lidas e catalogadas centenas de cartas, cujo conteúdo ninguém conhecia antes, revelando como se deram os encaminhamentos para as decisões tomadas, desfavoráveis ao Padre Cícero Romão Baptista.
Neste ensejo, quero agradecer Vossa Santidade pela sugestão, incentivo e apoio a nós dados, para a realização desses novos estudos. Foi Vossa Santidade que, no ano de 2001, indagou o Bispo de Crato sobre a conveniência pastoral de reabrir os Arquivos da nossa Diocese, para novas pesquisas documentais sobre a questão do Padre Cícero Romão Baptista. Obrigado, Santidade, por nos ter ajudado a realizar um trabalho que, em boa hora, vem fortalecer a esperança de quase dois milhões e meio de peregrinos. Todos os anos, regularmente, estes acorrem em devotas Romarias até a cidade de Juazeiro do Norte, chamada de “Terra da Mãe de Deus”, em homenagem à Virgem Maria. Aqui manifestam sua fé sincera e generosa, como filhos da Igreja católica, e a celebram de acordo com aquelas expressões características da piedade popular, transmitindo, de pai para filho, uma espiritualidade cristã alicerçada na Cruz do Ressuscitado. Estas Romarias a Juazeiro do Norte continuam sendo fruto do zelo pastoral do Padre Cícero Romão Baptista, do seu ensinamento e do seu testemunho de vida, fiel até a morte à causa do Reino de Deus.
Posso testemunhar, Santidade, que as nossas Romarias são um baluarte da fé dos pobres, filhos queridos da Igreja católica, cuja devoção contém e freia, por assim dizer, o avanço das seitas evangélicas na nossa região. Hoje, na nossa Diocese de Crato, após décadas de silêncio e indiferença para com os romeiros, entendemos que a nova evangelização não pode desconhecer, ou ignorar, a realidade que nos faz Igreja pelo acolhimento fraterno, no Amor de Cristo. Por isto, somos gratos aos irmãos peregrinos que nos educam a viver a dimensão romeira da fé, caminhando conosco na estrada de Jesus, em busca da Pátria, em companhia da Virgem Maria e de outros amigos de Deus, como, por exemplo, o Padre Cícero Romão Baptista, já canonizado no coração do povo.
Santo Padre, os irmãos de Episcopado na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, e particularmente os meus co-irmãos da Província Eclesiástica de Fortaleza, são conhecedores do fenômeno das Romarias em Juazeiro do Norte, por muitos deles já presenciadas. Afirmo que os nossos Pastores não somente reconhecem nelas os frutos pastorais, mas também unem-se ao meu mesmo pleito, e submetem a Vossa Santidade, por amor ao Rebanho do Bom Pastor, o pedido que seja concedida a reabilitação canônica para o Padre Cícero Romão Baptista. Permita-me, Santidade, recordar a Palavra de Jesus: “Não existe árvore boa que dê frutos ruins, nem árvore ruim que dê frutos bons, porque toda árvore é conhecida pelos seus frutos.” (Lc 6,43-44). É de Gamaliel esta outra declaração feita ao Sinédrio, quando da perseguição movida contra os Apóstolos: “Se a obra vem de Deus, não podemos lutar contra Ele.” (At 5, 38-39)
Do estudo que Vossa Santidade sugeriu à Diocese de Crato, quando Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, e que agora coloco nas mãos do Card. Joseph Levada, emerge uma revisão crítica e fiel dos textos de arquivo ligados às vicissitudes vividas pelo Padre Cícero Romão Baptista, resultando a fidelidade dele à Igreja, numa síntese sofrida de obediência filial e de defesa responsável da verdade, não obstante as incompreensões, acusações e graves sanções canônicas levantadas contra ele. A Comissão de estudiosos, ao realizar as novas pesquisas, manteve-se numa descrição objetiva das fontes. À Congregação para a Doutrina da Fé compete a análise do nosso trabalho. E a Vossa Santidade a palavra conclusiva.
Outro elemento relevante a ser destacado na história das Romarias ligadas ao Padre Cícero Romão Baptista, é a resposta pastoral aos desafios que a missão da Igreja encontra, hoje, sobretudo no que se refere à explicitação teórica e prática da Nova Evangelização. De tudo, sobressai o enfoque da Misericórdia Divina, na vida de uma Igreja que proclama e anuncia aos pobres e ao mundo inteiro: Deus é Amor.
A reabilitação canônica do Padre Cícero Romão Batista, na forma que Vossa Santidade melhor julgar conveniente, certamente haverá de tornar-se um acontecimento histórico e esperado por toda a Igreja no Brasil. Reabilitando canonicamente o Padre Cícero Romão Batista, será reconhecida também a fidelidade do povo brasileiro à Igreja católica. Particularmente no Nordeste, a pregação, os exemplos e os ensinamentos do Padre Cícero, continuam alimentando a fé do nosso povo e sustentam a sua vida. As grandes lições deixadas no século passado pelo Padre Cícero aos seus fiéis e romeiros, por exemplo, a recepção freqüente dos Sacramentos da Penitência e da Comunhão, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, a devoção do Rosário da Mãe de Deus e o amor ao Papa e aos Bispos, são marcos ainda muito presentes na caminhada do nosso povo.
Santo Padre, digne-se abençoar toda a “nação romeira” de Juazeiro do Norte, à Diocese de Crato e a mim, seu pobre filho: para que possamos ser sinais de vida e de esperança na Igreja e no mundo.
Fernando Panico
Bispo Diocesano de Crato
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