O texto abaixo, extraído do livro
“Eu, o índio e a floresta”, do poeta popular Manoel Caboclo, pode elucidar a
origem histórica e cronológica dos conselhos mais famosos do Padre Cícero.
Conta o autor em seu livro que numa conversa de Dr. Floro com seu pai, em
Juazeiro, “Uma pessoa que estava ouvindo a história fez-lhe a seguinte
pergunta: "Dr. Floro, por que mandou matar gente na "rodagem?"
Respondeu ele: "Em 1923, tive que ir ao Rio de Janeiro, para na Câmara
Federal defender Juazeiro. Eu e o Padre Cícero estávamos sendo acusados de
sermos chefes de cangaceiros, ladrões e desordeiros. Nas grandes cidades nos
consideravam como coiteiros do mal. Esta fama durou muito tempo, de modo que uma pessoa de Juazeiro, não encontrava
uma dormida em casa particular. Com meu conceito de Deputado, desfiz perante a
Câmara e o Senado, tudo aquilo que se dizia de mal do Padre Cícero. Fiquei tão
triste que tive vontade de ir embora, contudo permaneci para não deixar o padre
naquele momento de perseguição e angústia. Resolvi então agir de maneira mais
brusca com todos os malfeitores desobedientes. Os crimes eram tantos que os
assassinos cruzavam de mãos sangrentas de uma a outra parte da cidade; os
roubos eram tantos que obrigavam as famílias a recolherem-se às suas casas logo
às primeiras horas da noite. Ninguém queria ocupar o lugar de delegado temendo
os desordeiros e malfeitores."
MEDIDAS ADOTADAS. "Ao voltar
desta viagem fui à casa do Padre Cícero e fiz ciente a ele do decreto por mim
baixado (como faz todo Governo quando se sente desacatado, procurando punir o
culpado). Logo na noite seguinte, o Padre Cícero fez uma advertência a todo o
povo de Juazeiro, dizendo: "O Dr. Floro tem poderes Federais e baixou um
decreto que visa punir os culpados". E logo fez o seguinte sermão:
"Quem matou, não mate mais; quem roubou, não roube mais; quem mentiu, não
minta mais; quem bebeu, não beba mais; quem jogou não jogue mais; quem foi
desordeiro, não seja mais; quem levantou falso testemunho, não levante mais...
No dia seguinte, em praça pública, li o decreto na presença de todos,
dizendo: "Todos vocês que foram desordeiros, criminosos, ladrões, procurem
não praticar mais o mal, porque de hoje a três dias, quem matar sem causa
justa, morrerá; quem roubar, morrerá; quem desrespeitar as famílias, morrerá.
Todos que continuarem na vida pregressa, terão morte na 'rodagem'. Passado que
foi o prazo dos três dias, comecei a executar o decreto e muitos enquadrados
tiveram morte certa. Em pouco tempo, em Juazeiro, reinou tranqüilidade entre as
famílias, ninguém ouvia nem mesmo briga de casais. Se podia até mesmo dormir de
portas abertas sem que nenhum mal lhe sucedesse. Se uma pessoa perdesse uma
carteira com dinheiro, podia ir no outro dia que a encontrava com o mesmo
dinheiro, no mesmo lugar. Juazeiro ficou de forma que era mais fácil se
encontrar um tesouro encantado debaixo da terra, do que um ladrão roubar uma
galinha no poleiro de uma casa sem dono".
O autor: Manoel Caboclo, poeta, editor de cordel e astrólogo. Editou durante muitos anos o famoso almanaque O Juízo do Ano em sua tipografia em Juazeiro do Norte. Cordelistra consagrado no Brasil. Seu nome verdadeiro é Manoel João da Silva. Nasceu em Caririaçu em 2 de janeiro de 1916 e faleceu em Juazeiro do Norte em 21 de julho de 1996.
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