quinta-feira, 5 de abril de 2012

O PADRE CÍCERO E A EDUCAÇÃO EM JUAZEIRO DO NORTE - Por Alacoque Bezerra

A princípio era a grande Fazenda Tabuleiro Grande, onde um velho Brigadeiro extasiava-se ao contemplar o verde da paisagem e o seu rebanho pastando tranquilamente na imensidão da fartura no capinzal florescente, e a beleza do céu, infinito, que ofuscava a visão, tornando tudo maravilhosamente belo.
Depois uma capelinha, a imagem de Nossa Senhora das Dores, e três juazeiros, em frente à mesma, que constituíam o repouso refrescante dos feirantes que vinham de outras localidades.
Foi quando um sacerdote veio celebrar uma missa do Natal, que teve início toda a vida de Juazeiro, minha terra natal.
Esse Sacerdote, que, ao escrever seu nome, elevo aos céus os olhos, pedindo-lhe sua proteção, era o Padre Cícero Romão Batista.
Juazeiro é a representação viva do Nordeste brasileiro. Foi injustiçado no seu início e adolescência, mas vistoriando o presente, apesar dos seus grandes problemas.
Fatos de natureza estranha, de ordem psicológica, abriram caminho para esta terra indomável, solidária e generosa, que se ufana de ser o Santuário do Nordeste, com a fé do povo e abrigo dos seus romeiros.
Por que no Ceará, somente Juazeiro representava para aquela gente a esperança, o lenitivo de males irremediáveis do espírito e corpo?
Lá estava à espera dos pobres, dos miseráveis, dos desesperados, um virtuoso sacerdote, o Padre Cícero, cujos episódios religiosos envolveram sua personalidade em um halo de crendices e lendas.
Não se pode negar que muitos lá chegaram com a alma povoada de angústia, sofrimento e desespero. E encontraram tranquilamente, amor e perdão. A preocupação do grande levita era abrangente demais. Preocupava-se acima de tudo com a juventude, abrindo-lhe escolas para o desenvolvimento espiritual, sua maior riqueza.
É ela, a educação, que firma o desenvolvimento integral do homem. Educar integralmente é deixá-lo em plenitude, é prepará-lo para a vida, onde a pureza dos sentimentos se confunda com o azul imenso que carrega nossa visão ao vislumbrarmos o horizonte.
O precursor da nossa educação foi aquele que comandou nossa cidade com o coração.  Cada escola que criava, ou fundava, era facho luminoso numa cidade que crescia sob suas bênçãos e anseios.
Assim, foi que Zé Marrocos iniciou sua tarefa de professor. A professora Izabel da Luz tinha todas as credenciais de Educadora, dada a sua maneira de conduzir e conhecer a criança.
Para as crianças órfãs e abandonadas, fundou o Orfanato Jesus Maria José, para ampará-las, dando-lhes uma educação apropriada, conforto material e espiritual.
Ambientou toda a cidade com escolas. E para continuísmo da sua vocação e desejo perene, doou a metade da sua fortuna à Ordem Salesiana, educadora por princípio, para que, após sua morte, fossem fundados aqui Colégios Salesianos para meninos e meninas com lº e 2º graus completos.
Depois, com sua ajuda, foram construídos o grupo Escolar Padre Cícero, Escola Normal Rural e várias unidades escolares. Após essas, surgiram unidades de 1º e 2º graus completos como Ginásio Municipal Xavier de Oliveira, Maria Amélia Bezerra, José Bezerra de Menezes, Colégio de 2º Grau Governador Adauto Bezerra, Ginásio Polivalente Presidente Geisel e muitas outras na zona rural.
Hoje a escolaridade atende a 90% do alunado carente. Tudo isso com a anuência mesmo do alto, onde habita nosso grande levita. Depois, com a grande quantidade de escolas, e sendo Juazeiro um centro populacional emergente, foi criada a 5ª Delegacia Regional de Educação, sediada aqui, com abrangência de 15 municípios.
Sendo eu a 1ª Delegada, pude ver e sentir de perto como é essencialmente vocacional a arte de educar. Educar é, portanto, a arte de estimular o esforço máximo dentro das possibilidades de cada um. O esforço intenso traz contentamento consigo mesmo, e a euforia faz recomeçar o esforço.
Em nossa vida, as lembranças que rebrilham cintilantes são os momentos de inteira e apaixonada aplicação de nossas energias, os momentos de superação. Se o menino é inteligente, não podemos aceitar trabalho medíocre; seria favorecer o subdesenvolvimento.
Cultivar ao máximo as capacidades pessoais leva o indivíduo à criação e à renovação, dando-lhe gosto e meios para determinar progresso científico e social. Por um lado, o educador deve dar tudo quanto a criança precisa; carinho e firmeza, ambiente de compreensão e harmonia, amor, pois o amor é mola mestra de toda força educativa. Deve também dar meios materiais suficientes para suas atividades variadas, presença não só do corpo, mas de participação da alma.
Por outro, o educador deve saber o que pode receber: boa vontade e mentalidade de servir para com os outros, capacidade de superar a contrariedade, o tédio, de aceitar o sacrifício como meio de crescimento, iniciativas no sentido de auto-suficiência; desejo intenso de realizações significativas, elaboração de uma escala de valores.
Os pais esperam demais ou de menos dos seus filhos. Compete ao professor explicar, claramente, o que se tem direito de esperar de cada. Eis a grande tarefa do professor: é se basear nessa filosofia sã - "Um grande impossível se divide em uma série de pequenos possíveis, e só não erra quem nunca experimen¬tou fazer coisas difíceis!"
Aqui está uma pequena síntese do que foi o Padre Cícero no setor educacional da nossa cidade e minha pequena participação no seu conteúdo humano social.

AUTORA. Alacoque Bezerra de Menezes, filha de tradicional família juazeirense, professora, escritora, primeira senadora cearense.

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