segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Foto falsa do Padre Cícero

A foto ao lado foi muito difundida e ainda hoje existem em muitas residências e casas comerciais de devotos do Padre Cícero espalhadas pelo Nordeste do Brasil. Muitos acreditam que ali está o Padre Cícero quando criança, 4 anos de idade, mas isso é falso. O fato foi desvendado pelo médico e escritor alagoano, Judá Fernandes, e está devidamente contado no seu livro “A xícara do padre”.
Segundo conta o Dr. Judá o garotinho da foto é o Dr. Antônio Fernandes de Melo Costa, filho do Cel. Manoel Fernandes da Costa, grande amigo de Padre Cícero. O Cel. Fernandes morou em Juazeiro num suntuoso sobrado localizado ao lado da Praça Padre Cícero, no cruzamento das Ruas Padre Cícero com São Francisco (hoje pertencente à família Viana). Aqui ele morreu e está sepultado num bonito e amplo túmulo no cemité-rio do Socorro. O garotinho da foto chegou em Juazeiro ainda criança e segundo conta Dr. Judá “Não é que aquele menino que chegou ao Juazeiro ainda de fraldas, atualmente residindo em Maceió, em uma das suas visitas ao túmulo do seu genitor, no Cemitério de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no ano de 1945, teve uma surpresa desagradável que o deixou deveras aborrecido. Pois vendiam o seu retrato de criança, com quatro anos de idade, como se fosse do milagroso Padre Cícero. Estavam comercializando a sua imagem, ludibriando os ingênuos romeiros com a sua foto, que a sua mãe havia guardado tanto tempo. Ninguém sabe até hoje como forjaram a grande farsa. Sabe-se que já haviam vendido milhares de cópias (e ainda vendem, às escondidas) para todos os rincões do nosso fustigado Nordeste. Suspeita-se que algum espertalhão, aproveitando o abalado estado de saúde da viúva Paulina, entrou em sua residência e surrupiou o retrato emoldurado que ocupava lugar de destaque na sala de visita, juntamente com outras fotografias antigas da família, do qual tirou inúmeras cópias, passando a faturar em cima do próprio Padre carismático, armando assim o grande golpe do pseudo-retrato. Nas vias públicas a garotada bradava: Padim Circo com quatro anos de idade”. Segundo ainda o Dr. Judá o verdadeiro dono da fotografia está hoje com 90 anos de idade, aposentado, e reside no bairro da Jatiúca, em Maceió. É seu tio em segundo grau, homem respeitado e admirado, de conduta ilibada, que na vida foi comerciante, político, alto funcionário público estadual, é formado em Direito e sempre foi um intelectual bem informado. Hoje aposentado, mas, apesar da idade, continua lúci-do e com invejável e salutar vitalidade, rodeado da amabilidade da família e dos amigos que tão bem cativou. Vive ainda dedicado à Literatura, pesquisando, lendo e delineando sua vida e sua luta. E conclui Dr. Judá: “E foi assim que o dileto filho do Cel. Manoel Fernandes entrou para a História do Juazeiro como o homem que, involuntariamente, "emprestou" sua imagem ao Padre Cícero Romão, para que ele aparecesse ao mundo dos peregrinos fotografado aos quatro anos de idade, quando na realidade a nobre invenção da fotografia ainda engatinhava nos países desenvolvidos.” 
Na foto acima vemos o Dr. Antônio Fernandes de Melo Costa, atualmente.


terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Padre Cícero como prefeito de Juazeiro - Por Daniel Walker

Padre Cícero foi o prefeito com o mandato mais longo da história política de Juazeiro do Norte. Administrou o município de 1911 a 1926 (afora um pequeno período em que foi afastado).  Em sua administração importantes obras foram realizadas, entre as quais a pavimentação e alargamento das ruas, criação de escolas e abastecimento d´água. Em 1917 ainda repercutia o reflexo da seca de 1915. Quem não tinha uma cacimba em casa, era obrigado a beber água do rio Salgadinho, onde as mulheres lavavam roupa e a garotada tomava banho. Padre Cícero procurou aliviar o sofrimento da população solicitando do governo do Estado uma perfuratriz para furar quatro poços profundos. Era uma empreitada muito difícil para época, mas a máquina chegou e os poços foram instalados nos seguintes locais: 1) Na frente da Igreja (hoje Basílica) de Nossa Senhora das Dores; 2) No local onde hoje é a Praça Padre Cícero; 3) No local onde hoje é o Mercado Central e 4) No local onde até pouco tempo funcionou a Usina Zé Bezerra e hoje funcionam órgãos da Prefeitura.
A água era puxada com ajuda de cata-ventos. Hoje eles não existem, mas os poços continuam fornecendo água. Na década de 20 Padre Cícero patrocinou uma grande exposição para divulgação do artesanato juazeirense no Rio de Janeiro, a qual teve excelente repercussão.
Foi graças ao empenho dele que a Rede de Viação Cearense estendeu para o Cariri seus ramais da estrada de ferro. Em Juazeiro a inauguração ocorreu em 7 de novembro de 1926.
Ainda na administração do Padre Cícero ocorreu o seguinte: inauguração da Praça Almirante Alexandrino de Alencar (atualmente com a denominação de Praça Padre Cícero); inauguração do Posto de Profilaxia Moura Brasil; inauguração da estrada de rodagem Juazeiro-Horto; inauguração do Cemitério do Socorro; doação do terreno para construção do Patronato Agrícola; restauração da comarca de Juazeiro.
Como prefeito Padre Cícero recebeu em visita oficial vários governadores do Ceará, autoridades civis, militares e eclesiásticas de outros Estados  e até do Exterior. Em sua casa foram realizados grandes banquetes para recepcionar  visitantes ilustres.
A prefeitura de Juazeiro funcionou inicialmente num prédio localizado na Rua São Pedro (onde hoje está um órgão da Prefeitura), depois funcionou no prédio onde hoje é uma cadeia de butiques, no cruzamento da Rua do Cruzeiro com Padre Cícero.
Na verdade, segundo testemunhas da época, Padre Cícero era oficialmente o prefeito, porém quem de fato administrava Juazeiro era o Dr. Floro Bartolomeu da Costa.  
Pelo excelente trabalho desenvolvido em prol desta cidade, é dever de todos que moram em Juazeiro, independentemente de serem ou não aqui nascidos e também do credo religioso que professem, honrar e respeitar o nome do seu primeiro prefeito. É preciso, também, que as pessoas de outras religiões (e até mesmo católicos desinformados) enxerguem um Padre Cícero sem batina, o vejam como pessoa cívica, ecumênica, ex-prefeito e fundador de Juazeiro, enfim, o verdadeiro ímã que até hoje atrai desenvolvimento para esta terra. Sem ele Juazeiro seria uma cidade comum, ou até continuasse sendo uma simples vila do Crato, um lugar inexpressivo como milhares existentes no Brasil.
Cópias de documentos sobre a vida política do Prefeito Padre Cícero )Arquivo do pesquisador Anchieta Martinz de Montalverne)

O PREFEITO PADRE CÍCERO ROMÃO BAPTISTA - Por Renato Casimiro
Este 2012 é também ano eleitoral para a escolha de mais um gestor para o município de Juazeiro do Norte. Desde 04.10.1911, quando Pe. Cícero Romão Baptista assumiu o seu primeiro mandato, sendo o primeiro gestor do novo município, muitos nomes se sucederam dentre intendentes e interventores nomeados, prefeitos nomeados ou eleitos e eventuais substitutos dentre juízes, vices-prefeitos, vereadores ou secretários de administrações. Estamos debruçados para rever pessoas, datas e circunstâncias que marcaram as presenças de um número que ainda não é possível firmar. De repente encontramos um fato novo e isto altera, pelo menos, a relação que vem sendo construída há tempos. A frágil democracia, de logo período terminou por inserir na vida juazeirense diversos episódios lamentáveis, tanto em clima de paz, quanto na exceção do antes e do depois da famigerada Sedição de Juazeiro. Mas, também, para não ser vesgo, nos períodos das ditaduras, civil e militar. Vamos no ocupar apenas nesta nota, com o gestor Pe. Cícero Romão Baptista. É sabido que ele ocupou o cargo de Intendente/Prefeito em três períodos: a grosso modo, de 1911 a 1912, de 1914 a 1926, e de 1926 a 1929 (Veja tabela abaixo, para melhores detalhes). Nestes três períodos a ocupação do cargo, efetivamente, durou exatos 15 anos, 1 mês e 29 dias.  O primeiro mandato, por nomeação, aconteceu durante a presidência no Estado do Ceará do comendador Antonio Pinto Nogueira Acioli. Destituído por Franco Rabelo, Pe. Cícero volta ao mando municipal, também por nomeação, após a Sedição de Juazeiro, em 1914. Sem interrupção este segundo período dura ate 23.03.1926, com um tempo total de mandato de exatos 12 anos. Ocorre que neste período o Estado do Ceará passou pelos comandos dos seguintes presidentes: Fernando Setembrino de Carvalho, Benjamim Liberato Barroso, João Thomé de Saboya e Silva, Justiniano de Serpa, Ildefonso Albano e José Moreira da Rocha. Como Pe. Cícero, neste período ocupou o cargo de Intendente nomeado, cada um dos presidentes, necessariamente assinou um termo legal, reconduzindo Pe. Cícero à condição de Intendente. Na prática pode ser entendido como um único mandato de 12 anos. Mas, legalmente, foram seis mandatos devidamente legitimados por atos formais. O terceiro período é marcado por uma eleição por voto direto e Pe. Cícero o cumpre na vigência de três períodos administrativos de três presidentes do Estado do Ceará: José Moreira da Rocha, Eduardo Henrique Girão e José Carlos de Matos Peixoto. Contudo, como ele havia sido eleito pelo voto, e não cumpriu integralmente o mandato, este é referido como apenas um período que durou dois anos, nove meses e vinte e dois dias. Somando todos os períodos em que esteve à frente dos destinos de Juazeiro, Pe. Cícero foi seu gestor por 15 anos, 1 mês e 29 dias. E a rigor, isto se desenvolveu ao longo de 8 mandatos.   




quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Padre Cícero pensou ser missionário na China - Armando Lopes Rafael

Em matéria divulgada no dia 18 de março de 2009, sobre livros remanescentes da biblioteca pertencente ao Padre Cícero, a repórter Elizângela Santos, do “Diário do Nordeste”, escreveu que dentre os 600 volumes, ainda existentes, consta um “dicionário de português para chinês”. 

A primeira vista trata-se de uma coisa estranha. Padre Cícero interessado em um idioma da China? 
Para quem já leu um pouco sobre a vida daquele sacerdote, o fato não surpreende. 
No primeiro capítulo do seu livro “O Patriarca de Juazeiro”, à página 23, (2ª edição, Editora Vozes Ltda., 1969) o Padre Azarias Sobreira escreveu: 
“Nos dois últimos anos que precederam sua ordenação de presbítero, o clérigo Cícero Romão Batista andou lendo jornais e revistas do Velho Mundo, que pintavam, de maneira impressionante, os esforços titânicos da Igreja, através da Propaganda Fide, para a evangelização dos chineses. E tais entusiasmos a grandiosa perspectiva gerou em sua alma, que, sem mais hesitar, deliberou oferecer-se, como voluntário, para as temerosas missões da China. 
Já estava acertando o projeto da partida, quando João Brígido, amigo particular de sua família, no Crato, veio a tomar conhecimento daquela inesperada e atordoante resolução. 
Foi quanto bastou para que o desabusado e indomável panfletário, conhecido, já então, pelo seu agnosticismo, perdesse a calma e se desentranhasse em protestos furibundos, aptos para desnortear uma vontade resoluta. 
– Não sei (teria dito João Brígido) não sei que religião é essa, que vocês aprendem no seminário. Religião contraditória, que manda amar o próximo, como a si mesmo, e bate palmas a um filho que vai abandonar a mãe viúva, tendo nele o seu único arrimo e cuja única fortuna são duas filhas órfãs. Arrenego desse seu espírito missionário, que se larga, assim, para ensinar o cristianismo aos pagãos do fim do mundo, quando nós temos um milhão de selvagens sem batismo e milhões de batizados que não conhecem a Deus e ainda menos o abecê. 
O plano de evangelizar o Oriente caiu por terra, não resta dúvida” (...) 
A matéria do “Diário do Nordeste” publicou ainda, que, segundo o padre José Venturelli, “alguns dos livros são do período em que o sacerdote era estudante”. Ele supõe isto, já que a assinatura não consta como padre, de acordo com boa parte em que ele descreve: “Pertence ao Padre Cícero”, com local e data, no caso ainda assinava “Joaseiro”. 
Fica explicado a razão do Padre Cícero possuir em sua biblioteca um dicionário Português-Chinês....