Percorrendo este vasto sertão
nordestino, tive a oportunidade de participar de algumas rodas de conversas em
meio à tranquilidade dos sítios. Numa destas conversas, o assunto predominante
era a seca que assola a região neste ano de 2012, fazendo os agricultores
perderem suas plantações e os criadores de animais assistirem à morte de seus
rebanhos frente à falta d’água.
Diante de minha presença, os mais
velhos relembravam as antigas secas, principalmente as do começo do século XX.
A população da época, sem qualquer ajuda dos governos, e diante da total falta
de alimentos, tinha como último refúgio uma pequena cidade situada em um verde
vale e protegida por um padre conselheiro. “Vamos para o Juazeiro do Pe.
Cícero!” – assim falavam. E vinham da Paraíba, Pernambuco ou Piauí com toda a
família a pé. Ao chegarem por aqui, imediatamente procuravam o Pe. Cícero para
ouvirem seus conselhos para a estadia nesta nova terra.
Ouvindo estes relatos, é
impossível não se emocionar e não se envaidecer cada vez mais pelo orgulho a
esta terra abençoada. Que tamanha é a influência que o Pe. Cícero e Juazeiro do
Norte exercem sobre o sertão nordestino! Somos um verdadeiro “farol da
esperança” para este povo sofrido, mas perseverante. Que privilégio nascer e
morar na região do Cariri!
Voltando à roda de conversas, os
participantes passaram a discutir os poucos efeitos da seca na população de
hoje. Uns afirmando que se devem aos programas sociais do Governo Federal,
outros apontando o avanço dos meios de comunicação, como a televisão e a
internet. Novamente a sabedoria dos mais experientes vem à tona quando um deles
comenta: “para mim, o maior avanço foi a construção das estradas”. De fato, sem
o advento de bons acessos para as cidades, ficaria muito difícil a logística de
transporte de alimentos e água para as pessoas atingidas pela seca. Antigamente
era assim: muitos ficavam isolados e morriam de fome ou sede.
Na verdade todos estes fatores
trabalham em
conjunto. Contudo , em pleno século XXI, é inadmissível parte
da população brasileira ainda depender de carros-pipa e ajuda humanitária para
enfrentar um fenômeno natural de uma região, o qual se repete frequentemente.
Para nós caririenses, apesar de
não vivenciarmos esta realidade de extrema estiagem, fica a necessidade da
consciência para a preservação das nossas fontes e reservas do líquido mais
precioso e fonte da vida: a água. Se questões como o desmatamento desenfreado
para a especulação imobiliária, a poluição dos rios e lagoas pelos esgotos das
cidades, e a existência de lixões sem o devido tratamento forem deixadas de
lado, num futuro bem próximo poderemos pagar um preço muito alto. Ou só daremos
o devido valor para nossas águas quando estivermos perto de perdê-las?
O autor é juazeirense, odontólogo, editor do blog www.cidade.jua
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