quarta-feira, 13 de junho de 2012

Terra abençoada - Dr. Paulo Leonardo Celestino Oliveira


   Percorrendo este vasto sertão nordestino, tive a oportunidade de participar de algumas rodas de conversas em meio à tranquilidade dos sítios. Numa destas conversas, o assunto predominante era a seca que assola a região neste ano de 2012, fazendo os agricultores perderem suas plantações e os criadores de animais assistirem à morte de seus rebanhos frente à falta d’água.
   Diante de minha presença, os mais velhos relembravam as antigas secas, principalmente as do começo do século XX. A população da época, sem qualquer ajuda dos governos, e diante da total falta de alimentos, tinha como último refúgio uma pequena cidade situada em um verde vale e protegida por um padre conselheiro. “Vamos para o Juazeiro do Pe. Cícero!” – assim falavam. E vinham da Paraíba, Pernambuco ou Piauí com toda a família a pé. Ao chegarem por aqui, imediatamente procuravam o Pe. Cícero para ouvirem seus conselhos para a estadia nesta nova terra.
   Ouvindo estes relatos, é impossível não se emocionar e não se envaidecer cada vez mais pelo orgulho a esta terra abençoada. Que tamanha é a influência que o Pe. Cícero e Juazeiro do Norte exercem sobre o sertão nordestino! Somos um verdadeiro “farol da esperança” para este povo sofrido, mas perseverante. Que privilégio nascer e morar na região do Cariri!
   Voltando à roda de conversas, os participantes passaram a discutir os poucos efeitos da seca na população de hoje. Uns afirmando que se devem aos programas sociais do Governo Federal, outros apontando o avanço dos meios de comunicação, como a televisão e a internet. Novamente a sabedoria dos mais experientes vem à tona quando um deles comenta: “para mim, o maior avanço foi a construção das estradas”. De fato, sem o advento de bons acessos para as cidades, ficaria muito difícil a logística de transporte de alimentos e água para as pessoas atingidas pela seca. Antigamente era assim: muitos ficavam isolados e morriam de fome ou sede.
   Na verdade todos estes fatores trabalham em conjunto. Contudo, em pleno século XXI, é inadmissível parte da população brasileira ainda depender de carros-pipa e ajuda humanitária para enfrentar um fenômeno natural de uma região, o qual se repete frequentemente.
   Para nós caririenses, apesar de não vivenciarmos esta realidade de extrema estiagem, fica a necessidade da consciência para a preservação das nossas fontes e reservas do líquido mais precioso e fonte da vida: a água. Se questões como o desmatamento desenfreado para a especulação imobiliária, a poluição dos rios e lagoas pelos esgotos das cidades, e a existência de lixões sem o devido tratamento forem deixadas de lado, num futuro bem próximo poderemos pagar um preço muito alto. Ou só daremos o devido valor para nossas águas quando estivermos perto de perdê-las?

O autor é juazeirense, odontólogo, editor do blog www.cidade.jua

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