terça-feira, 20 de março de 2012

Um santo ainda não canonizado - Por D. Samuel Dantas, OSB

Dificilmente encontrar-se-á na vetusta história da Igreja uma personagem em torno de cuja vida e obra tenham se erguido as mais acesas polêmicas, as mais acaloradas discussões e debates, como a figura do celebérrimo padre Cícero Romão Batista. Amado e venerado por uns, odiado e caluniado por outros. Padre Cícero impôs-se a ricos e pobres, a nobres e plebeus, a intelectuais e indoutos, tendo sido em vida o que se poderia sem nenhuma hipérbole qualificar de um fenômeno religioso e miraculoso da mais alta envergadura.
Anualmente, acorrem a interiorana Juazeiro, no sul do Ceará, milhões de peregrinos, cuja devoção ao padre Cícero é deveras impressionante. Milagres sem conta continuam a ser atribuídos a seu poderoso valimento junto a Deus. Como é possível que não seja santo um homem que costumava percorrer léguas unicamente para administrar os sacramentos a moribundos desolados? Como é possível que não seja santo um homem cuja palavra pacificadora foi capaz de por termo a sangrentas rixas familiares? Como é possível que não seja santo um homem que, tendo tido todo o Nordeste aos seus pés, jamais utilizou o seu prestígio para beneficiar-se? Como é possível que não seja santo aquele sacerdote que, tendo recebido polpudos donativos de seus devotos admiradores, viveu pobremente, legando tudo que tinha a Igreja, a cujas ordens sempre se manteve obediente? Como é possível que não seja santo um homem que, a semelhança de Cristo, soube amar e perdoar os fariseus invejosos que converteram sua vida em um pungentíssimo calvário? Os inimigos do padre Cícero acusam-no de embuste e de ter se envolvido na política. Quanto a primeira acusação, nada há de mais pífio: somente um sacerdote néscio - e padre Cícero não o era - tentaria forjar um prodígio. Ademais, não podia ele ignorar a reservada circunspecção com a qual a Igreja costumava tratar alardeados portentos, tidos por sobrenaturais.
Quanto a seu envolvimento na política, deve-se observar que em virtude da complexa conjuntura de então, foi necessário que o padre Cícero nela tomasse parte. Era a única maneira de por termo a facções rivais que sanguinolentamente se digladiavam. Sabe Deus que a razão pela qual padre Cícero ingressou no âmbito da política foi totalmente diversa da razão pela qual o fazem muitos hodiernamente.
De minha parte, julgo que a prova inconteste da santidade de padre Cícero é o próprio Juazeiro. Aí, vê-se a piedade sincera, a oração constante, a procura de Deus, a humildade posta em prática, o amor a Deus e ao próximo traduzido em obras, a expansão de uma devoção que não cessa de crescer. Juazeiro é como um vasto santuário ao qual se dirigem os que tem fome e sede de Deus. Diziam os antigos que não existe juiz mais justo e reto do que o tempo. Este, sepulta as mediocridades invejosas, e enaltece os que em vida se distinguiram.
Não tenho a menor dúvida de que este justíssimo juiz, mais cedo ou mais tarde, justiçara aquele que, quanto mais o tempo passa, tanto mais se agiganta aos olhos da posteridade, enquanto que, todos os que intentaram debalde prejudicá-lo, jazem sepultos para sempre no olvido - termo natural para o qual sempre se dirige a maioria dos homens. Aliás, como prova da implacável justiça do tempo, tenha-se em vista que os caluniadores e hostilizadores acérrimos do nosso padim são recordados tão somente pelo lamentável fato de o terem sido!

(Trabalho originalmente publicado no jornal A Tarde, de Salvador, edição de 28.02.2012)

3 comentários:

  1. Bem ditas sejam as palavras de D.Samuel, pois o povo nordestino enaltece e clama o nome deste Nobre Filho de Deus, e Deus criou o homem segundo a sua imagem e semelhança, por tanto Padre Cícero é hj a imaginação pura de Jesus nosso Salvador, Ele também lutou a até a morte contra todos e contra tudo... pelos desvalidos, pelos pecadores,foi um líder político de sua época e ainda hjm mesmo tendo sido caluniado e morto na cruz com crueldade è o maior homem de toda história da humanidade... Por isso deixou seus descendentes do bem e Padre Cícero Romão sempre será para nós iamgem e semlhança do Senhor dos Senhores - Nosso Senhor Jesus Cristo.Cristo...

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  2. Tudo que se diz da verdade, sobre Padre Cícero Romão Batista, a quem eu reputo por venerável e santo, e estou convicto que nisto também não erro; é irrefutável testemunho de veredicção, verossimilhança e veracidade, que só a verdade dá de si própria. Nem poderia ser diferente neste caso, da confirmação da verdade, de um homem que foi imitação viva da própria Verdade, Jesus Cristo, Verbo de Deus, Ele próprio a Verdade! Verdadeiro é Deus, e não pode enganar-nos, nem deixar que sejamos enganados. E verdadeira é a santidade quanto presença do verdadeiro Deus, naquele que por Ele escolhido, demonstra possuir como dádiva verdadeira, este dom supremo, o dom da Verdade! Este texto magistral do piedoso D. Samuel, é um belo exemplo de quanto é também bela e boa, a própria verdade...Quanto temos prazer, em lermos um texto verdadeiro, que discorre acerca da verdade! Quanto bem nos faz à alma, falarmos sobre a verdade, ouvirmo-la e darmos acerca do que é verdadeiro, o assentimento interno, da própria verdade! Pois a verdade habita em nós, - já o reconhecia Aristóteles, lembrando que se há quem goste de enganar, ninguém há que goste de ser enganado!-; e a verdade é o nosso sumo anelo, o bem supremo! E de tal modo que, quando mentimos, ou somos pela mentira dominados, nos sentimos infelizes, desgraçados...Uma preciosa verdade que este texto nos permite reconhecer, - e a verdade é sempre um reconhecimento, de algo que já sabíamos, ou críamos, como bem ensinou Platão, caso contrário, como saberíamos ser verdade?-; é o de que Padre Cícero foi santificado originalmente, predestinado desde a origem, possuindo com a divina marca da escolha, o próprio dom da Verdade! Todas as evidências, tanto de que ele conservou-se pobre em meio às riquezas; casto, face à mundana sensualidade; humilde, e obediente, confrontado com poderosos do século e da eclesialidade...Provam que era verdadeira e viva a presença da Divina Verdade, do próprio Jesus, A Verdade, agindo nele, e por meio dele. O próprio fato de ser perseguido, contraditado, é prefigurado em Jesus e por Ele profetizado, como PROVA inconteste de que se está na verdade. Foi esse, segundo Nosso Senhor Jesus Cristo, o motivo dos homens não o amarem, não o seguirem e não o acatarem...Pois que amaram mais a mentira, que a verdade!

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  3. E todo aquele que o havia de seguir, pelos séculos dos séculos, passaria pelo confronto dessa rejeição, desse ódio, desse estupor coletivo; que reage, com veemente repulsão, contra todo aquele que é da verdade. Por outro lado, as massas seguiam Jesus, o amavam, como amam a Verdade. Pois que em todos os tempos, desprovidas de privilégios, de dissimulações e hipocrisias, de artifícios e tantos encobrimentos da verdade; estão as multidões, a populacha, mais próximas, força de hábito da espontaneidade, da própria verdade! Assim os pobres, o povo, as gentes, amavam também o Padre Cícero. Porque viam nele Cristo, A Verdade. Lendo e relendo neste blog os conselhos, que contêm a sabedoria do Padre Cícero, percebi num lampejo divino, intuição vívida e percepção imediata; que sua mística, sua oratória, sua palavra e porque não dizer, sua vivência da fé, eram portadoras do dom cristológico e soteriológico da Verdade. O Padre Cícero - podem estar certos disto!- mais do que professava a fé na Verdade, também amava a Verdade. Ele jamais forjaria embuste algum, sequer admitiria isso em sua consciência, tendo tão entranhado assim esse amor da verdade, que era o seu bem máximo, o Sumo Bem, que é Deus! O padre Cícero, tudo me leva a crer, foi atacado por mentes impregnadas de anticlericalismo, ateísmo , cientificismo, positivismo...Como por demais preconceitos intelectualistas, de um racionalismo dogmático, que até hoje, é presuntivo detentor; da MESMA infalibilidade, inerrância e absoluta posse da verdade, que contra os homens da Igreja atacava! Mas a verdade prossegue, - conquanto não seja de ninguém monopólio - e, quanto mais simples, mais acessível, mais universal se expressa; é também coerente e congruente, como marca de uma força, de uma realização, e efetivação supra-teórica, e bem pragmática. A verdade inaugurada por Cristo na história, ultrapassa o critério lógico e filosófico grego, de concordância entre a coisa dita e pensada e a significada. A verdade que introduz na história Cristo - e por isso Corbisier o declara o maior dos filósofos-; é a extensão máxima dessa concordância, à sua universalidade. Portanto, remissível ao sentido, à verificabilidade prática. Ora, este testemunho, essa "encarnação do Verbo", é que faz a testemunha, em grego, o "mártir"! E Padre Cícero é esse vivo Verbo, um "outro Cristo", Divino Mártir... Seu martírio é o da comunhão eucarística crística, do Cristo Encarnado na pobreza, na história, na vida dos excluídos, dos oprimidos...Ele próprio, imitador vivo e testemunha, do Mártir dos Mártires! Bem dizia Dom Hélder: "uma Igreja perseguida, é uma Igreja Fiel". Por causa da Verdade, entrou Pilatos no Credo, embora santo não fosse, nem a isso se dispusesse...E por causa da perseguição pelo Reino dos Céus, pela justiça do Reino de Deus, está Padre Cícero hoje, rebrilhante luzeiro, fúlgido luminar, da santidade glorificada, no meio da Corte Celeste! Se pudéssemos resumir o esplêndido testemunho da Verdade, tanto de Cristo , A Verdade, aos seus detratores, num só veredito; veríamos com espanto que é o mesmo do Padre Cícero aos seus acusadores: Eu preguei quarenta anos. Quem me ouviu bem e quem não me ouviu, não ouve mais. Quem quiser saber do que eu disse, procure saber de quem me ouviu.FONTE: Padre Cícero, a sabedoria do conselheiro do sertão, de Daniel Walker. Não poderia ser diverso do que A Verdade, Jesus Cristo, deixou-nos como testamento no Evangelho:"Jesus lhe respondeu: Eu falei abertamente ao mundo; eu sempre ensinei na sinagoga e no templo, onde os judeus sempre se ajuntam, e nada disse em oculto.

    Para que me perguntas a mim? Pergunta aos que ouviram o que é que lhes ensinei; eis que eles sabem o que eu lhes tenho dito.
    João 18:20-21" .COMO DIZIA SÃO PAULO, "Nada podemos contra a Verdade".(II Coríntios 13,8)"Senão pela própria Verdade".

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